Alimentos florestais podem ajudar a solucionar o problema de fome mundial

Cerca de uma em cada nove pessoas do muno passa fome, a maioria vivendo na África ou Ásia. As florestas do mundo têm grande potencial para melhorar e garantir a nutrição e o sustento destas pessoas. Inclusive, as florestas podem ser essenciais para garantir a segurança alimentação global, particularmente quando se considera a importância de uma dieta balanceadamente diversificada e nutritiva.

As florestas são importantes para proteger a biodiversidade e para suavizar os efeitos das mudanças climáticas. Isso já é bem conhecido. No entanto, a contribuição que elas podem dar para aliviar a fome e melhorar a nutrição tem, de alguma forma, sido negligenciada. Um estudo recente do Global Forest Export Panel on Forests e Food Security mostra como florestas e árvores podem complementar a produção agrícola e impulsionar a economia das regiões mais vulneráveis do mundo.

Quatro maneiras de as florestas beneficiarem a segurança alimentar
As árvores alimentícias são ricas em vitaminas, proteínas e outros nutrientes e são associadas a dietas mais variadas. Por exemplo, o ferro encontrado em sementes secas de alfarroba e castanhas é comparado, ou até maior que o encontrado em carne de frango. Árvores em jardins caseiros, encontradas aos montes na África e na Ásia, aumentam o consumo de frutas e vegetais. 

A carne de animais selvagens, peixe e insetos também são importantes fontes alimentícias da floresta. Insetos são especialmente baratos e fontes abundantes de proteína e gordura. Lagartas são ótimas fontes para vitaminas e minerais. No sudeste da Ásia, em particular, muitas florestas e agroflorestas (fazendas de árvores) são mantidas por comunidades locais que melhoram a produção de insetos comestíveis, como a manutenção de palmas sagu na Papua Nova Guiné e na Indonésia Oriental para auxiliar na produção de larvas. 

As florestas também são fontes essenciais de lenha e carvão. Em países em desenvolvimento, 2,4 bilhões de pessoas ainda usam lenha como combustível para cozinhar e se aquecer. Na Índia e no Nepal,mesmo as melhores casas de fazenda dependem deles. O preço volátil e muitas vezes alto de outras fontes de energia mostra que essa situação talvez dure algum tempo. O acesso à combustíveis para cozinhar trariam uma maior flexibilidade ao cardápio das pessoas, incluindo alimentos mais nutritivos que precisam de mais energia para cozinhar. 

As árvores oferecem a vários de serviços ecológicos. Por exemplo, elas auxiliam abelhas e outros polinizadores, que são essenciais para a produção de colheitas em fazendas. Elas também geram alimento para animais que permitem às comunidades produzir carne e leite, além de proteger o habitat de peixes, como córregos e bacias hidrográficas. 

Cerca de uma em cada seis pessoas usa diretamente as florestas como fonte de renda e alimentação, e é importante reconhecer os diretos das pessoas locais a estas opções de sustento. No Sahel, por exemplo, árvores podem contribuir em até 80% da renda familiar, especialmente pela produção de karité.

Iniciativas inovadoras tentam desenvolver novas árvores para que os mais pobres possam conseguir fontes de renda sustentáveis. Por exemplo: produtores pobres da Tanzânia se comprometeram a um esforço global para produzir sementes de Allanblackia, que carregam em si um óleo comestível. A parceria público-privada conhecida como Novella Africa desenvolve um negócio sustentável do óleo de Allanblackia que pode valer milhares de dólares anualmente aos fazendeiros locais.

Da floresta para a fazenda 

Apesar das florestas não serem uma panaceia para a fome global, elas têm um grande papel que complementa a produção das fazendas. Isso é especialmente importante quando o suprimento de alimentos se encontra debilitado por secas, preços oscilantes, conflitos armados e outras crises.

Enquanto produções de larga escala ainda são importantes, elas continuam muito vulneráveis a climas extremos, que tendem a ocorrer com maior frequência dadas as mudanças climáticas. As fazendas de árvores podem se adaptar melhor a essas calamidades. Durante períodos de poucos suprimentos que decorrem destes eventos climáticos, alimentos de florestas pode providenciar uma segurança vital, especialmente para famílias mais pobres.

Esta conexão floresta-fazenda também significa que a perda e degradação da floresta aumentam o problema da insegurança alimentar. Perder florestas põem em risco “serviços ecológicos” como o abastecimento de água potável, crucial para o cultivo de colheitas e pecuária. Administrar estes espaços rurais de maneira funcional que combina produção de alimentos, a manutenção de serviços do ecossistema e outros serviços da terra deveria ser uma prioridade no intuito de atingir a segurança alimentar mundial.

No final deste ano estaremos próximos da finalização dos “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, e a contribuição das florestas e sistemas de árvores do “Desafio Fome Zero” precisa ser enfatizada. Eles podem providenciar dietas melhores e mais balanceadas, maior controle de insumos alimentares — particularmente durante temporadas mais secas e períodos de vulnerabilidade (especialmente para grupos marginalizados) — e entregar serviços ecossistêmicos para colheitas. Estes programas serão parte importante dos esforços para lidar com a fome mundial.

Bhaskar Vira é conferencista de Política Econômica no Departamento de Geografia e Companheiro da Faculdade de Fitzwilliam; É diretor do Instituto de Pesquisa e Conservação da Universidade de Cambridge na Universidade of Cambridge.

Este artigo foi originalmente postado na The Conversation. Imagem de capa por Erik Herman sob licença Creative Commons.

Autor: GizModo