À medida que as cidades se tornam mais populosas e a renda aumenta, especialmente em cidades mais quentes de países emergentes, o consumo de aparelhos de ar condicionado, e consequentemente de energia, evolui a uma velocidade assustadora – podendo elevar perigosamente a concentração de gases de efeito estufa, revelou uma nova análise da Agência Internacional de Energia (IEA) publicada na terça-feira (15/05). Até 2050, o consumo de energia a partir de modelos de ar condicionado deve triplicar, assim como a quantidade de aparelhos, que deve passar de 1,6 bilhão para 5,6 bilhões, ou 10 novos aparelhos vendidos a cada segundo pelos próximos 30 anos, revelou o estudo intitulado “O futuro do resfriamento”.
A eficiência energética dos aparelhos de ar condicionado varia muito no mercado, de modo que os modelos vendidos no Japão e na União Europeia consomem cerca de 25% menos energia do que os vendidos nos Estados Unidos e na China, o que revela o potencial de torná-los mais eficientes. O relatório da IEA destaca não só a necessidade de estabelecer padrões mínimos globais de desempenho energético para ar condicionado bem abaixo dos modelos de boa parte da indústria, como os benefícios financeiros desses ajustes: uma economia de US$ 2,9 trilhões em investimentos, combustíveis e custos operacionais.
“É o mesmo que dizer que o ar condicionado tende a se tornar um dos principais itens da demanda global por eletricidade”, disse o diretor-executivo da IEA, Fatih Birol, reforçando que os sistemas de refrigeração podem se colocar como mais uma força poderosa e contrária às metas que estabelecemos com o acordo climático de Paris. “Teremos de construir novas usinas e aumentar as emissões de gases de efeito estufa, caso a eficiência energética de resfriamento fique aquém do que planejamos, o que será um grave problema para o planeta”, afirmou. Atualmente, cerca de um quinto do consumo de eletricidade em edifícios está ligada ao uso do ar condicionado e ventiladores, revela o relatório. Em 2050, porém, os aparelhos de resfriamento estarão no topo do ranking de consumo de energia, à frente de chuveiros, eletrodomésticos e demais eletrônicos.
Mesmo que os gases utilizados atualmente em refrigeração, como os hidrofluorcarbonos (HFCs), substitutos dos CFCs, tenham se mostrado inofensivos para a camada de ozônio, eles contribuem bastante para o aquecimento global. O HFC-23, por exemplo, é 11.700 vezes mais potente que o gás carbônico para aquecer o planeta, embora seu tempo de vida seja mais curto e sua presença na atmosfera bem menor.
Um dos maiores estudos sobre o tema publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences no ano passado revela que, em 2040, o aumento do uso de ar condicionado em regiões de clima quente resultará em uma elevação de 64% no consumo de energia elétrica e um acréscimo anual de 23,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono.
Em países como os Estados Unidos e o Japão, mais de 90% dos domicílios têm ar condicionado atualmente, ao passo que apenas 8% dos 2,8 bilhões de pessoas que vivem nas partes mais quentes do mundo o possui. Na Índia, um país quente com alta taxa de crescimento, o consumo de aparelhos de ar condicionado pode exigir grandes investimentos em usinas poluentes. “É preciso ajustar a indústria antes que que o consumo exploda”, diz Birol. (OC)
Saiba mais sobre o tema no artigo “Por que o seu ar condicionado resfria o ar – mas esquenta a atmosfera“, de Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima, e Ricardo Baitelo, coordenador de Clima e Energia do Greenpeace.
Fonte Conexão Planeta