Árvores expõem degradação do Minhocão

Na estrutura acinzentada do elevado Costa e Silva, o Minhocão, na região central de São Paulo, ao menos 20 árvores brotam do concreto. O que para a cidade poderia ser um bom sinal, para o elevado, inaugurado há exatos 42 anos, é uma ameaça à sua estrutura.

“O crescimento de uma árvore é grave indício de que há muita infiltração de água”, afirma Karen Niccoli Ramirez, doutora em engenharia de estruturas pela USP, que visitou o local a pedido da Folha.

A água é o elemento mais danoso a uma estrutura de concreto, diz Paulo Helene, professor aposentado da Poli-USP e especializado em patologias de construções.

E a árvore, segundo ele, é uma “demonstração cabal” de que há anos o local não sofre nenhum tipo de inspeção, manutenção preventiva nem limpeza adequadas.

Isso significa que, se nada for feito entre dois a cinco anos, a estrutura do Minhocão poderá ficar comprometida, disse Helene.

TONELADAS

O tipo de árvore que cresce no Minhocão ajuda a piorar o cenário. A maioria é da espécie Ficus microcarpa, ou figueira-lacerdinha.

De acordo com o botânico Ricardo Cardim, essas figueiras funcionam como um macaco hidráulico enquanto crescem e são capazes de mover toneladas.

“É impressionante como elas crescem rápido no meio do cimento”, diz o despachante Sandro Hermínio da Silva, 39, que trabalha em frente a uma das árvores.

A solução, segundo Cardim, exige não apenas a poda das árvores, mas a aplicação de herbicida para evitar que nasçam de novo.

“A ponte dos Remédios tinha uma arvorezinha lá e deu no que deu”, diz Helene, em alusão ao desabamento de parte da estrutura da ponte, na marginal Tietê, em 2011, o que interditou o local e causou problemas ao trânsito.

SINAIS

Há outros sinais de que o Minhocão carece de reforma, afirmam os engenheiros. Um deles é a ferrugem, também resultante de infiltração, que dá cor alaranjada à área.

“Se isso se prolongar, há risco de as peças não suportarem o peso para o qual foram projetadas. Eles [a prefeitura] devem fazer vistoria na captação e no escoamento da água porque não está sendo feito corretamente”, diz Karen Niccoli Ramirez.

As juntas de dilatação são outro ponto que merece atenção e eventualmente substituição, afirma Paulo Helene.

OUTROS PROBLEMAS

A reportagem percorreu todos os 3,4 km do elevado e encontrou outros problemas.

Das 99 caixas de postes de luz existentes, 63 estavam intactas e 36 com fios expostos ou quebradas.

Muitas telas de proteção do viaduto, que evitam uma queda de 5,5 m, têm defeitos. Ao menos 198 estavam abertas, quebradas ou queimadas.

No local mais crítico, no acesso pela rua Helvétia, há 66 grades sem alambrado. Em vez de proteções, foi instalada uma cerca com arame e lâminas, que podem ser alcançadas até pelas crianças que usam a via para lazer aos domingos.

Placas colocadas nos tetos dos pontos de ônibus nas marquises do elevado escondem um pouco da umidade do local, mas também apresentam problemas.

Foram identificados 48 espaços de onde caíram as peças, que podem atingir carros ou até pedestres à espera de um coletivo.

Na parada Nothman, na altura do 1.956 da avenida São João, faltam 19 delas.

A última reforma da prefeitura no Minhocão foi há dois anos. A obra previa o conserto da drenagem, dos bueiros entupidos, pintura antigrafite e correção das infiltrações. O custo foi de R$ 990 mil.

Autor: Folha de S.Paulo