Tendo em vista a precariedade dos serviços desenvolvidos pela Companhia Cantareira de Águas e Esgotos que não acompanhava pari passu o vertiginoso crescimento da cidade de S. Paulo provocando o clamor público diante da crônica falta d’água, o governo do Estado, em agosto de
1892, houve por bem encampar estes serviços criando em janeiro de 1893 a Repartição de Águas e Esgotos da Capital em sucessão à Companhia Cantareira.
Nesta época, o abastecimento de água contava apenas com duas adutoras: A adutora do Ipiranga, com capacidade de fornecimento de 3000 m3/dia de uma pequena represa na água Funda,
abastecia as zonas baixas alem do Brás, Mooca e Ipiranga. A outra era a adutora do Cantareira, proveniente da Serra de mesmo nome, fornecia também 3000 m3 ao antigo reservatório da Consolação que abastecia o centro da cidade.
Em toda a cidade, eram abastecidos 8642 prédios tendo a rede uma extensão total de 773 368 metros. Com uma população à época de 120 000 habitantes o per capita médio teórico era de 50 litros/hab./dia. Ainda em 1893, logo após a encampação, o governo estadual seguindo seu plano de obras novas captou e aduziu outros mananciais da Serra da Cantareira:
Implantou-se a adutora do Guaraú numa extensão de 13 397,72 m de tubos de 600 mm até o reservatório da Consolação com capacidade para 17 000m3/dia. Outras captações na Serra foram a dos córregos Bispo, itaguassu e Menino. Para o reforço da adutora do Ipiranga foram captados os córregos do Simão e Borba.
No ano seguinte, foram captados ainda na Serra da Cantareira os mananciais Cassununga, Campo Redondo e Engordador. A partir de uma caixa de junção denominada Guapira estas águas foram aduzidas para um novo reservatório de 6 500 m3 localizado no largo 13 de Maio, hoje Praça Amadeu Amaral destinada a servir a encosta que se desenvolvia a montante do reservatório da Consolação.
Desta forma, ao final de 1894, quando a população era de de 160 000 habitantes, o suprimento total de água era de 27 000 m3 o que redundava num per capita de 169 l/dia, aproximadamente.
De 1895 a 1898, tendo em vista a necessidade hídrica de pelo menos 30 000 m3/dia, foi aduzida mais água oriunda da Cantareira originada das sobras do Engordador, alem do Tanque Velho do Ipiranga. Construiu-se também um novo reservatório na Consolação com capacidade de 19 000 m3, concluído em 1897, e a canalização de 11 da caixa do Guapira até o espigão da Paulista.
Nesta época, foram também iniciadas a captação de água no rio Tietê, na altura do Belenzinho destinada ao abastecimento por recalque à zona baixa do Brás depois de passar por galeria filtrante.Tentou-se ainda, infrutiferamente,o aproveitamento das águas do sub solo através de três poços profundos localizados à margem do Tamanduateí ao lado da ponte do Carmo.
Estas providências objetivaram compensar a queda da produção de água advinda da Serra da Cantareira durante o período de estiagem, uma vez que os recursos hídricos
compostos de rios de regime torrencial e sem dispor de represamentos caiam a 15 000 m3/dia, enquanto que os do Ipiranga baixavam a apenas 347 m3/dia.
Entretanto, já em 1899 se notava serem insuficientes as providências tomadas, pois nesta ocasião haviam-se formados novos bairros importantes e populosos como Perdizes, Água Branca, Lapa, Vila Cerqueira Cesar e Vila Mariana, alem de outros núcleos esparsos e separados entre si ainda não dotados de abastecimento de água.
Em 1903, quando a população da cidade era superior a 235 000 habitantes (231 820 pelo censo de 1900), São Paulo enfrentava uma grave crise em seu abastecimento de água durante o período de estiagem. Para fazer frente, ampliou-se a captação de água do Tietê no Belenzinho aumentando-se a galeria filtrante e a estação de recalque de modo a suprir um a vazão de 6000 m3/dia. Também, providenciou-se a montagem de uma bomba no Engordador para socorrer a caixa de junção do Guapira com uma vazão de 8000 m3/ dia para manter o abastecimento da zona alta da cidade.
Neste ano,com estas providências, o volume médio de água fornecido pelos mananciais captados era de 40 119 m3/dia, sendo 24 475 m3/dia oriundos do Guaraú e tanque de acumulação (a chamada ala direita do Cantareira), 9072 m3/dia da Caixa do Guapira (denominada ala esquerda do Cantareira) e 6572 m3/dia do Ipiranga.
Contudo, durante a estiagem de 1903 estes volumes médios foram reduzidos a 28 200m3/dia.
(continua)