Temos uma bomba relógio se formando debaixo de nossos pés. Por um lado, vemos uma economia que ainda não encontrou seu caminho de mais crescimento, baseada em atividades de pouco valor agregado e com taxas de desemprego por volta dos 12%.
Por outro, vemos setores em plena expansão, crescendo a taxas que parecem fantasia e sofrendo muito para conseguir preencher suas vagas de trabalho com profissionais de áreas como engenharia e computação. Só no setor da tecnologia da informação e comunicação, as estimativas indicam que a demanda por profissionais, entre 2018 e 2024, será de mais de 400 mil vagas. E o pior, não estamos conseguindo formar estes profissionais.
Para efeito de comparação, em 2018 a China formou mais de 8 milhões de pessoas sendo que mais da metade delas nas áreas de ciências, tecnologia, engenharia e matemática. Estes profissionais são os mais procurados pelas indústrias de alto crescimento e fazem parte de uma importante engrenagem de prosperidade para a região. Aqui no Brasil temos colocado, apenas, cerca de 100 mil engenheiros no mercado de trabalho a cada ano.
Como temos discutido aqui em vários de nossos papos, tecnologia tem sido uma das principais forças de transformação da sociedade e da economia no mundo todo. Estas mudanças não dão sinais de que pararão tão cedo. Ainda temos muita pessoas – quase metade da população mundial – para serem conectadas à internet e a grande maioria das atividades ainda não passaram por sua transformação digital. Esta mudança está em curso e com ela a demanda por profissionais com as qualificações adequadas só aumentará.
Estimular a formação destes profissionais passa a ser uma questão estratégica. A grande questão é que não estamos fazendo um bom trabalho em estimular a formação de profissionais nestas áreas.
A quantidade de profissionais sendo preparados é muito menor do que a dos países desenvolvidos e de emergentes como China e Índia e isto vai fazer com que o Brasil fique ainda menos competitivo.
Não menos importante, no atual contexto da demanda por estes profissionais, formar um estudante numa destas áreas significa colocá-lo em condições de encontrar um emprego que pague bem e que pode ter um impacto gigante em sua vida. E isto muda o jogo! Não só estamos falando de mais empregos, mas também de empregos mais qualificados.
Já passou da hora de fazermos algo para tentar desarmar esta bomba. Precisamos, já, de mais engenheiros, programadores, cientistas e matemáticos!
Por Manoel Lemos, sócio do Fundo Redpoint eventures
Fonte O Estado de São Paulo