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Trens correndo no subterrâneo, tal qual metrô, na região central de São Paulo. Parque linear restituindo o verde e a água das chuvas nas margens do rio Tietê. Investimentos que podem chegar a R$ 20 bilhões.
Ambição é o que não falta ao Arco Tietê, plano que a prefeitura começa a debater hoje. É o primeiro passo para a criação do Arco do Futuro, principal projeto urbano do prefeito Fernando Haddad (PT), cujo objetivo é juntar moradia, emprego e requalificação do espaço.
Ideias como o enterramento dos trilhos de trem, que hoje cortam a cidade como um muro, foram apresentadas por 17 consórcios para uma área que vai do entroncamento das rodovias Anhanguera/Bandeirantes (zona oeste) à Dutra (zona norte), cortada pelo rio Tietê, e equivale ao tamanho da ilha de Manhattan, em Nova York.
AMBIÇÃO
O secretário de Desenvolvimento Urbano da prefeitura, o arquiteto Fernando de Mello Franco, disse à Folha que só um projeto desse porte pode mudar São Paulo.
“Não tenho medo do gigantismo do plano. Se não pensarmos grande, a cidade vai se amesquinhar.”
Mello Franco cita dois marcos da história de São Paulo para ilustrar onde quer chegar: Prestes Maia (1896-1965), o prefeito que criou o plano de avenidas nos anos 1920-30 e mudou o traçado da cidade, e a usina hidrelétrica Henry Borden, de 1926, que alavancou a industrialização.
“O Arco Tietê é um plano para ter repercussão daqui a 30 anos”, afirma. Alguns ícones, porém, devem ficar prontos em quatro anos.
O debate que começa hoje, com uma audiência pública no Memorial da América Latina, visa confrontar as ideias dos consórcios com o que quer a população.
Após a discussão, as empresas terão seis meses para apresentar modelos mostrando a viabilidade urbana, econômica e jurídica do plano.
A área é estratégica, segundo o secretário, porque conecta a cidade com o interior, tem zonas industriais, como a produção de roupas no Bom Retiro, trem, metrô, um rio a ser recuperado e bairros pouco ocupados, como a Água Branca, com 30 habitantes por hectare, menos da metade da média da cidade (70).
Os planos dos consórcios vão de travessias só de pedestres e bicicletas sobre o rio Tietê ao enterramento da ferrovia. Há ainda o plano de criar um parque nas margens do rio, que alagaria com as chuvas e teria piscinas. Uma das propostas prevê 50 mil moradias populares.
Há planos de escritórios internacionais, como o Aecom, dos EUA, que tem 45 mil funcionários, o Arcadis, da Holanda, e o Apur (Atelier Parisien d´Urbanism), da França. Participam também empreiteiras como Odebrechet e Queiroz Galvão.
Para bancar o plano, a prefeitura pretende lançar mão de parcerias, concessões e investimento direto. Uma das ideias é oferecer áreas públicas para os consórcios em troca de investimentos.
Um exemplo: a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) pode transferir áreas da antiga Rede Ferroviária Federal para a prefeitura, que cederia os terrenos aos consórcios.
Outra área federal que está entre os alvos do Arco Tietê é o Campo de Marte, que abriga um aeroporto. Ele pode virar parque, com construções numa pequena área.
DIFICULDADES
A maior dificuldade é como viabilizar economicamente um plano desse porte, segundo o arquiteto Guilherme Wisnik, curador da próxima Bienal de Arquitetura.
A razão é a baixa capacidade de investimento da prefeitura, por causa da dívida de R$ 54 bilhões com a União.
Há ainda o problema de conciliar as escalas das grandes vias com o cotidiano miúdo. “O grande desafio é articular obras de infra-estrutura com calçadas que estimulem o caminhar. Não é fácil transformar o entorno da marginal Tietê em uma cidade”, afirma.
Ele elogia, porém, a ambição do plano. “Está havendo uma retomada do planejamento. Não mais o planejamento da ditadura, mas o que junta grandes obras com o cuidado com o pedestre.”
Autor: Folha de S.Paulo