Transformar carrinhos de plástico simples, dando a eles novas funcionalidades para ajudar na mobilidade de crianças com deficiência. Essa é a proposta do projeto Adapt, da cidade de Juiz de Fora, a cerca de 260 km de Belo Horizonte.
A iniciativa é uma parceria entre as faculdades de fisioterapia e engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e conta atualmente com uma equipe de 25 pessoas, entre professores, estudantes e membros externos.
A professora da faculdade de fisioterapia da UFJF e coordenadora do projeto, Paula Chagas, diz que a iniciativa em Minas Gerais tem o diferencial de pegar carrinhos simples, sem motor e fazer todo o trabalho, desde a motorização até as adaptações para que as crianças com deficiência possam utilizá-los.
“A nossa proposta é pegar carrinhos de criança, que são empurrados, mais baratos e fazer toda transformação pra ele ser motorizado. E a gente quer tentar fazer isso com o custo mais baixo possível, para ser acessível às famílias. Um carrinho motorizado custa mais de R$ 1.000, isso é inacessível para muitas famílias”, diz a coordenadora.
Inspirada no projeto Go Baby Go, da Universidade de Delaware nos Estados Unidos, a ideia chegou a Juiz de Fora por meio da fisioterapeuta Andréa Januario, amiga de Paula. Ela conheceu a iniciativa americana em um evento em 2019 e apresentou para os pais de seus pacientes.
David Silva, técnico em eletrônica na universidade e pai de uma das pacientes de Andréa, após ver os carrinhos resolveu fazer um desses para sua filha. Com o resultado positivo, eles se juntaram à Paula para institucionalizar o projeto na UFJF e atender mais pessoas.
A primeira criança a ser auxiliada pelo projeto Adapt foi Fernanda, 4, que tem paralisia cerebral. De acordo com a mãe, Lívia Alonso, a terapia com o carrinho já tem mostrado resultados positivos.
“Como o carrinho traz uma movimentação, um deslocamento, ele é um estímulo muito grande pra ela. A gente já tinha tentado usar outros brinquedos de ação e reação e sentimos muita dificuldade dela. Depois do carrinho, a gente percebeu que a percepção está diferenciada, ela já começou a entender os outros brinquedos.”
Atualmente, Lívia é voluntária no projeto, atuando na equipe que fará a seleção e acompanhamento das próximas famílias beneficiadas. Além disso, ela também dá feedbacks quanto ao uso do equipamento por sua filha.
De acordo com Paula, o projeto depende diretamente do retorno das famílias. “Quando eles forem receber o carrinho, vão assumir o compromisso de aceitar nosso contato constante. A gente tem que saber se está dando certo, se eles estão usando, se precisa de outra adaptação no carrinho. Isso vai ser avaliado periodicamente”, explica a coordenadora.
O programa possui quatro critérios de elegibilidade. O primeiro é a idade das crianças, até seis anos, devido ao tamanho dos carrinhos.
O projeto também é voltado apenas para crianças que não podem andar. O terceiro critério é capacidade de fazer algum movimento para acionar o dispositivo. O último requisito é o espaço físico na residência para utilização do equipamento.
“O carrinho não é apenas um brinquedo, ele é uma terapia para ser feita em casa. A criança precisa praticar essa atividade com frequência para ter benefícios. Os estudos mostram que se ela tiver uma prática constante pode ter um desenvolvimento motor, cognitivo e social”, afirma Paula.
Para a adaptação dos carrinhos são utilizados materiais novos e reaproveitados, como motores de para-brisa de carro, baterias de moto, tubos de PVC e outros materiais. Segundo David, eles mesmos procuram esses equipamentos em ferros-velhos e compram equipamentos que precisam ser novos, como acionadores e baterias.
Os primeiros protótipos criados custaram entre R$ 200 e R$ 300, que foram pagos pelas próprias famílias. Atualmente o projeto conseguiu a doação de 10 carrinhos para receberem as adaptações e busca o apoio de emendas parlamentares e empresas parceiras para ampliar a oferta dos carrinhos para mais crianças.