Responsável por cerca de 8% das emissões globais de gases de efeito-estufa, a indústria do cimento tem ficado para trás na corrida rumo ao baixo carbono devido às limitações tecnológicas para tornar sua fabricação limpa.
O principal entrave é que, mesmo que os combustíveis fósseis sejam substituídos no processo, a produção de cimento em si envolve o aquecimento do calcário, com consequente liberação de CO2, o que responde por dois terços das emissões do processo.
As tentativas de neutralizar as emissões da indústria até agora envolveram separar o CO2 de uma mistura de gases para capturá-lo e enterrá-lo no subsolo, o que custa caro.
Mas uma empresa australiana de tecnologias de descarbonização diz estar pronta para escalar uma solução de custo mais baixo para resolver esse desafio.
Em vez de separar a mistura de gases, justamente a parte mais cara da captura de carbono, a Calix usa um novo tipo de forno que aquece o calcário sem a necessidade de outros gases — e com a possibilidade de uso de energias limpas. O calcário entra por um lado e o CO2 puro sai pelo outro.
Depois de dois anos de testes em uma planta-piloto na Bélgica, hoje a australiana anunciou a entrada de um novo investidor que vai deslanchar uma nova fase do projeto.
A Carbon Direct, uma empresa baseada em Nova York que investe em tecnologias de descarbonização, injetou US$ 18 milhões para ficar com 7% da sua unidade de tecnologia de captura de carbono, batizada de Leilac Group, que detém a licença da tecnologia.
Em reação ao anúncio, as ações da Calix, que tem outros negócios como de tratamento de água, dispararam mais de 40% na bolsa de Sydney.
Uma planta de demonstração em maior escala, com capacidade para capturar até 100 mil toneladas de carbono por ano, começará a operar na Alemanha em 2023, com apoio financeiro da União Europeia e da Heidelberg Cement, uma das maiores cimenteiras do mundo.
O setor de cimentos emite nada menos do que 4 bilhões de toneladas anuais de CO2, sendo que dois terços disso vem justamente do processo de aquecimento do calcário.
Conforme a tecnologia seja escalada, a expectativa é que a Calix colha gordos lucros.
Como parte do acordo para a criação da nova divisão e entrada da Carbon Direct, a australiana fixou o direito de reter 30% dos royalties recebidos pela Leilac Group, mesmo com a entrada de novos sócios e investidores.
“Na medida em que o mundo implementar esquemas de comércio de emissões de carbono, começará a aparecer um mercado multibilionário”, disse Phil Hodgson, CEO da Calix, à Reuters.