Um novo estudo sobre o aquecimento global promete acender as controvérsias sobre o tema, não tanto pelos resultados que apresenta, mas pela forma como os resultados estão sendo apresentados.
Trata-se de um caso muito ilustrativo de como um “estudo científico” pode chegar a conclusões ou interpretações que pouco têm de científicas.
Damon Matthews e seus colegas da Universidade de Concordia, no Canadá, queriam saber quais países contribuem mais para o aquecimento global “como uma forma de alocar responsabilidades históricas pelas mudanças climáticas observadas,” segundo eles.
Sua conclusão principal foi apresentada em seu estudo e em um comunicado à imprensa feito pela universidade, intitulado “Maiores criminosos do aquecimento global”. A revista britânica New Scientist, alterou um pouco a manchete e publicou uma reportagem com o título “Os sete 'pecadores mortais' do aquecimento global”.
Os culpados, em ordem de culpa, crime ou pecaminosidade são: Estados Unidos, China, Rússia, Brasil, Índia, Alemanha e Reino Unido.
Segundo os pesquisadores, esses países foram responsáveis por mais de 60% do aquecimento global entre 1906 e 2005.
Antropogênico sem humanos
Ocorre que a corrente principal da ciência defende que o aquecimento global é de origem antropogênica, ou seja, é causado pelo homem.
Assim, para descobrir quais países mais contribuíram para o aquecimento global é necessário dividir os efeitos do aquecimento pela população de cada país.
Quando isto é feito, o Canadá, país onde foi feito o estudo e que não aparece na anunciada lista de “criminosos”, salta diretamente para o terceiro lugar do pódio – na verdade o Canadá é o 10º colocado na lista original, o que talvez explique um anúncio de cabalísticos “sete culpados”.
Quando a população é levada em conta, todas as primeiras sete posições – número de culpados escolhido pelos próprios pesquisadores – passam a ser ocupadas por países desenvolvidos.
Os autores do estudo não concordam muito com isso: “Está claro que a população sozinha não determina a contribuição climática de um país”, dizem eles, sem apresentar argumentos para essa alegada clareza, a menos que se considere a área de cada país – um elemento natural – como um fator essencial, o que tiraria peso do argumento de um aquecimento global antropogênico.
Assim, a conclusão do estudo, e o que foi liberado para a imprensa com grande alarde, foi uma lista de supostos “criminosos” indiciados sem base científica, uma vez que trata-se de um cálculo de responsabilidade pelo aquecimento global causado por humanos que não leva em conta os humanos.
Bibliografia:
National contributions to observed global warming
H. Damon Matthews, Tanya L Graham, Serge Keverian, Cassandra Lamontagne, Donny Seto, Trevor J. Smith
Environmental Research Letters
Vol.: 9 014010
DOI: 10.1088/1748-9326/9/1/014010
Autor: Inovação Tecnológica