As mudanças nas diretrizes curriculares das graduações de engenharia estão na reta final, agora em análise no Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação. A Newsletter ABEMI ouviu a opinião do diretor de Assuntos Acadêmicos do Instituto de Engenharia, Ângelo Zanini sobre essas mudanças.
Como o Instituto de Engenharia avalia a atual formação dos engenheiros brasileiros?
AZ – O engenheiro sempre foi e continua sendo um profissional movido a desafios, com foco na resolução de problemas complexos de qualquer natureza. Vivemos um momento de inovação tecnológica, de profunda mudança de costumes e de modelos de negócios. A sociedade precisa, cada vez mais, de um profissional criativo, visionário e empreendedor como o engenheiro sempre foi. Na formação dos engenheiros, há diferenças em função da escola, mas a visão definida nas atuais diretrizes curriculares nacionais indica um engenheiro com competências para aplicar conhecimentos matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais às demandas de engenharia, passando pela formação em ciências básicas, profissionalizantes e específicas de cada modalidade de engenharia.
Como o senhor avalia as mudanças previstas nas diretrizes curriculares de engenharia? Elas atendem às necessidades?
AZ – A proposta que foi colocada em consulta pública prevê a inclusão do desenvolvimento de competências socioemocionais e a formação com forte componente de atividades práticas e interativas. Inovar na formação de engenheiros justifica-se na busca pela excelência, desenvolvendo as competências necessárias para esse novo momento, e na modernização da dinâmica dessa formação, que pede também ser mais interdisciplinar, integradora, empreendedora e humanística. Dentro desse contexto, o Instituto de Engenharia apoia várias das propostas apresentadas nessa nova redação, que abre espaço para ações inovadoras, porém faz ressalvas e ressalta pontos de atenção.
Quais são essas ressalvas e pontos de atenção?
AZ – Uma delas é que a formação, quanto aos fundamentos matemáticos, científicos e tecnológicos – que faz do engenheiro um profissional apto a sempre dominar novas técnicas com o evoluir da profissão – não seja minimizada ou substituída por abordagens menos profundas. Também que as atividades práticas de experimentação em laboratórios não sejam minimizadas ou suprimidas, para que seja sempre a base da formação de engenheiros curiosos, criativos, conhecedores e realizadores. Pedimos que haja ênfase no processo de avaliação dos cursos, com o desenvolvimento de instrumentos de medição com indicadores objetivos quanto à qualidade, abrangência e profundidade com que cada tópico das diretrizes é atendido pelos cursos.
O que mais pode ou deveria ser feito para melhorar a formação dos engenheiros?
AZ – Entendemos que a criação de indicadores de qualidade mais objetivos e representativos seria um indutor de melhorias, bem como a maior influência da sociedade organizada (federações, associações, empresas, etc.) quanto às competências a serem desenvolvidas.
Quais as novas habilidades que o mercado demanda dos engenheiros?
AZ – As habilidades sempre valorizadas nos engenheiros são o raciocínio lógico, a facilidade do uso de ferramentas matemáticas, o bom senso, o gosto pela resolução de problemas e a criatividade na busca de soluções. Mas acreditamos que se deve também fecundar nos estudantes o espírito empreendedor, o interesse pelo desenvolvimento das habilidades socioemocionais e de relacionamento, a empatia e a comunicação, mantendo-se, porém, a base sólida de formação em engenharia. Assim, o engenheiro sempre será um profissional eclético, completo e alinhado com os interesses da sociedade.
Os cursos estão conseguindo responder a essas demandas?
AZ – Em algumas escolas bem estruturadas e de vanguarda sim. Mas na grande maioria das escolas ainda não. É importante ressaltar que a excelência na formação em engenharia, nas suas mais variadas modalidades, é a base para o desenvolvimento do país, imerso no contexto mundial de grandes transformações tecnológicas. A nova economia, calcada em novos modelos de produção e na geração de valor pelo domínio científico e tecnológico, impõe ao Brasil a necessidade urgente de uma engenharia cada vez mais forte e protagonista.
Editora Conteúdo/Abgail Cardoso