A prolongada crise econômica do País, que perdurou no último quartil do século XX, é a efetiva causa da estagnação no crescimento do nosso quadro de associados nesse período, como, aliás, aconteceu agudamente com a própria profissão do engenheiro. Precisamos abandonar a ingênua ideia de que o jovem engenheiro deseja apenas vantagens gratuitas e que, sem um leque de ofertas colaterais
(também uma mera ilação de desinformados), o Instituto perdeu associados ou não os atraiu.
Basta conjeturar que, num período de 10 anos, entre 1995 e 2005, formaram-se em nosso Estado de São Paulo, apenas 10 mil engenheiros. Estarrecedor, não é mesmo?
Nós, do Instituto de Engenharia, podemos e devemos continuar a busca na recuperação de adesões às nossas divisões técnicas; na oferta de cursos técnicos complementares atraentes aos profissionais que estão no mercado; na continuidade de realização de eventos para evidenciar as opiniões da classe e outras tantas atividades que arrefeceram no bojo da crise a que acima me referi. Porém, esse esforço, certamente extraordinário, não pode ser aceito como suficiente para angariar os fundos necessários à operação da entidade.
Vale a pena relermos os objetivos estatutários do Instituto, assim como o teor de sua “missão”, uma vez que esses documentos os associados devem obedecer, sobretudo se a eles tiveram acesso no ato de sua inscrição.
O Instituto de Engenharia não é órgão sindical, não é associação de negociantes e tampouco é agente regulador ou fiscalizador do exercício profissional da atividade econômica. Aqui não se discutem as relações contratuais e remunerativas da prática da engenharia. O foco essencial do nosso Instituto
é tratar a engenharia como técnica, ciência e arte, exercida em benefício da humanidade.
Portanto, o Instituto não é um balcão de negócios e nem uma câmara de benesses. Sua atratividade, como elemento vital, é incorporar o espírito universal do homem, tornando-o a casa do cidadão formado em engenharia. Ser sócio do Instituto deve ser pensado como motivo de orgulho e honra, pois aqui o associado tem as mais livres condições de oferecer suas contribuições intelectivas, somente pelo engrandecimento de uma gloriosa profissão. O lema “levar vantagem em tudo” deve ser sumariamente rechaçado, sob pena de, em curto espaço de tempo, nossa Casa cair na desmoralização.
Tenho a firme convicção de que, a despeito de algumas crises ao longo do tempo, o Instituto de Engenharia manteve, ininterruptamente, por já quase cem anos, o mais alto prestígio
na sociedade paulistana, paulista e brasileira porque nem seus sócios e muito menos seus dirigentes se desviaram desses princípios éticos. Impensável seria conduzirmos nossos interesses
para a prática de negociozinhos subalternos.
Sob tal orientação, desde o insigne Eng. Francisco de Paula Souza, todos os presidentes do Instituto se recusaram a abastardar nossa instituição. São aspectos morais e de princípio vital, imutáveis ao longo dos tempos e das ondas comportamentais regidas pelo egoísmo e pela esperteza.
Existe uma pletora de ideias salvacionistas para o Instituto apresentadas à Diretoria. Porém, nenhuma dessas proposituras vêm acompanhada de um projeto administrativo em que se examine iminarmente a factibilidade estatutária e, na sequência, se apresentem o escopo detalhado, os custos envolvidos, as fontes de recursos financeiros, o cronograma de implantação e as receitas seguras, esperadas para a sustentação do projeto. Não basta lançar ao ar uma conjectura qualquer e depois verberar
iradamente contra a sua não realização.
Toda a dificuldade em imaginar “planos estratégicos” ou “planos de negócios” para o Instituto de Engenharia reside no fato de que confiança e honradez, nossos “produtos essenciais”, não podem ser vendidos ou barganhados. Apenas podem ser almejados por pessoas comprometidas com os
sentimentos difusos de patriotismo ou cidadania. Concreto, mensurável e real é o objetivo, não desta gestão, mas de todas as demais que nos antecederam, é a construção de nosso prédio, cuja renda, efetiva e não suposta, proveniente de locação dos espaços, terá condição de sustentar nossos
custos operacionais e, assim, podermos cumprir serenamente nossa missão.
Aluizio de Barros Fagundes
Engenheiro civil. Ex-presidente do Instituto de Engenharia e atual membro dos Conselhos Deliberativo e Consultivo do IE.