Além do aumento no custo da energia elétrica, a crise hídrica enfrentada pelo país e o baixo nível dos reservatórios de água na bacia dos rios Tietê e Paraná também tornará mais caro escoamento da safra este ano. Considerado um dos principais corredores logísticos do país, o sistema tem sido alvo de disputa entre hidrelétricas e o setor de transporte hidroviário, que já opera com 90% da sua capacidade de carga, devido à redução do calado para navegação nos pontos mais críticos da hidrovia.
“Já está havendo restrição e a gente está em constante negociação com a Agência Nacional de Água e todos os entes envolvidos”, conta o presidente do Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp), Luizio Rizzo Rocha. A entidade se reuniu nesta quarta-feira (30/6) com o Ministério da Infraestrutura para debater a manutenção da navegação na hidrovia.
“Na verdade, eles queriam parar a hidrovia agora em 2 de julho, porém estamos negociando e já estamos garantindo a navegação até agosto. Agora vamos sentar com o pessoal para negociar a continuidade a partir daí”, explica Rocha.
A manutenção da navegação, contudo, não impede a restrição no volume de cargas. Com o baixo nível da bacia, as embarcações têm operado com um calado de 2,7 metros, o que permite uma carga máxima de até 5,4 mil toneladas quando o normal seriam 6 mil. A restrição, em vigor até meados de julho, deverá ser revista pelo Ministério de Infraestrutura. A proposta dos armadores é para que seja mantido um nível mínimo de navegação e que, nos trechos mais críticos, onde o calado não passa de 2,4 metros, seja aproveitada a vazão de água da hidrelétrica de Nova Avanhadava para permitir a navegação.
“Com essa redução vamos viajar com 4,6 mil toneladas mais ou menos. A gente não quer parar a hidrovia. A gente vai sacrificar um modal nosso, viajar com um pouco menos e aí, com cada um sacrificando um pouco, a gente vai tentar não parar. Mas está difícil”, explica o presidente do Sindasp.
Com 2,4 mil quilômetros de extensão, sendo 1,6 mil quilômetros no rio Paraná e 800 quilômetros no rio Tietê, a hidrovia transporta cerca de 9 milhões de toneladas de carga por ano, atendendo principalmente os setores de grãos, cana-de-açúcar e florestas plantadas nos Estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e Paraná.
Em uma carta aberta enviada ao governo, oito entidades do setor logístico e agropecuário, entre elas a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) e a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), lembram da última crise hídrica enfrentada pelo país, em 2014/2015. Naquele ano-safra, a navegação comercial ficou paralisada durante 22 meses na hidrovia causando um prejuízo estimado em mais de R$ 1 bilhão.
“A gente parando, o produtor vai pagar um frete maior, o consumidor vai pagar um preço maior, o que vai pressionar o preço da carne e de tudo que depende do farelo da soja, do milho. E isso acaba aumentando pra gente também. Somos nós que vamos pagar essa conta na nossa mesa”, alerta Rocha.