Pesquisas de engenheiros do Instituto de Engenharia de São Paulo e do Grupo Raízen entusiasmam o setor privado, que vê mais uma alternativa para o H2V. E mais: 1) Chuvas atrasam CE-155; 2) Lagosta terá indústria moderna de beneficiamento.
Reunido desde 2003 no Instituto de Engenharia de São Paulo, um quarteto de mentes superdotadas está desenvolvendo pesquisas, já em estágio avançado, sobre a produção de células de Hidrogênio Verde extraídas do brasileiríssimo etanol de cana-de-açúcar.
A ideia dos engenheiros Luiz Célio Bottura, Armando Carrari, Vernon kohl e Leonam Guimarães, que hoje preside a Eletronuclear, é gerar energia limpa. Esse quarteto deu-se o nome de “Etanóis”, um apelido claramente de origem corintiana.
Simultânea e coincidentemente, o Grupo Raízen, do qual são sócias a multinacional holandesa Shell e a brasileira Cosan, anuncia que também desenvolve pesquisas sobre o H2V com base no etanol.
O CEO da Raízen, Ricardo Mussa, não tem dúvida de que é do etanol que o Hidrogênio Verde ganhará escala para tornar-se o combustível do futuro.
Mussa fala com entusiasmo da cana de açúcar e faz comparações:
“A soja produz três toneladas por hectare; o milho, oito, nove toneladas. A cana de açúcar produz 90 toneladas por hectare, com potencial de fazer 160 toneladas”, prevê ele.
Falando ao canal da Exame.com no YouTube, Ricardo Mussa revela que a Raízen está utilizando “uma tecnologia de segunda geração, a E2G”, e esta é a razão pela qual impressionam esses números sobre produção e produtividade.
E há uma vantagem ambiental de fazer inveja: hoje, o Brasil domina a melhor tecnologia do mundo para produzir cana de açúcar, sem acrescentar um só hectare ou um só novo pé de cana a mais para fazê-lo, como diz Ricardo Mussa.
No site da Raízen está escrito:
“Somos uma empresa integrada de energia, referência global em bioenergia. Joint venture entre a Shell e a Cosan, sendo a quarta empresa em maior faturamento no Brasil, somos a maior produtora de etanol a partir da cana-de-açúcar no mundo, além de produzirmos açúcar e bioenergia.
“Distribuímos combustíveis e, também, os comercializamos em postos do Brasil e da Argentina, por meio dos parceiros de revenda Shell. Investimos em inovação para expandir a oferta de energia limpa. Assim, trabalhamos pela liderança na transição energética (passagem da energia fóssil para as renováveis) e para redefinir o futuro da energia.”
Por sua vez, os quatro engenheiros paulistas do “Etanóis” — segundo informa Luiz Célio Bottura em mensagem a esta coluna — trabalham para viabilizar “a hidrodução do Brasil na rota do Hidrogênio tendo como fonte energética o milho grosso etanol, possível de ser abastecido em qualquer um dos 30 mil ou mais postos espalhados pelo território nacional — nada de infraestrutura para levar o Etanol em todos os recantos”.
Bottura acrescenta:
“Nós avançamos mais fundo, e nossos estudos viabilizaram a geração de energia localizada, mostrando-se, ainda, bem aplicável para substituir os geradores a diesel nas indústrias, comércios, condomínios e até nas residências. Um remédio para os apagões ou para energizar a rede distribuidora nacional. Com uma outra vantagem: trata-se de tecnologia exportável.”
Mas há outra boa notícia. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência publicou em seu site um artigo do professor Ennio Peres da Silva, coordenador do Laboratório de Hidrogênio da Unicamp, no qual está escrito o seguinte:
“A obtenção do hidrogênio a partir do etanol pode ser realizada através de diversos processos, entre eles o de reforma-vapor, no qual este composto reage quimicamente com a água, produzindo uma mistura gasosa cujo componente principal é o hidrogênio. A eficiência desse processo situa-se na casa dos 80%.
“Uma vez disponível, esse hidrogênio pode ser utilizado energeticamente em motores de combustão interna, turbinas a gás e células a combustível. Este último dispositivo é um reator eletroquímico que converte o hidrogênio e o oxigênio do ar em eletricidade, calor e água, com elevada eficiência de conversão (em torno de 50%).
“A energia elétrica produzida nas células a combustível pode ser empregada para uso veicular, caracterizando-se como uma forma alternativa do uso do etanol em veículos de passeio. Pode ser empregada também em aplicações onde o etanol não vem sendo utilizado diretamente, como veículos pesados (ônibus e de carga) e geração distribuída de eletricidade (sistemas isolados e rurais, sistemas complementares à rede elétrica, de segurança etc).
“Como se pode perceber, a eficiência global da combinação etanol, hidrogênio e veículos com células a combustível está por volta de 40%, quase o dobro daquela verificada nos veículos com motores de combustão interna a álcool (cerca de 25%), sendo que em todo seu ciclo de produção e utilização não há praticamente nenhuma emissão de poluentes.”
Com a ajuda da ciência, o mundo trocará, mais rapidamente do que o estimado, o petróleo e seus derivados poluentes por energias limpas e renováveis. E o nosso etanol dará sua contrinuição.