Onde aplicar o dinheiro

Por João Ernesto Figueiredo*

Quem tem dinheiro disponível para aplicar, vive um momento delicado. Digamos, um bom problema, já que nem todos possuem sobras.

Os Estados Unidos passaram por uma crise seríssima em 2008 e a EUROPA está vivenciando outra de dimensão equivalente. Os Estados Unidos por descontrole do financiamento imobiliário, turbinado por descontrole do mercado de derivativos e a Europa por indigestão, no caso, de mistura de países completamente diferentes submetidos á unicidade do EURO. Ambos vão encontrar seu caminho, mas ainda levam uns 2 anos no mínimo.
Diante disso o preço do ouro foi para as nuvens.

A crise já chegou ao Brasil? Tivemos sorte num primeiro momento, pois nosso modelo exportador (frágil e arriscado) baseava-se em exportação de commodities e a sede da China ainda era voraz. Resultado: os preços dispararam e nossas mazelas foram compensadas.

Como resultado prático – o porquê é demorado para explicar – as taxas de juros (não dos tomadores em Bancos) despencaram. Nossa taxa SELIC hoje é de 8% a.a.
Paralelamente, nossa Bolsa está em níveis mais baixos que os de 5 anos atrás (explicação também demorada) e nossos imóveis subiram a preços exorbitantes, não restando margem para subir e render mais.

Diante das incertezas, onde aplicar nossas reservas?
Afora aplicações complexas, como hedges/swaps, operações estruturadas, alavancagens, mercado futuro, apostas em moedas, em risco de países etc., o que não recomendo para não especialistas, sobram as aplicações mais convencionais:

• Renda Fixa

Com uma taxa SELIC de 8% a.a., descontando-se o imposto de renda nominal de 20%, ou 1,6%, sobram 6,4%. Não vou entrar no detalhe se a aplicação está sujeita a taxa de administração. Se estiver, no caso de Fundos – e a mesma varia de 0,5% a 4% – pode ser melhor que deixar o dinheiro embaixo do colchão, por ser mais seguro, num país com criminalidade impune e polícia pouco eficaz como o nosso. Se não estiver sujeita a essa taxa, depende da inflação e particularmente da inflação pessoal do leitor, que varia, dependendo de seus hábitos de consumo. Um índio analfabeto, assistido por um bom pajé, na Ilha de Marajó, que vive de pesca e se veste com casca de bananeira tem inflação zero.

Já um consumidor de whiskie escocês com o dólar passando de R$ 1,70 para R$ 2,04 teve uma inflação de 20% em alguns poucos dias.

Mas se a inflação ficar nuns 5% terá um ganho anual da ordem de 1,4%, algo como 0,12% ao mês. DESTAQUE: em termos reais o aplicador ganhou 1,4% e o Governo 1,6%. O Imposto de renda real não foi de 20% como se alardeia e sim de incríveis 53,3%. Ninguém faz essa conta.
• Renda variável
Eu diria que, salvo alguma catástrofe no mundo árabe, ou uma desconstrução do euro, estamos no limiar de uma boa recuperação de nossa Bolsa, pois mesmo com a nossa economia andando de lado, nesses 5 anos de apatia, muitas empresas ficaram baratas. Mas pode demorar ainda alguns meses. Nossa Bolsa tem uma grande qualidade, que no momento atual se afigura como desvantagem. É muito líquida. Se você quer vender, consegue, Mas como a presença do investidor estrangeiro é muito forte, até por esse motivo, se qualquer investidor, de qualquer pais, precisar fazer caixa rápido é para cá que ele vem. Então em momento de incerteza mundial, pagamos por isso. É líquida, mas extremamente volátil.
• Ouro
É o porto seguro dos grandes investidores, daqueles que ousaram muito para fazer um grande patrimônio e que diante de uma situação mundial complicada, se dispõem até a perder os anéis, sabem que até podem perder uns 30%, mas nunca tudo. O ouro dobrou de preço após a crise americana. Até já esteve mais alto, mas, para nós, mortais comuns, que aparentemente não estamos à beira do abismo, não se afigura como aplicação rentável.
• Imóveis – aquisição
Subiram tudo e mais alguma coisa que tinham direito. Não despencam porque não estamos em crise, mas vão patinar no mesmo patamar por uns bons anos. Sempre poderão surgir oportunidades pontuais, mas a regra é muita oferta e procura prudente.
• Imóveis – locação
Ainda se consegue em alguns casos até 0,4% ao mês, o que comparativamente com renda fixa é excepcional, mas exige muita competência na sua aquisição e administração. Se o vizinho ceder no preço o locatário entrega o imóvel. A inadimplência também pode aparecer, as reformas a cada troca, mais o tempo de espera para relocar, mais a comissão do corretor, mais o imposto de renda fazem, com que às vezes as aparências sejam enganosas.
• Imóveis – Fundos

Há que se entender de mercado imobiliário, analisar a composição da carteira e ter certeza da idoneidade do administrador. Pode ser uma grande fria.

Como vemos, o momento é de incerteza. A grande festa acabou, a próxima ocorrerá (porque a memória é curta e todas as novas gerações são ousadas), mas ainda demora um pouco.

Recado final: cuidado com as aventuras, nestes momentos de incerteza é muito comum milagreiros ofertarem negócios mirabolantes.

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* Engenheiro civil POLI/1965; pós-graduação (área de produção) na POLI/1970; ex-assessor do Presidente Ruy Leme no Banco Central/1968; na engenharia atuou na área de planejamento até 1971; dirigiu instituições financeiras até 1989; foi professor de Mercado de Capitais em cursos de especialização do Instituto Mauá de Tecnologia/80; escreveu livros; desde 1990 atua na área de consultoria financeira de empresas de Engenharia. Foi presidente do Conselho Consultivo do Instituto de Engenharia.

*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo