O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), prepara um projeto para enterrar a fiação pública e recuperar as calçadas de diversos bairros e avenidas da cidade. O projeto foi pauta de uma reunião com construtoras e do último encontro do conselho político da prefeitura, na quinta-feira passada. Pelo impacto visual, a ideia é tratada na administração como uma “Cidade Limpa” do novo prefeito, em referência à lei que retirou os outdoors da capital paulista e virou marca da gestão do antecessor Gilberto Kassab (PSD).
O custo, o mapa de implantação e os detalhes técnicos ainda precisam ser definidos. Segundo estimativas preliminares apresentadas na reunião do conselho, executar esse trabalho nas principais áreas da cidade custaria algo em torno de R$ 15 bilhões. Cada metro de fiação enterrada sairia por aproximadamente R$ 5,5 mil. O prefeito disse aos auxiliares que a ideia é analisar alternativas para viabilizar o projeto, de modo que a iniciativa privada divida o custo das obras, afirma uma fonte que participou do encontro.
A prefeitura cogita Parcerias Público-privadas (PPPs). “Nesse caso, o ideal seria um 'aluguel de ativos', no qual as construtoras arcariam com a obra e depois alugariam as galerias subterrâneas, por tempo determinado, para as concessionárias, como Eletropaulo, Sabesp, Comgás e empresas de telefonia”, diz Carlos Zveibil Neto, vice-presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), uma das entidades consultadas pela prefeitura.
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Ou seja, nesse formato, as empresas que usariam as galerias pagariam a maior parte do projeto. A prefeitura arcaria com outra parcela. E não está descartado um aumento de IPTU em áreas contempladas. Nesse caso, a administração poderia fazer consultas populares, para avaliar o interesse dos moradores de uma determinada rua na obra.
Na reunião com as empreiteiras, Haddad disse que tinha interesse em “fazer uma parceria para resolver os problemas dos fios e das calçadas”, de acordo com pessoas presentes no encontro. A ideia teria sido bem aceita pelos representantes da iniciativa privada.
O prefeito ouviu que as obras poderiam ser executadas com métodos chamados “não destrutivos”, que usam perfurações parecidas com as feitas nos metrôs, nas quais uma máquina entra no subsolo e perfura o trajeto, sem necessidade de se quebrar toda a calçada. A técnica já é empregada em São Paulo para empresas de água, esgoto e telefonia, segundo especialistas do setor.
Haddad chegou a sugerir que o método poderia ser o “destrutivo”, já que a ideia é aproveitar as obras para reformar as calçadas. Mas foi informado de que seria melhor usar o tipo não destrutivo e fazer a recuperação dos pavimentos em paralelo, o que seria mais barato.
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O mapa de implantação não está definido, mas a prefeitura planeja começar por avenidas e bairros mais adensados, segundo fontes ouvidas pela reportagem. “Teria que iniciar pelas grandes avenidas e lugares onde a fiação está mais carregada, com maiores riscos para o cidadão”, opina Zveibil Neto.
“Não é só visual”
“Um dos elementos mais feios e desengonçados da paisagem urbana de São Paulo seria eliminado, com grande ganho para a beleza da paisagem urbana e a qualidade de vida da população”, afirma o Bruno Padovano, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Mas, para o especialista, o impacto do projeto não seria somente visual. “A fiação enterrada aumenta a segurança do cidadão, seja um transeunte ou um motorista, já que acidentes com postes de rua são frequentes e muitas vezes fatais, ou mesmo de uma criança empinando pipa ou alguém fazendo um 'gato' e sendo eletrocutado no processo”, diz Padovano.
“As telecomunicações seriam melharadas e a distribuição de energia seria mais protegida de chuva e queda de árvores”, explica o professor.
Nos últimos anos, projetos pontuais para enterrar a fiação de vias públicas foram executados em São Paulo. Num deles, ruas comerciais da cidade, como a Oscar Freire (fotos acima) e a Avanhandava, ganharam fiação subterrânea e uma repaginada no mobiliário. A iniciativa privada bancou parte dos custos. Em 2012, a Avenida Faria Lima também teve 1,5 km de extensão restaurados, entre as avenidas Rebouças e Cidade Jardim.
Muitas cidades de países desenvolvidos resolveram há tempos esses problemas, especialmente na Europa, mas há casos como as bem-cuidadas Vancouver (Canadá) e Portland (EUA), além de cidades chinesas como Beijing e Xangai, que vêm adotando políticas urbanas parecidas com a da Cidade Limpa, o que inclui não apenas o controle da comunicação visual comercial nos espaços públicos mas especialmente a remoção da fiação aérea”, diz Padovano.
A Prefeitura de São Paulo foi procurada, por telefonemas e email, para se pronunciar oficialmente a respeito do projeto, mas não respondeu até o fechamento da reportagem.
Autor: Último Segundo