Grande parte dos oceanos ainda é desconhecida. O mapeamento dos mares é importante para compreender suas características, como relevo, biodiversidade e possíveis utilizações. Alguns países ricos, como Itália e Japão, investem na exploração, mas o Brasil ainda está atrasado. Segundo especialista, a exploração dos mares pode garantir avanços tecnológicos importantes para o País, mas para colocar em prática é preciso investimento em pesquisa.
No Especial Oceanos desta semana, Michel Michaelovitch de Mahiques, do Departamento de Oceanografia Física, Química e Geológica do Instituto Oceanográfico (IO) da USP, explica que há alguns desafios para explorar os mares, principalmente quanto à visibilidade, porque o fundo marítimo tem pouca incidência de luz. A solução é utilizar tecnologias acústicas para “enxergar” por meio do som. “Essa tecnologia só começou a ser desenvolvida nos anos 20, com a expedição de um navio alemão. Com o desenvolvimento tecnológico, temos a oportunidade de conhecer cada vez mais, mas a área a ser explorada ainda é gigantesca. Tem muita carência de informações sobre o relevo submarino, biodiversidade e o que isso representa para o conhecimento científico”, compartilha em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Quando se pensa em exploração, geralmente vem à mente os recursos minerais ou a biodiversidade, mas vai além disso. Um exemplo é a rede de cabos submarinos de internet responsável por conectar o mundo inteiro. “Boa parte do tráfego de internet que acontece no mundo é feito através de cabos submarinos. Para instalar, é preciso conhecer o relevo do fundo para que não ocorra nenhum acidente. Isso demanda um conhecimento detalhado. Hoje em dia não é só o petróleo, existem áreas muito ricas em metais estratégicos, como o cobalto, então existem várias derivações da importância de se estudar o fundo do mar”, informa o professor.
A geopolítica tem papel fundamental quanto às convenções sobre o direito do mar. Alguns limites são estabelecidos: o mar territorial estabelece o limite sobre o qual o país tem autonomia, cerca de 20 km; há também a zona econômica exclusiva, com cerca de 370 km, em que os países precisam apresentar seus recursos vivos passíveis de exploração, a fim de adquirirem prioridade; e a plataforma continental jurídica, localizada no fundo do mar, em que os países determinam os próprios limites. Existem ainda depósitos minerais fora dessas plataformas e alguns países podem solicitar abrangê-los para explorar. O Brasil pleiteia englobar uma região conhecida como Rio Grande, localizada no oceano Atlântico. O lugar é rico em metais estratégicos. “Se é aceito que essa área pertença à plataforma continental jurídica, o Brasil passa a ter prioridade na exploração desses recursos”, afirma Michaelovitch.
Conforme o especialista, o Brasil já participou de alguns programas de mapeamento, mas, infelizmente, foram descontinuados. “Falta uma sistemática, um programa de Estado para que possamos conhecer o fundo marinho. Um dos poucos mapeamentos que houve, um dos mais fantásticos, foi a descoberta de recifes na plataforma do Amazonas, isso feito por brasileiros.” O apoio a instituições de fomento à pesquisa é um dos meios para garantir o aumento dos conhecimentos científicos brasileiros. “Na USP, temos um programa de mapeamento, financiado pela Fapesp e a Shell, que descobriu feições de fundo na frente de São Sebastião, muito perto da costa, em grande profundidade. Encontramos carbonatos muito ricos do ponto de vista da biodiversidade.”