Em Sete Breves Lições de Física (publicado no Brasil pela Ed. Objetiva), o professor Carlo Rovelli resume de modo simples os principais conceitos da ciência contemporânea, desde a teoria da relatividade geral de Albert Einstein, passando pelas descobertas do astrofísico inglês Stephen Hawking, até a provável extinção da espécie humana.
“A maior parte dos livros de física são escritos para quem já é apaixonado pelo assunto e quer saber mais. Por isso, pensei num livro para quem conhece pouco ou nada sobre a matéria. Poupei os detalhes e concentrei-me no essencial”, disse o autor à BBC Brasil.
“É como escrever poesia: quanto mais se tira, mais bonita ela fica.”
Nascido em Verona, no norte da Itália, e atual responsável pelo centro de pesquisas sobre gravidade quântica da Universidade Aix-Marseille, na França, Rovelli explica que o ensaio não trata apenas de física, mas de temas relacionados à natureza humana.
“O livro oferece uma possível resposta, do ponto de vista científico, às perguntas que todos nós, vez ou outra, nos fazemos durante a nossa vida: 'quem somos?', 'de onde viemos?', 'o que existe além daquilo que enxergamos?'. É a visão de alguém que se esforça para compreender isso tudo.”
O sucesso da obra superou as expectativas da editora, que inicialmente havia imprimido três mil cópias. Passado pouco mais de um ano, o livro está em sua 18ª edição, teve 300 mil exemplares vendidos no país e foi traduzido para 28 idiomas.
Relatividade no horário nobre
“Logo depois do lançamento, comecei a receber e-mails de leitores entusiasmados, dizendo que comprariam outros exemplares para darem de presente. Em pouco tempo, o título apareceu na lista dos mais vendidos, algo estranho para uma obra de física teórica e, a partir daí, a coisa explodiu: editoras, jornais, rádios e revistas começaram a me procurar.”
O professor, de 59 anos, chegou a falar sobre a teoria da relatividade de Einstein e de gravidade quântica em programas do horário nobre da televisão italiana. “Na verdade, as TVs passaram a me convidar só depois que o livro fez sucesso. Do contrário, acho que não teriam dado espaço a para assuntos difíceis como este.”
Também nas escolas, segundo Rovelli, falar sobre física é quase sempre “chato”.
“Os períodos de férias são os melhores para se estudar, porque não há a distração da escola”, diz, em um trecho do livro sobre o período em que era estudante universitário e, em uma praia da Calábria, leu pela primeira vez “a mais bela das teorias” (a da relatividade, de Albert Einstein), em um livro roído por ratos.
“Em vez de programas curriculares muito extensos e precisos, para atrair o interesse dos jovens pela ciência é necessário tratar bem os professores e deixar que eles tenham mais liberdade para abordarem os temas que mais gostam. O que faz um aluno se apaixonar por uma determinada matéria é o entusiasmo do próprio professor”, afirma.
“Para compreender a ciência é preciso um pouco de empenho e esforço, mas o prêmio é a beleza. E olhos novos para enxergar o mundo.”
Confira alguns trechos das explicações de Rovelli sobre personagens, teorias e conceitos da física:
Copérnico:
“Se eu quiser explicar a Revolução Copernicana, posso falar durante horas, apresentar cálculos e citar exemplos. Mas também posso dizer apenas que (Nicolau) Copérnico descobriu que a Terra gira em torno do Sol, e não o contrário. Este é o coração da descoberta, e isto as pessoas entendem.”
Darwin:
“Outra extraordinária descoberta científica que pode ser explicada em poucas palavras é a teoria de (Charles) Darwin, que escreveu um livro difícil com pesquisas de observação, mas cuja revelação é simples: os seres humanos e todos os animais e plantas têm os mesmos antepassados, somos todos parentes.”
Teoria da relatividade geral:
“Albert Einstein descobriu que o tempo e o espaço não são como acreditávamos até então. Ele nos ensinou que o tempo passa mais rápido no alto e mais lento embaixo, perto da Terra. Por isso, se dois irmão gêmeos viverem em lugares diferentes, um próximo ao mar e outro em montanha, e se reencontrarem depois de cinquenta anos, o que morava na montanha será um pouquinho mais velho que o irmão. Esta diferença pode ser medida até mesmo a uma altura de 30 centímetros do chão.
Einstein ensinou também que o espaço e a força de gravidade (descoberta por Newton) são a mesma coisa. O espaço não é mais diferente da matéria. É uma entidade que oscila, se dobra, se inclina e se torce. Como uma bolinha que roda dentro de um funil, não existem forças misteriosas geradas no centro do objeto, é a curva das paredes do funil que faz com que a bolinha rode. Do mesmo modo, os planetas giram em torno ao Sol e as coisas caem porque o espaço se inclina.”
Tempo:
“Não existe ainda uma resposta final da ciência sobre o que é o tempo. Em todo caso, podemos dizer que ele não passa se nada acontece. O tempo não existe por si só, mas é ligado ao modo como as coisas se relacionam umas com as outras. Em vez de dizer que hoje peguei o avião às oito da manhã para vir a Roma, posso dizer que peguei o avião quando o Sol estava a uma certa altura e cheguei quando o Sol estava em outra posição. O tempo não é fundamental para o universo, é possível descrever a natureza sem usar o conceito de tempo.”
Buracos negros:
“Quando uma grande estrela queima todo o seu combustível (hidrogênio), acaba por apagar-se. O que resta, então, não é mais suportado pelo calor da combustão e cai esmagado pelo seu próprio peso, inclinando o espaço tão fortemente a ponto de afundar dentro de um verdadeiro buraco. Estes são os famosos buracos negros.”
Partículas elementares:
“O mundo é feito de pequenas entidades, os 'quanta', que vibram e saltam de lugar a outro. Existem menos de uma dezena de tipos de partículas elementares. Um punhado de ingredientes elementares que se comportam como as peças de um Lego gigantesco com o qual toda a realidade material em torno de nós é construída. Este é o coração da mecânica quântica.”
Calor:
“Aprendemos que uma substância quente é uma substância onde os átomos movem-se com maior rapidez. Mas por que o calor passa das coisas mais quentes àquelas mais frias, e não vice-versa? Por puro acaso. O austríaco Ludwig Boltzmann descobriu que o calor não passa das coisas quentes às mais frias devido a uma lei absoluta: passa apenas com grande probabilidade.
O motivo é que, estatisticamente, é mais provável que um átomo da substância quente, que se move velozmente, bata contra um átomo frio e lhe deixe um pouco da sua energia, e não contrário.”
Autor: BBC