Todo final de ano somos obrigados pelo nosso cérebro a dar um passeio revistando os acontecimentos, ora influenciado pela mídia, ou pelos nossos usos e costumes. É um mecanismo mais que obrigatório, automático, especialmente para os dirigentes de organizações que devem explicações aos acionistas ou associados. Portanto, natural.
Contudo quando falamos em Responsabilidade Social e Sustentabilidade, este modelo não vale. E por quê?
As respostas podem ser encontradas, no campo da filosofia, entre outros, através de Santo Agostinho, falecido em agosto de 430 da era cristã e uma das maiores personalidades da história universal. Um gênio muito a frente do seu tempo, misto de economista, teólogo, sociólogo, filósofo… enfim, um santo que assim se expressou “Não haverá jamais um amanhã a não ser que exista um hoje”. “Se podes ser melhor do que és, é evidente que ainda não és tão bom como deves”.
Se tomarmos este axioma de Santo Agostinho e utilizarmos em nossas empresas, cabe a pergunta: minha empresa é tão eficiente quanto deveria ser?
Por vezes nos acomodamos em fazer mais do mesmo, sem avaliar os riscos ocultos na operação ou em nossas vidas.
Nosso santo personagem não nasceu santo, formou-se padre somente aos 37 anos, pois até então de santo não tinha nada, muito pelo contrário, era da pá virada. Contudo em determinado momento enxergou riscos e começou a agir, porque estava no fundo do poço.
Todas as atividades, sejam políticas, econômicas e até religiosas, também necessitam desta forma de avaliação. Cabem aqui mais perguntas: precisamos chegar ao fundo do poço? Onde ele fica? Já chegamos ou nem estamos a caminho?
Um bom exemplo disso, no campo da responsabilidade social, procede de Maringá, noroeste do Paraná. No ano 2000 houve um desvio de 100 milhões de reais da Prefeitura, conforme ação que ainda tramita na justiça em segunda instância (pois o prefeito acusado recorreu). Naquele momento, empresários locais se reuniram e criaram o Observatório Social, entidade que fiscaliza e coopera com a Prefeitura na gestão do interesse público através de cidadãos colaboradores, desde que sem vínculo partidário.
Os resultados destacados pela Revista Exame, comprovam que de 1996 até os dias atuais, instalaram-se na cidade 9.200 novas empresas, representando um significativo crescimento de 132% no período. No último ano, dois destaques fundamentais: no âmbito empresarial de um lado, a engarrafadora da Coca Cola na cidade duplicou a capacidade de produção e de outro foram impugnadas 12 licitações públicas suspeitas, que somavam R$ 7,2 milhões. Este movimento do empresariado, portanto, proporcionou aos quase 400 mil habitantes novas oportunidades justas de trabalho com salários em alta. A reboque atrelou-se o crescimento na qualidade de vida, já que o dinheiro público é melhor utilizado, ganhando naturalmente a economia da cidade. Enfim ganhou todo mundo que merece ganhar.
Fica redundante mas necessário destacar que IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tem tudo a ver com nossos negócios. Índice ruim no IDH representa péssimo ambiente para negócios. É óbvio que uma cidade ou região com problemas sociais crônicos, obriga-nos a investir, através de nossas empresas, em segurança própria, saúde, meio ambiente, para suprir a ineficiência do Estado, não em detrimento dos negócios mas para fortalecê-los e salvaguardá-los. Sendo isto uma triste realidade brasileira, então é melhor fazermos isto de forma consistente e paulatina dentro das nossas empresas incialmente, sem onerar a operação mas de forma estratégica e planejada. A ação em Maringá comprova esta tese.
Esta escolha portanto vale para questão da responsabilidade social, assim como para sustentabilidade. Ratifica esta linha de pensamento o vice-presidente mundial do Deutsche Bank e presidente do Conselho da Fundação Europeia de Clima, o brasileiro Caio Koch-Weser, em entrevista concedida à Folha de São Paulo: “devemos pensar ao sair da crise, em quais serão os vetores e motores do crescimento e da competividade numa economia de baixo carbono, de enxergar não só os custos mas as oportunidades… medir a produtividade pelo uso eficiente de recursos, terra, água e energia.”
Ou seja: assim como Santo Agostinho chegou ao fundo do poço, parece-nos (felizmente) que os europeus iniciam sua recuperação olhando para a sustentabilidade como uma oportuna subida para saída do poço.
Concluindo, não há vestibular para santo e portanto ninguém se forma santo de um dia pro outro, nem é o objetivo de ninguém, muito menos das empresas. O objetivo é um só: ser hoje melhor do que ontem! Contudo se a trajetória de uma organização aponta que é evidente que ainda não és tão bom como deves, significa que no campo da filosofia estamos por volta de 430 DC, e no campo econômico e estratégico, talvez no ano 2.000.
Desejamos assim, de fato, um Feliz Ano Novo, e que a sua empresa possa produzir uma história onde na retrospectiva de dezembro de 2014, esteja muito mais distante dos primórdios da humanidade e próxima dos tempos modernos.
São os votos da Equipe do Portal SustentaHabilidade.com