Domingo e segunda-feira foram dias de faxina na nova Estação Antártica Comandante Ferraz. Com cerca de 90% da obra pronta, a base de 4,5 mil m² destinada principalmente a pesquisadores e militares já está nos acabamentos. Parte dos contêineres que atrapalhavam a paisagem quando o Estado a visitou, há duas semanas, foi retirada e acabaram de ser entregues o parque de tanques de óleo, o heliponto e o local de guarda de materiais de mergulho.
“Vamos em breve iniciar o comissionamento de toda a estação”, explica o responsável pela construção, Geraldo Juaçaba. Isso significa examinar e calibrar os sistemas hidráulico, elétrico, de segurança, de automação, de reabastecimento e de tratamento de água e esgoto.
A estação está sendo preparada para funcionar como minicidade, com direito a plano diretor, com definições do que pode ou não ser feito nos arredores e em toda a Península Keller. “Onde tem musgo, por exemplo, não pode construir. Local com ninho de ave também é vetado para obras”, explica Cristina Engel, coordenadora do projeto Arquiantar.
Segundo ela, a nova estação reúne tecnologias já testadas em bases de outros países. Serviram de inspiração a indiana Bharati, a americana Amundsen Scott, a belga Princess Elizabeth, a alemã Neumayer III, a inglesa Halley VI e a espanhola Juan Carlos.
Alguns modelos foram mantidos da base brasileira anterior, destruída pelo fogo em 2012. O sistema de esgoto permite eliminar 90% dos dejetos com aquecimento, aeração e decomposição por bactérias. A água suja é bombardeada com raios ultravioleta. Já as chamadas águas cinzas, de chuveiro, tanque e máquina de lavar, passam por filtragens até poderem ser reaproveitadas em vasos sanitários e limpeza.
O Brasil também já tinha experiência com resíduos sólidos. Na Antártida, a maior parte do lixo é incinerada para que não tenha de ser levada de volta ao País, o que custa caro. “É o lixo mais caro do mundo”, resume Cristina.
A estação terá um sistema inovador de energia: uma central de inteligência capaz de gerenciar os sistemas eólico, fotovoltaico, a diesel e de cogeração, que usa todo o calor produzido para aquecimento. Ensinar o grupo que mantém a estação a usá-lo será uma das tarefas.
Além de 16 militares brasileiros, ficarão na base no inverno 25 chineses da construtora Ceiec, que ganhou a concorrência internacional da obra. Outros 185 vão embora dia 5. O entulho também será levado de navio, assim como veículos, contêineres e guindastes.
Continente gelado
Apenas 0,4% da superfície não é coberta pelo gelo
QUATRO PERGUNTAS PARA…
Sérgio Guida, secretário da Com. Interministerial para os Recursos do Mar
1.Quando será a inauguração oficial da estação?
Entre 19 e 24 de janeiro, provavelmente com a presença do presidente Jair Bolsonaro e outras autoridades. Mas os pesquisadores já poderão começar a ocupá-la em outubro.
2. O que ainda falta?
Inauguramos o novo sistema de comunicação e a Marinha fechou acordo de 5 anos com a Oi. Hoje tem mais internet 4G na estação que em casa. Isso facilitará a troca de informações e permitirá a pesquisadores enviar imagens e vídeos. Também dará segurança ao sistema, já que dados da estação serão retransmitidos a Brasília. Depois haverá o comissionamento de equipamentos.
3. Por que o Brasil gastou US$ 99,6 milhões na estação?
A Antártida é a grande reguladora do clima no Hemisfério Sul e conhecê-la é fundamental para um país que é grande celeiro. Também tem importância estratégica, pois, entre outros recursos, 70% da água doce do planeta está lá. Estar na Antártida e fazer pesquisa no continente garante direito a veto e voto nas discussões sobre seu futuro.
4. O País terá navio quebra-gelo?
Sim, creio que em até 4 anos teremos um novo navio capaz de quebrar gelo de até 1 metro de espessura. Isso nos permitirá ampliar o período de operação na Antártida em 40 dias por ano.
Fonte O Estado de S. Paulo