Do ponto de vista da engenharia, a Segunda Guerra Mundial foi um período de evolução sem igual. Num intervalo de seis anos, exércitos que ainda utilizavam a cavalaria de forma literal – com cavalos – foram substituídos por divisões blindadas com tanques de até 76 toneladas. Na ponta de lança dessa corrida tecnológica estava a Alemanha e sua já prestigiada indústria automotiva. Eis o que de melhor ela produziu.
VW Type 166 “Schwimmwagen”
Do ponto de vista da engenharia, a Segunda Guerra Mundial foi um período de evolução sem igual. Num intervalo de seis anos, exércitos que ainda utilizavam a cavalaria de forma literal – com cavalos – foram substituídos por divisões blindadas com tanques de até 76 toneladas. Na ponta de lança dessa corrida tecnológica estava a Alemanha e sua já prestigiada indústria automotiva. Eis o que de melhor ela produziu.
VW Type 166 “Schwimmwagen”
Com base no Volkswagen Type 82 “Kübelwagen”, o jipe militar que fora baseado no Fusca alemão, Ferdinand Porsche (o avô do Ferdinand que criou o Porsche 911 e faleceu mês passado) idealizou uma carroceria em forma de casco flutuante, e equipou-o com tração nas quatro rodas e diferencial blocante em ambos os eixos. Na água, uma hélice era acoplada ao virabrequim do motor traseiro, e a direção era determinada pelas rodas dianteiras, que atuavam como lemes.
O resultado dessa simplicidade? Mais de 15 mil unidades construídas para a Wehrmacht, o que torna o Schwimmwagen o anfíbio mais numeroso de todos os tempos. Poucos sobreviveram intactos – e um deles vive e se exibe no Brasil.
BMW R75 e Zündapp KS 750
O substituto natural do soldado montado num cavalo poderia ser ele pilotando uma moto. Duas fabricantes – BMW e Zündapp – construíram ao todo 35 mil de conjuntos de motos e sidecars. Ambos seguiam as mesmas especificações, com motores de dois cilindros opostos com comando no bloco, 750 cm³, quatro marchas à frente e ré, diferencial blocante no eixo formado pela roda traseira e a roda do sidecar, seletor de relações de marchas para terrenos on-road e off-road e suporte para uma metralhadora MG 34 de 7,92 mm.
Mais leve e ágil, a Zündapp KS 750 era a preferida, e a partir de 1942 os conjuntos foram unificados para a configuração de moto KS 750 e sidecar BMW. Refinadas e ao mesmo tempo robustas, inspiraram os americanos a encomendar algo parecido para a Harley Davidson, e hoje valem ouro. Mesmo na época, saiu caro para os alemães: cada kit custava o dobro de um VW Kübelwagen militar.
Sd.Kfz. 250 e 251
A verdadeira revolução da Blitzkrieg foi o emprego maciço de tanques e transportes de tropas que rompiam os pontos frágeis das defesas inimigas e os exploravam com velocidade atordoante. Dentro dessa tática, coube aos Sd.Kfz 250 e 251 o papel de transportar em qualquer terreno uma equipe de fogo completa, entre 7 e 13 integrantes, até a linha de frente. As quase 30 mil unidades produzidas demonstraram eficiência em todos os fronts, e pelo 23 variantes foram desenvolvidas para diferentes missões
A tração era proporcionada pelas esteiras traseiras, enquanto a direção era dada pelas rodas dianteiras, mas a esteira do lado interno das curvas podia ser freada para girar sobre o próprio eixo e agilizar as manobras. O conceito de half-track não era novo: já havia sido empregado na Primeira Guerra Mundial por causa das vantagens em terrenos off-road e por distribuir melhor (por uma área mais ampla) a pressão do peso sobre o solo. Algo parecido seria produzido em massa pelos EUA nas séries M2, M3, M5 e M9.
Sd.Kfz. 234 Puma
No início da Segunda Guerra, o reconhecimento do que havia à frente das divisões de tanques era feito por carros blindados simples, leves e com armamento quase sutil. Em menos de cinco anos, os exploradores evoluíram para o Sd.Kfz. 234 Puma, um complexo blindado de oito rodas com tração e esterçamento integrais, 12 toneladas de peso e um canhão de 75 mm equivalente à dos tanques médios da época.
Ainda espantosamente atual, o Puma tinha ótimo desempenho off-road, longo alcance (entre 560 e 1.000 km em estradas), três vezes a velocidade dos melhores tanque da época e um motor Tatra V12 produzido na Tchecoslováquia então ocupada. Sua blindagem não suportava o impacto de canhões de grosso calibre, mas isso não era fundamental na missão de mostrar o caminho para os companheiros da pesada, os Panzer.
Panzer 35 / 38 (t)
Quando foi anexada pelo Reich, em 1938, a Tchecoslováquia possuía um indústria bélica florescente, e que seria bastante aproveitada pelos nazistas. Os destaques foram os tanques Skoda Lt 35 e 38, modernos e resistentes, armados com canhões de 37 mm e tecnicamente superiores aos Panzer I e II. Os alemães autorizaram a conclusão do desenvolvimento e a produção do Lt 38, e o rebatizaram como Panzer 38 (t).
Além das tarefas originais, vários foram reconfigurados para outras missões, como o canhão de artilharia autopropulsado Bison e o caçador de tanques Jagdpanzer 38 (t).
Panzer IV Sd.Kfz. 161
Os veículos Panzer I, II e III não eram os melhores da época, mas conseguiram esmagar franceses e ingleses em 1940 graças às táticas da Blitzkrieg. O primeiro tanque alemão a se estabelecer como referência foi o Panzer IV. Ele aliava mobilidade, robustez e o poder de fogo dos canhões de 75 mm em uma célula cuja blindagem seria bastante aperfeiçoada ao longo do tempo.
Verdadeira coluna vertebral do Exército alemão durante todo o conflito, quase 10 mil unidades foram produzidas entre 1939 e 1945, em diversas versões. Os últimos permaneceriam em serviço na Síria até o final da década de 60.
Panzer V Sd. Kfz. 171 Panther
Quando as orgulhosas divisões Panzer se depararam com os primeiros tanques soviéticos T-34 no verão de 1941, durante a operação Barbarossa, foi um choque. Para manter o equilíbrio, a Wehrmacht estudou T-34 capturados e determinou requisitos semelhantes, como as superfícies em ângulo para defletir balisticamente os impactos dos canhões inimigos.
Apesar de alguns problemas sérios de quebras na transmissão, foi o melhor tanque produzido pelos alemães, com grande poder de fogo, alta mobilidade e boa blindagem frontal.
Panzer VI Sd.Kfz. 181 Tiger
Em duas oportunidades, no front oriental e no ocidental, um único Tiger destruiu mais de 20 tanques aliados e impediu sozinho a passagem de uma divisão inteira antes de ser subjugado. Quase indestrutível e armado com um canhão de 88 mm, criou fama aterrorizante entre quem o enfrentou – principalmente os americanos, incapazes de fazer cócegas com seus M4 Sherman.
Mas suas 60 toneladas eram um empecilho para o transporte por pontes e vias não pavimentadas. Pior que isso, exigiam demais do conjunto mecânico – um Maybach V12 de 24 litros e 700 cavalos. Mesmo assim, os alemães investiram em uma variante ainda maior, o Tiger II, com blindagem angulada e incríveis 76 toneladas de peso.
Sd. Kfz. 165 Hummel
Para garantir mobilidade sem perder a capacidade ofensiva, os alemães precisavam não apenas de tanques e soldados transportados por blindados, mas também de artilharia autopropulsada. O canhão de 150 mm sFH 18, capaz de disparos com mais de 13 km de alcance, foi montado sobre um veículo de esteiras baseado no chassi do Panzer IV, e batizado de Hummel.
O conceito deu mais flexibilidade e poder de fogo às divisões blindadas, e teve como equivalentes do lado aliado o M7 Priest americano e o Sexton britânico.
Autor: Jalopnik