A base destruída foi sendo construída aos poucos, agregando-se módulos ao corpo principal. [Imagem: Marinha do Brasil/Proantar]
Segundo a Marinha do Brasil, avaliações preliminares indicam que aproximadamente 70% das instalações da base brasileira na Antártica foram destruídas por um incêndio na madrugada do último sábado.
O prédio principal, onde ficavam a parte habitável e alguns laboratórios de pesquisas, foi completamente destruído.
Permaneceram “intactos os refúgios (módulos isolados para casos de emergência), os laboratórios (de meteorologia, de química e de estudo da alta atmosfera), os tanques de combustíveis e o heliponto da Estação, que são estruturas isoladas do prédio principal,” diz a nota da Marinha.
O incêndio começou por volta das 2h, na praça de máquinas, local onde ficam os geradores de energia – mas não os tanques de combustível, como havíamos informado anteriormente.
Dois militares morreram e um ficou ferido no acidente.
Impactos sobre as pesquisas brasileiras na Antártica
Para o diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Simões, a destruição da Estação Antártica Comandante Ferraz, comprometeu 40% do programa antártico brasileiro.
“Foram afetadas principalmente as áreas de biociência, algumas pesquisas sobre química atmosférica, de monitoramento ambiental, principalmente sobre o impacto da atividade humana naquela região do planeta. Infelizmente, isso também representou uma perda enorme em termos de equipamentos. Ainda não podemos estimar, mas ultrapassa a casa da dezena de milhões de dólares”, lamenta o pesquisador.
Segundo Simões, no entanto, o programa antártico continuará funcionando porque a Estação Comandante Ferraz, apesar de concentrar uma parte importante das pesquisas brasileiras, não era a única estação científica brasileira.
Ele explica que pelo menos metade dos pesquisadores brasileiros envolvidos em pesquisas naquele continente trabalha em navios de pesquisa ou em acampamentos avançados na Antártica.
Além disso, em janeiro deste ano foi inaugurado um módulo de pesquisa não habitado, chamado Criosfera 1, localizado a 2.500 quilômetros ao sul da Estação Comandante Ferraz. Segundo a Academia Brasileira de Ciências, essa é a estação de pesquisas latino-americana mais próxima do Pólo Sul.
“É um módulo totalmente automatizado, que coleta dados meteorológicos, de química atmosférica, inclusive dióxido de carbono, e outros estudos,” disse Simões.
De acordo com o pesquisador, a reconstrução da Estação Comandante Ferraz demorará alguns anos, em consequência das condições geográficas da Ilha Rei George.
“O processo de reconstrução, para voltar ao nível em que estava, demorará de dois a três anos. A logística é muito difícil e só podemos construir durante o verão antártico. E o inverno já está chegando”, disse.
Nova base brasileira na Antártica
Já a Marinha e o Ministério da Defesa não falam exatamente em reconstrução, mas na construção de uma “nova estação antártica brasileira”.
O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse que a nova base terá uma arquitetura nova, mais completa e orgânica.
“A nossa ideia é imediatamente, já, chamar arquitetos para fazer desenhos, inclusive um desenho mais novo. Não estou dizendo que é por isso que aconteceu o incêndio, mas, obviamente, a base começou há 30 anos, então, ali ela foi agregando um pedaço ou outro. Agora já podemos pensar em uma coisa para o futuro, digamos, de maneira mais completa, mais orgânica”, afirmou.
Ao ressaltar o “já” para o início dos trabalhos e projeto e reconstrução da nova base na Antártica, Amorim disse que isto significa que os trabalhos começam nesta segunda-feira, 27.
Ele ressaltou, no entanto, que ainda não é possível precisar quando a nova base estará pronta.
“Não quero me antecipar às investigações, mas não há nenhuma indicação de que [o incêndio] fosse algo que pudesse ser prevenido. Ainda é muito cedo [para saber o que será mudado em questões de segurança], mas, de qualquer forma, será feito o mais seguro possível. É um ambiente difícil, é um ambiente inóspito, é um ambiente sujeito a acidentes, que nós tentaremos minimizar da maneira mais absoluta. Isso sempre foi uma preocupação, mas evidentemente a segurança será redobrada”, concluiu Amorim.
Autor: Agência Brasil e Marinha do Brasil