Embora esteja bem no centro de uma placa tectônica, e por isso afastado dos atritos que geram os terremotos de grandes proporções, o Brasil também sente as consequências dos movimentos no interior da Terra.
O caso recente na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais, é um exemplo disso, onde construções foram danificadas mesmo por esses terremotos de baixa intensidade.
Rede Sismológica Brasileira
Agora, os eventos sísmicos que acontecerem em nosso território serão registrados em tempo real pelas 73 recém-instaladas estações que compõem a Rede Sismológica Brasileira (RSBR).
“Quando acontece um terremoto, ele emite ondas. As vibrações no chão vão se propagando e chegam a cada uma das estações. Se olharmos como cada estação está vibrando, conseguimos detectar se, de fato, está acontecendo ou se aconteceu um terremoto,” conta o professor Marcelo Bianchi, do Departamento de Geofísica da USP.
Além do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas), a Rede Sismológica Brasileira é integrada pelo Observatório Nacional, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e pela Universidade de Brasília (UnB).
A rotina dos técnicos de sismologia do Centro envolve principalmente garantir que os dados cheguem ao centro em tempo real para possibilitar as leituras e revisões dos registros obtidos.
Nas leituras são conferidas e marcadas, por exemplo, as ondas primárias e secundárias liberadas com a ocorrência de um terremoto, e que permitem estimar a localização do epicentro, ou seja, o ponto que originou o tremor.
“Para realmente conseguir localizar um terremoto, ele deve ser registrado em várias estações. O que parece ser um sismo pode ser, na verdade, um caminhão passando em uma estrada próxima a uma das estações, ou mesmo uma explosão de pedreira”, esclarece o geofísico.
As informações coletadas alimentam o catálogo sísmico brasileiro divulgado e mantido pelo Centro, que apresenta o histórico de eventos sísmicos do país.
Previsão de terremotos
Segundo Marcelo Bianchi, não há perspectivas de prever terremotos.
Contudo, conhecendo melhor a estrutura da Terra e a distribuição de terremotos ao longo do tempo e do espaço, é possível afirmar com mais segurança quais zonas têm mais chance de sofrer abalos, ainda que não se saiba exatamente quando eles podem acontecer.
Como o Brasil está longe das placas tectônicas, o professor Marcelo Assumpção, também do IAG-USP, elaborou uma hipótese que associa a quantidade de sismos em uma determinada região com a espessura da litosfera, a camada rígida mais externa da Terra.
A Rede Sismológica Brasileira vai ajudar a validar essa hipótese, sobretudo com base na bacia do Pantanal-Chaco, próxima à Bacia do Paraná. A região foi escolhida porque estudos anteriores indicam um possível afinamento na crosta terrestre e na litosfera nessa região, que pode estar associado à sismicidade apresentada ao longo dos anos.
Autor: Agência USP