No começo dos anos 1960, o Departamento de Pesquisa Naval dos EUA precisava de uma nova forma de estudar alvos acústicos para foguetes submarinos. A embarcação precisava ser silenciosa e estável — mais uma boia do que um barco. O design que bateu com os requisitos acabou se tornando o único barco de pesquisa manejável na vertical do mundo. Isso, ou o Transformer mais bobo desde o Bumblebee.
O Floating Instrument Platform, apelidado de barco FLIP, não é de fato um barco — é um híbrido de barcaça/boia. Desenvolvido por Dr. Fred Fisher e Dr. Fred Spiess em 1962 como uma plataforma mais estável para registrar formas de ondas, o FLIP é uma barcaça de 700 toneladas e 108 metros de comprimento baseada em San Diego, California, operada pelo Instituto de Oceanografia Scripps.
Seu formato é como o de um taco de baseball — intencionalmente desenhado em homenagem a Louisville Slugger — e construído para rotacionar do estado normal na horizontal para o vertical bombeando 700 toneladas de água através de uma série especial de anteparas. Como uma embarcação sem motor não só chega ao meio do oceano, mas vira verticalmente 90º? Com muito cuidado.
Como não tem motor, ele precisa ser rebocado até o local de pesquisa. Uma vez lá, o FLIP joga uma combinação de suas três âncoras — cada uma é uma série de linhas de nylon tecidas em forma de elos, conectadas a um corpo oco que se enche de água para pesar 9 toneladas. Ela então começa a encher tanques de lastro localizados na “alça” no fim do navio. Na medida em que ela começa a afundar, ele levanta a outra extremidade para fora da água — o equivalente a cinco andares. O processo todo leva apenas 30 minutos e é movido por um trio de motores a diesel com uma saída combinada de 340 kilowatts. Todo o processo é revertido usando 85 m³ de ar comprimido (guardados em 250psi) para forçar a água para fora; leva o mesmo tempo.
“Os últimos 15º de movimento antes de chegar à vertical acontece rapidamente e é especialmente empolgante porque o deque externo, onde todos ficam posicionados, parece estar afundando no mar,” conta o Capitão William A. Gaines, diretor-assistente do Laboratório de Física Marinha do Instituto de Oceanografia Scripps. “A tripulação e os pilotos permanecem nos deques externos durante a evolução da virada. O mais baixo fica a cerca de 4,5 metros acima da linha da água quando o FLIP está na vertical. Há muito ruído por causa do ar restante dos tanques de lastro escapam das linhas de ventilação no deque externo mais baixo.”
Embora colocar um navio na vertical no meio do oceano soe como a receita para um desastre, o formato de taco de baseball é notavelmente estável. “Um critério de projeto do FLIP é que ele se move menos que um décimo da altura de uma onda que esteja passando,” disse Gaines. Isso significa que em uma onda de 9 metros de altura, o FLIP se move apenas 90 cm verticalmente. Mais que isso, o FLIP é capaz de lidar mesmo com enormes ondas de ~25 metros. No geral, ele pode operar com segurança em águas rasas ou em oceano aberto em áreas que excedem 2 mil metros de profundidade.
Como o interior do FLIP entra em “modo Inception” durante a sua transformação, precauções foram tomadas. Todo o equipamento pesado — das camas aos banheiros ao equipamento de cozinha e geradores — são montados em munhões (pinos de articulação) que mantêm os equipamentos na posição correta independente da forma que o barco se encontre. A maioria dos recintos tem duas portas — uma vertical, uma horizontal. Os chuveiros do barco, pias e outros encanamentos são feitos da mesma forma. O equipamento científico é guardado em gabinetes anexos em paredes que giram junto com o FLIP sem afetar o delicado equilíbrio científico.
“Ele foi construído em 1962 para refinar a mira acústica para foguetes submarinos, mas os cientistas rapidamente perceberam que ele seria útil em todos os tipos de pesquisa,” disse Gaines à Popular Mechanics. No momento, uma tripulação de 5 pessoas e um time de 11 cientistas rotativos conduzem uma grande variedade de pesquisas na costa da California — monitoram tudo, de chamados de baleias a terremotos na subsuperfície usando os hidrofones sensíveis da embarcação, bem como a temperatura, altura e densidade das ondas usando sensores embaixo. Ele é capaz até de gravar a dinâmica de fluídos em cada onda usando um sonar Doppler. “É difícil mensurar coisas que se mexem tanto e tão rapidamente, como ondas, de um barco que fica balançando,” diz Robert Pinkel, oceanógrafo físico de Scripps. “Passei alguns anos no FLIP durante a minha vida — foram uma bênção.” O FLIP completou mais de 300 operações até agora em seus 45 anos de serviços prestados.
Autor: GizModo