Reformar um apartamento está mais complicado – e caro. Condomínios aumentaram as exigências em relação às obras internas por mais simples que pareçam. Em edifícios de alto padrão, o proprietário agora precisa apresentar planta e ter um engenheiro para acompanhar todo o processo. Há casos em que a reforma só começa após reunião de administradora, síndico e dono do imóvel. E tudo tem de ser devidamente documentado por um advogado. “Os prédios mudaram de postura e ficaram radicais quando o assunto é reforma”, resume o consultor jurídico Márcio Rachkorsky.
A queda do Edifício Liberdade, no centro do Rio, em janeiro, provou que reformas mal feitas podem representar sérios riscos. E síndicos se conscientizaram de que não dá para deixar a segurança apenas a encargo do bom senso do morador. Levar uma reforma a sério significa contratar profissionais especializados e tirar na subprefeitura a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), entre outras medidas (veja ao lado). “Condôminos também estão mais atentos. Um vizinho vigia o outro. Basta alguém escutar barulho de furadeira que o interfone do síndico toca”, diz Rachkorsky.
Foi por causa de um vizinho que Edgar Xavier, de 58 anos, profissional da área financeira, teve problemas na subprefeitura. Ele costuma comprar apartamentos velhos para reformar e vender. Tem até equipe para tocar as empreitadas. “Por menores que sejam as mudanças, em apartamento antigo há sempre necessidade de derrubar uma ou outra parede para ampliar ambientes. Também troco os sistemas elétrico e hidráulico, além de piso e azulejos das áreas frias.”
Quando os pedreiros começaram a dar marretadas nas paredes, uma vizinha tocou a campainha de Xavier. Ele avisou que havia comunicado ao síndico sobre a reforma. Não satisfeita, ela foi à Subprefeitura de Pinheiros e fez denúncia, alegando que as modificações poderiam colocar em risco o prédio. Xavier foi chamado. Apresentou seu projeto, mas os técnicos pediram a planta original do prédio. “Era um edifício com mais de 50 anos”, explica. Xavier tentou achar a construtora, mas ela não existe mais. Resolveu então continuar a obra, achando que não teria problemas. Mas se deu mal. A vizinha avisou que a reforma continuava. Os fiscais foram ao local e embargaram a obra.
Mesmo quando todas as regras são cumpridas – há até um responsável pela obra-, alguns prédios não diminuem as exigências. Foram três meses de discussões e duas reuniões de condomínio para que a arquiteta Fernanda Negrelli conseguisse aprovar o projeto da cobertura da varanda do apartamento de um cliente na Vila Leopoldina, zona oeste. “O terraço tinha cerca de 100 m². A ideia era cobrir com vidro e aproveitar para construir um salão gourmet”, explica Fernanda. “Em outra área, eu tinha pensado em trocar a piscina de lugar.”
Quando o projeto foi apresentado ao síndico, começaram os questionamentos. Primeiro havia dúvidas sobre o padrão da cobertura e depois se a estrutura do prédio suportaria o peso da cobertura de vidro, mesmo sendo sustentada por aço. Fernanda chamou um engenheiro calculista. Para aumentar a segurança, planejou a construção de uma viga extra, que se encaixaria na viga do prédio. “A essa altura, já tinha desistido da piscina.” Ainda assim, foi exigido que o engenheiro contratado pelo condomínio acompanhasse a obra.
Pressão. Em geral, quando uma reforma começa, o síndico visita o apartamento. Alguns até tiram fotos dos ambientes antes de a intervenção começar. O retrato serve de base para checar depois da obra finalizada se o combinado foi respeitado.
“Hoje são tantas as exigências que mudei meu método de reforma”, diz o arquiteto Gustavo Calazans. “Evito quebra-quebra usando revestimentos. Como passamos por um boom da construção, faltam profissionais especializados. O preço da mão de obra triplicou nos últimos cinco anos. Ficou tão complicado e caro reformar que virei adepto de soluções sustentáveis.”
Autor: O Estado de S.Paulo