Emirados Árabes pensam em construir montanhas para ter mais chuva

Um pouco de conceitos meteorológicos. Quando uma massa de ar encontra uma grande elevação no relevo, como uma serra, o ar quente e úmido se choca com a montanha e sobe. A umidade forma nuvens que acabam causando precipitações mais costantes. É a chuva orográfica, muito comum quando há cadeias de montanhas próximas à costa.

Como a umidade acaba condensando por causa da montanha, ela não avança para o interior, e o outro lado da serra, conhecido como sombra de chuva, muitas vezes é bastante seco. Há casos bastante conhecidos de cadeias de montanhas que criaram áreas férteis de um lado e desérticas do outro: o planalto do Tibet, o oeste da Argentina, o deserto da Judeia (Israel) e os desertos de Sonora e Mojave nos Estados Unidos e México. No futuro, essa lista pode ter os Emirados Árabes.

Não, não há nenhum registro de atividade tectônica que esteja erguendo uma cadeira de montanhas no sudeste da Península Arábica. É o ser humano que pode fazer isso, tudo para lidar com a dificuldade de disponibilizar água para uma economia que cresce acentuadamente, sobretudo em torno das metrópolis do país, Abu Dhabi e Dubai.

O governo dos Emirados Árabes contratou o National Center for Atmospheric Research (NCAR), dos Estados Unidos, para estudar o efeito que montanhas teriam no clima do país. A ideia seria elevar o relevo artificialmente, fazendo que a umidade que vem do Golfo Pérsico se transforme em chuva ao invés de se perder pelo interior da Península Arábica. A informação é do site Arabian Business.

A previsão do NCAR é que os primeiros resultados sejam apresentados nesse verão do hemisfério norte (inverno no Brasil). Nessa primeira fase, o instituto já mostraria os efeitos para cada tipo de montanha, que altura ela poderia ter, qual sua inclinação e onde ela deveria estar localizada, afirmou Roelof Bruintjes, um dos pesquisadores ao Arabian Business.

Os emiratenses pagarão US$ 400 mil pelo estudo. Pode parecer muito dinheiro, mas é menos que ps US$ 558 mil que o governo local gastou só em 2015 para semear nuvens.

A partir dos dados apresentados, os Emirados Árabes analisarão a viabilidade econômica de se construir as montanhas ou uma serra. Em 2011, um grupo de investidores estudou a construção de uma montanha para a realização de esportes de inverno na Holanda. O custo estimado era de US$ 400 bilhões, ainda que a comparação não seja muito precisa, pois o caso holandês exigiria muito mais segurança e precisão em detalhes do relevo para criar uma boa pista de esqui, os emiratenses precisam apenas de uma barreira para a umidade.

Atualmente, os Emirados Árabes dependem de água presente no subsolo – e, pelo atual ritmo de consumo, a previsão é que essa fonte se esgote em 50 anos – e das chuvas que caem em nuvens semeadas. Pouco para abastecer cidades como Dubai, que ganhou 800 mil novos habitantes entre 2007 e 2014.

Autor: Outra Cidade