O Terceiro Setor nos dias de hoje, desempenha preponderante papel no desenvolvimento econômico do Brasil.
Tecnicamente este segmento se enquadra entre as empresas privadas e o Estado, em áreas de atuação onde um não registra interesse em investir e outro atua inadequadamente, quer seja por incapacidade ou ineficiência.
Diferentemente do que se imagina, esta visão é mais que milenar, pois os apóstolos de Cristo, Pedro e Paulo, organizaram instituições em todo o mundo justamente para atender a população desassistida daquela época, pelos modelos incipientes de empreendedores e Estado. De certa forma, inventaram o terceiro setor, pois as células espalhadas em todo mundo, necessitaram de financiamento, ora do Estado, ora de investidores, e acima de tudo de trabalho voluntário da população em geral, condição esta essencial para credenciar organizações sem fins lucrativos.
No mundo moderno, estas entidades foram reinventadas com modelos de atuação distintos, porém baseadas em experiências de sucesso dos norte americanos, nação que culturalmente, prima pelo olhar organizacional e visão de futuro com objetividade.
Em 1875 é fundado o orfanato John Hopkins em Maryland e no ano seguinte o hospital, com recursos que o filantropo havia deixado em testamento, sendo hoje um centro de excelência mundial em oncologia. No início do século passado, em Chicago, Paul Harris criou o modelo Rotary, reunindo líderes de negócios e profissionais, que prestam serviços humanitários. Neste modelo não há um “produto” definido, onde a capilaridade foi e continua sendo fundamental, ajustando a ação da entidade de forma customizada, conforme a necessidade do País e região.
Após a segunda guerra, surge a visão da responsabilidade sócio ambiental, estabelecendo novos padrões para o terceiro setor.
De um lado temos organizações que angariaram respeito internacional praticamente no nascedouro, como WWF e Green Peace, entre outras, verdadeiros agentes de transformação social, com produto definido e uma capilaridade com perfil mais tecnológico, porém com incrível capacidade de mobilidade e formação de opinião. E de outro, as fundações e organizações sem fins lucrativos, sustentadas pelas empresas, sem produto definido, porém com objetivo de associar a logo marca da empresa- mãe, em ações de responsabilidade social.
Assim também no Brasil , estas organizações tornam-se relevantes e ganham nos últimos anos status de “agente econômico”, pois este segmento representa nada menos do que 5% do PIB (1). Emprega cerca de 1,5 milhão de assalariados ou 5,5% dos empregados de todas as organizações formalmente registradas no País (2). E é superior a indústria de extração mineral e maior que 22 Estados brasileiros, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná (3).
Portanto em vista de números tão expressivos, da inegável contribuição social para população e da importância para reputação das empresas, uma questão fundamental deve ser colocada. Por que uma parcela do empresariado brasileiro, ainda não organizou um Departamento Sócio Ambiental na sua empresa ?
Provavelmente, porque uns confundem tragicamente conceitos de custo e investimento. Outros alegam falta de recursos, imaginando indevidamente necessidades vultosas, aprisionando o olhar numa visão de curto prazo.
Alguns porém percebem uma oportunidade de melhorar o desempenho da empresa, na área de pessoal, como um endomarketing. Na percepção e descoberta de talentos escondidos no dia a dia da organização. E contribuindo também no aculturamento para o desenvolvimento de políticas eficientes, quer seja de controle de custos ou de “ produzir muito gastando pouco”. Mas acima de tudo, abre a possibilidade de aproximar-se de gigantes da economia, inalcançáveis pela porta de entrada dos negócios, porém acessíveis em parcerias através das suas fundações e institutos de desenvolvimento sócio ambiental.
Não custa tentar.
Se em nosso artigo inicial, alertamos que o pensamento sustentável já é arcaico em nossos dias, diante da visão de Arrenhius de 1895, o que dizer então, sobre a visão da responsabilidade social, hoje, diante dos apóstolos Pedro e Paulo ?
(1) Estudo do Programa de Voluntários das Nações Unidas (2006).
(2) Fasil – Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos(2005)
(3) Publicação IDIS- Tendência do Investimento Social Privado