O histórico da Inspeção Predial, no Brasil, desde a sua origem, em 1999, e desenvolvimento no Ibape e Instituto de Engenharia, – remete essa atividade a uma série de medidas condominiais, tais como: análise da documentação técnica, administrativa e jurídica do condomínio; questionamentos ou anamnese condominial; a vistoria das áreas comuns com inspeção da construção, da manutenção e do uso; a análise de risco dos problemas condominiais; a recomendação das reparações; a determinação da responsabilidade do inspetor e a indicação da periodicidade de novas inspeções, numa miscelânea administrativa, técnica e jurídica bem brasileira. O estudo de norma da ABNT não fugiu à regra, acrescentando a avaliação do desempenho nesse intricado ról de atividades.
Apesar do estudo de norma da ABNT definir a inspeção predial como um processo de avaliação predominantemente sensorial das condições edilícias, o que se verifica no texto é a inclusão de outras atividades de Engenharia Diagnóstica além dessas avaliações técnicas, tais como a auditoria de manutenção, a avaliação do desempenho e a consultoria para os reparos, mantendo o espírito original de miscelânea da referida “norma” técnica.
O texto, em linhas gerais, baseou-se na norma do Ibape nacional, de 2009, e nas diretrizes do Instituto de Engenharia, de 2016, com a inclusão da classificação do nível aparente de desempenho da edificação, sem inovar em praticamente nada.
Mas muito poderá ser aprimorado no futuro, com a adoção dos princípios, ferramentas e classificações da recente doutrina de Engenharia Diagnóstica (2005), disciplina das investigações técnicas de manifestações patológicas ou níveis de desempenho, na construção civil. Os diagnósticos médicos têm investigação similar aos diagnósticos de engenharia, ou seja, é preciso conhecer primeiramente as características gerais do “paciente”, antes de qualquer exame direto mais aprofundado. E quais seriam essas características gerais, como se obter essas informações?
A busca preliminar de informações técnicas na construção civil pode seguir a mesma regra geral da Medicina, ou seja, buscar conhecer as características gerais intrínsecas (genéticas) e extrínsecas (externas) do “paciente”, como revela a ilustração:
As futuras revisões da norma de Inspeção Predial da ABNT, seguramente seguirão essa doutrina no futuro. Porém, considerando a atual importância e necessidade da inspeção de obras de engenharia no Brasil, principalmente para se evitar acidentes, e mais, para criar a quase inexistente cultura da manutenção no Brasil, deve-se reconhecer que o texto de inspeção predial da ABNT, apesar da miscelânea, é bem-vindo.
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Por Tito Lívio Ferreira Gomide*
Engenheiro civil, FAAP, Bacharel em Direito pela USP, perito criminal pela Academia de Polícia SP, e atua como perito de engenharia e criminalística desde 1979, além de professor, conferencista e autor de inúmeros artigos e livros. Foi o precursor da Inspeção Predial e Engenharia Diagnóstica no Brasil, desenvolvendo intensa atuação institucional, como ex-presidente do IBAPE-SP e atual coordenador da Divisão Técnica de Patologias das Construções do Instituto de Engenharia
*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo