Os ‘founding fathers’ da engenharia, que presidiram em SP a criação das escolas Politécnica e Mackenzie, bem como do próprio IE, não pressentiam eles próprios o que seria a engenharia que viria depois a partir dos fundamentos do que realizaram. O inicio do século XX iria definir a engenharia nacional que teríamos no futuro.
As escolas de engenharia foram concebidas e tiveram o apoio de professores europeus, uma e americanos, outra. Se fosse hoje, diríamos que essas escolas nasceram globalizadas.
A República, então recém instalada, introduziu na sua primeira constituição, o regime federativo com transferência de grande parte dos poderes do antigo governo imperial central para as oligarquias estaduais. Foi isso que permitiu à República ser aceita sem grande resistência. A não ser a que aconteceu em Canudos retratado por Euclides da Cunha, engenheiro militar, mas que exerceu sua engenharia no DOP de S.Paulo. E de tudo isso SP soube aproveitar-se muito bem fazendo o primeiro presidente civil da República.
O IE desde seu início aglutinou a engenharia para a indústria, que começava a surgir como o polo de desenvolvimento mais importante do país, no planalto de Piratininga e que precisava ter ligação com o mar e com o interior agrícola.
Depois de passar por áreas alugadas em alguns prédios no centro, o IE juntou-se com a também nascente FIESP e ocupou metade de um edifício moderno construído no Viaduto D.Maria Paula. O IE era então presidido por Roberto Simonsen, igualmente presidente da FIESP.
As duas Guerras Mundiais, a primeira de 1914/1918 e a segunda de 1939/1945, foram de grande importância para o Brasil. Sobretudo no crescimento industrial, particularmente em São Paulo. A interrupção do comércio marítimo mundial, nos dois conflitos, impediu as importações e incentivou a produção industrial.
Também a partir dos anos 30 a mudança ocorrida na política federal impulsionou um novo modelo de desenvolvimento econômico que fez com que o Brasil ponteasse os maiores índices do crescimento do PIB mundial durante quase meio século, de 30 até os anos 80.
Ao fim desse período somaram-se ao acervo da engenharia nacional a conclusão de obras exitosas como as grandes hidrelétricas de Itaipú, Ilha Solteira, Furnas, os complexos siderúrgicos nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, as grandes rodovias de classe A de São Paulo, a Ferrovia do Aço, o aparelhamento dos portos de Santos, Rio de Janeiro, Itaquí, Ponta da Madeira, o Metrô de São Paulo, todos projeto do ‘tamanho do Brasil’. A engenharia nacional dando seu exemplo em escala mundial.
Na década de 80, perdemos o rumo.
O crescimento do PIB anual daí para cá tem sido frustrante.
E, logo depois, a autarquia brasileira, construída com proteção ao produto nacional, e que foi eficiente desde 30 por 50 anos, não teve mais espaço ante um mundo que iniciava um novo modelo, a globalização. A globalização, consequência inevitável da tecnologia da informação, incluiu no mercado global metade do mundo até então reservado aos países desenvolvidos do Ocidente, principalmente.
A globalização não foi danosa para todos os países. Para China e Índia foi o contrário.
Foi algo para a qual a nossa estratégia macroeconômica não tomou em conta, mesmo depois da brilhante solução alcançada no Plano Real. Durante os últimos dez anos o governo federal aumentou sua dívida interna, o real continuamente se valorizou e o Brasil reciclou sua economia dirigindo-se à exportação de commodities. A recessão mundial contagiou-nos agora igual a sarampo.
No entanto, as nossas necessidades de infraestrutura continuam as mesmas. Não dá para construir uma hidrelétrica menor que a capacidade do rio, nem uma siderúrgica sem escala que não seja competitiva, nem rodovias que não atendam ao escoamento em qualquer época do ano, nem transportes públicos que não sejam eficientes. E nada disso fora que seja a tecnologia mais moderna.
E agora?
E agora, José?
‘A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
…
E agora ‘IÉ’?
Continua no próximo capítulo…