A intervenção deliberada e em grande escala no sistema climático da Terra – a chamada geoengenharia – não é a “solução rápida” para o aquecimento global que muitos cientistas têm defendido.
A conclusão é de um painel de especialistas do Reino Unido que avaliou as propostas de geoengenharia mais difundidas.
Os resultados de três projetos – IAGP (Avaliação integrada das Propostas de Geoengenharia), liderado pela Universidade de Leeds; SPICE, liderado pela Universidade de Bristol e CGG, liderado pela Universidade de Oxford – foram anunciados em um evento realizado na The Royal Society, em Londres.
“Nossa pesquisa mostra que o diabo está nos detalhes. A geoengenharia será muito mais cara e desafiadora do que as estimativas anteriores sugerem, e quaisquer benefícios seriam limitados,” resumiu o professor Piers Forster, da Universidade de Leeds.
“Por exemplo, quando simulamos a pulverização de partículas de sal do mar nas nuvens para tentar aumentar seu brilho, verificamos que apenas algumas nuvens foram sensíveis e que as partículas tendem a coagular e cair antes de chegar à base da nuvem.
“Questões envolvendo o monitoramento e a previsão dos efeitos de nossas ações levaram a uma enorme indecisão, destacando como seria difícil até mesmo testar e implementar essas técnicas no mundo real,” acrescentou o pesquisador.
Ninguém quer a geoengenharia
Em vez de se limitar às simulações, os pesquisadores do projeto SPICE (Injeção Estratosférica de Partículas para Engenharia Climática) usaram vulcões como modelos para imitar o efeito de uma proposta de geoengenharia solar na qual aerossóis sulfatos seriam bombeados para a atmosfera para refletir mais luz solar de volta ao espaço. Este é um processo que ocorre naturalmente devido a partículas emitidas pelas erupções vulcânicas.
Durante a avaliação das propostas, o painel de especialistas também realizou discussões em grupos públicos e encontros de especialistas, incluindo os proponentes das geoengenharias. Em ambas, as estratégias de mitigação das mudanças climáticas, tais como melhores medidas em busca da eficiência energética e ampliação das tecnologias renováveis, foram preferidas às propostas de geoengenharia.
“Consultar o público, os formuladores de políticas e a indústria desde o início nos disse que só devemos considerar a geoengenharia no contexto mais amplo da mitigação e da adaptação às mudanças climáticas. A geoengenharia não é uma alternativa do tipo 'solução rápida', disse o professor Forster.
“Embora seja claro que as temperaturas poderiam ser reduzidas durante a implementação, o potencial de passos em falsos é considerável. Ao identificar os riscos, esperamos contribuir para a base de evidências em torno da geoengenharia que vai determinar se a implantação, em face da ameaça das mudanças climáticas, teria o potencial de fazer mais bem do que mal,” concluiu o Dr. Matthew Watson, membro do painel.
Risco certo
Embora haja muitos defensores da geoengenharia dentro da comunidade científica – na verdade ela nasceu na forma de várias propostas de cientistas – todos os estudos abalizados publicados até agora reconhecem que a ciência não sabe o suficiente para garantir chances mínimas de sucesso da manipulação do clima da Terra de forma intencional.
Autor: Universidade de Ledds