Radiotelescópio Llama une Brasil e Argentina na astronomia

O Llama será muito parecido com o telescópio Apex, instalado no Chile. [Imagem: ESO/H.H.Heyer]

De olho no Alma

Brasil e Argentina vão iniciar a construção conjunta de um radiotelescópio com antena paraboloide de 12 metros de diâmetro nos Andes argentinos.

O projeto é coordenado pelo professor Jacques Raymond Daniel Lépine, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e conta com a participação de pesquisadores do Instituto Argentino de Radioastronomía (IAR).

Previsto para iniciar as operações em 2017, o telescópio faz parte do projeto Llama – sigla em inglês de Long Latin American Millimetric Array e um trocadilho com o nome na língua quíchua do mamífero ruminante encontrado na América do Sul.

Instalado a 4.825 metros de altitude, o Llama será um dos observatórios astronômicos mais altos do mundo, ao lado do Alma (Atacama Large Milimeter/Submilimeter Array), localizado no planalto de Chajnantor a 5 mil metros de altitude, no deserto do Atacama, no Chile, e do APEX (Atacama Pathfinder Experiment Telescope) – o mais alto observatório da Terra, situado a 5.100 metros de altitude, também no planalto de Chajnantor, e precursor do Alma.

Além da poeira interestelar

O radiotelescópio Llama será instalado em uma montanha nos Altos de Chorrilos, na província argentina de Salta (a 1.600 quilômetros a noroeste de Buenos Aires).

O equipamento irá operar em comprimentos de ondas milimétricas e submilimétricas, entre a radiação infravermelha e as ondas de rádio do espectro eletromagnético, em frequências entre 100 e 900 Ghz (gigahertz).

Isto permitirá a realização de estudos em praticamente todas as áreas da astronomia, incluindo a evolução do Universo, buracos negros, a formação de galáxias e estrelas e o meio interestelar.

“Há muitos objetos e regiões astronômicas que podem ser observados nas frequências entre 100 e 1 mil Ghz que não são possíveis de serem vistos nas faixas abaixo de 100 Ghz. No entanto, há diversos radiotelescópios no mundo operando com frequências de rádio abaixo de 100 Ghz, mas poucos nas faixas entre 100 e 1 mil Ghz”, disse Lépine.

Entre esses objetos e regiões astronômicas que poderão ser observados pelo Llama estão nuvens frias de gás e poeira onde se formam novas estrelas e galáxias.


Além de serem o berço de estrelas, a descoberta recente de água nesses filamentos de poeira cósmica sugere que vida é universal. [Imagem: NASA]

Com temperaturas de apenas alguns graus acima do zero absoluto, essas nuvens frias no meio interestelar formam “cortinas corta-luz” que tornam escuras e opacas as regiões do Universo onde são formadas as estrelas e galáxias à radiação no espectro visível, captada pelos telescópios ópticos.

Por meio da radiação milimétrica e submilimétrica captada pelo radiotelescópio do Llama será possível atravessar essas nuvens frias de gás e poeira interestelar, enxergar o que está por trás delas e observar objetos de brilho cada vez mais baixo, além de explorar detalhes das fontes de radiação, contou Lépine.

“As ondas de rádio nas frequências de radiação milimétrica e submilimétrica são absorvidas pelo vapor d'água da atmosfera. Por isso, os radiotelescópios precisam ser instalados em locais com alta altitude e baixa umidade”, explicou.

Rede latina de radiotelescópios

De acordo com Lépine, a intenção é que o Llama seja a semente para a formação de uma rede latino-americana de radiotelescópios, situados em diferentes lugares e países da região, operando no modo de Interferometria de Longa Linha de Base (VLBI, na sigla em inglês).

O hemisfério Norte possui uma série de redes de radiotelescópios, como o Very Large Array (VLA), nos EUA, com 27 antenas de 25 metros de diâmetro, o European VLBI Network (EVN), na Europa, com antenas espalhadas pelo continente e na África do Sul.


A técnica VLBI permite a criação de telescópios virtuais quase do tamanho da Terra. [Imagem: ESO/L. Calçada]

Já o hemisfério Sul ainda não conta com uma rede de radiotelescópios, que poderá começar a ser formada pelo Llama e Alma, além de um equipamento com 30 metros de diâmetro que será instalado na Argentina pela China e de radiotelescópios como o de Itapetinga, em São Paulo, e de outro existente no Peru.

Um elemento estratégico é o posicionamento da antena do Llama, a 150 quilômetros de distância das 66 antenas do Alma, permitindo que ele opere como mais uma antena do observatório do ESO.

Como estará localizado a uma distância maior em relação à configuração orignal do Alma, o radiotelescópio do Llama poderá produzir imagens do Universo com uma resolução angular de imagem muito maior: “Quanto maior o espaçamento entre as antenas, maior é a definição de imagem”, disse o professor.

Nova geração de radiotelescópios vai ouvir os céus
Inicialmente, contudo, as observações astronômicas do Llama serão realizadas no modo “antena única”. Isso porque a ideia é começar a fazer observações astronômicas mais simples, mas que podem ser auxiliares às realizadas no modo interferométrico.

“Há muita ciência astronômica que pode ser feita com uma única antena. Ela pode ser utilizada para realizar mapeamentos de regiões do Universo a fim de identificar potenciais alvos a serem observados posteriormente por meio do Alma”, apontou Lépine.

Autor: Agência Fapesp