Durante quase 50 anos, a cidade de Fujisawa, no leste do Japão, abrigou um enorme parque fabril da gigante nipônica Panasonic. No local, eram produzidos milhões de televisores, geladeiras e ventiladores. Agora, na área de 19 hectares – o equivalente a 24 estádios do Morumbi -, não se vê mais máquinas e chaminés, mas os contornos de uma nova e diferente cidade: totalmente sustentável e erguida ao custo de R$ 1,3 bilhão.
Neste vilarejo, que receberá os primeiros habitantes em abril de 2014, todos os carros serão elétricos, as casas funcionarão à base de energia solar e haverá até incentivo financeiro para que os moradores vivam de forma sustentável. Até 2018, mil famílias deverão povoar o novo espaço, batizado de Fujisawa Sustainable Smart Town.
O projeto é capitaneado pela própria Panasonic – que cedeu os terrenos e responderá por 50% do investimento total – e conta com a parceria de outras oito empresas. Sete delas japonesas, mais a norte-americana Accenture.
O valor das casas ainda não foi revelado, mas uma “panahome” (modelo sustentável pré-fabricado da Panasonic) é vendida atualmente no Japão por cerca de R$ 1 milhão. A diferença é que agora não serão apenas as casas que funcionarão de forma inteligente e ecológica, mas uma cidade inteira.
Em entrevista ao Estado, o especialista em tecnologias verdes da Panasonic e um dos responsáveis pelo projeto, Roy Kobayakawa, refuta o rótulo de “laboratório gigante” e diz que a nova cidade usará apenas tecnologias e produtos já disponíveis no mercado. Segundo o executivo, é exatamente isso que diferencia Fujisawa das outras comunidades sustentáveis espalhadas pelo mundo.
“Os projetos convencionais privilegiam o design, enquanto Fujisawa se baseia na necessidade do morador. Não é um projeto piloto, é vida real. Vamos vender essas casas para pessoas que, de fato, vão morar lá”, explica Kobayakawa.
Negócio. Mas a Panasonic, que hoje concentra 21% das suas vendas no segmento sustentável, mantém sim um olho no futuro. Juntamente com as empresas parceiras e os moradores, formará um comitê de administração da cidade, que pensará de forma continua em melhorias de produtos e serviços – como uma grande incubadora. “Também queremos obter lucro com esse projeto”, afirma o executivo.
A ideia inicial é que a nova cidade ofereça um modelo replicável para outras partes do Japão. Mas Kobayakawa já fala em outros países, inclusive no Brasil. “Ainda não há um projeto específico, mas vemos potencial no País. A cidade de Curitiba, por exemplo, tem uma grande consciência ambiental, com vários prédios inteligentes”, diz.
A empreitada ganhou força após o terremoto de março de 2011, que atingiu a costa nordeste do Japão. O tremor foi seguido por um tsunami e deu início a uma catástrofe nuclear, matando cerca de 20 mil pessoas. Desde então, a nação asiática rediscute a sua matriz energética e tenta criar mecanismos de proteção contra futuras catástrofes.
Sustentabilidade. Fujisawa já nasce, então, com metas ambiciosas: reduzir em 70% as emissões de gás carbônico, em relação aos níveis de 1990, e em 30% o consumo de água, na comparação com 2006. Além de que um terço de toda a energia da cidade deverá ser proveniente de fontes renováveis. Para atingir os objetivos, haverá recompensas aos moradores mais sustentáveis.
Quem poupar energia ou emitir uma quantidade menor de gases poluentes ganhará pontos, que poderão ser usados para amortizar as taxas de juros dos financiamentos imobiliários.
Mas tudo será previamente planejado para uma vida sem desperdícios. A ideia é que as famílias gerem a própria energia que consomem: as casas terão painéis solares instalados no telhado e as sobras serão armazenadas em baterias. Um painel fará o gerenciamento em tempo real, mostrando o quanto foi produzido no dia, quanto ainda há armazenado e quais itens da casa estão consumindo mais eletricidade.
Já a arquitetura irá potencializar o uso de recursos naturais, como luz do sol e ventilação. Os prédios comerciais também seguirão os mesmos preceitos.
A iluminação pública terá lâmpadas de baixo consumo e nas ruas não se verá postos de combustível, e sim pontos de recarga para carros e motos elétricas. As vias e estacionamentos, por sua vez, serão projetados para as bicicletas, que terão o seu uso incentivado.
Autor: O Estado de S.Paulo