Talvez seja a ponte das pontes. A mais romântica das pontes. Talvez seja o laranja-avermelhado de sua pintura. Talvez sejam as nuvens que a abraçam pela manhã. Ou talvez o vão livre imenso que sempre deixa transparecer o sol, o céu, a baía de São Francisco. Pois a Golden Gate Bridge começou esta semana seu ano comemorativo de seu 75º aniversário – a ponte foi inaugurada em 27 de maio de 1937. Quem espera uma nova travessia em massa pela ponte, como aconteceu em 1987 no seu 50º aniversário, esqueça. Na época, fecharam o tráfego e cerca de 250.000 pessoas (mais do dobro do esperado) atravessaram seus 2,7 quilômetros , forçando e esticando o arco da ponte, provocando pânico e até alguns acidentes, até que a polícia conseguiu acalmar e liberar a ponte.
A ponte faz parte da Califórnia State Route 1, tem uma vista da Baía de São Francisco e tem tráfego diário de 118 mil carros. (Fotos: Getty Images e Stock.Xchng)
6 dólares para passar…
As autoridades não querem que isso aconteça de novo – apesar da ponte ter flexibilidade para aguentar altas flutuações de peso e os fortes ventos da região. Engenheiros, na época, disseram que a combinação de peso e vento deram uma sensação de um leve terremoto na ponte, o que criou o pânico. Mas isso foi lá atrás. Não haverá caminhada pela ponte, e sim fogos de artifício, parada de barcos, música e performances de dança e os visitantes podem conhecer um novo museu, café e até fazer uma caminhada por trilhas nas montanhas ao redor da ponte. Fora isso, seu tráfego diário de 118 mil carros continuará – ao custo de 6 dólares por carro, sendo 11 dólares nos horários de pico.
A ponte sendo erguida, em 1937: 11 pessoas morreram durante sua construção. (Foto: Getty Images)
Ponte do impossível
Foram quatro anos para se construir a Golden Gate e, como quase toda ponte, não foi unanimidade. Na época o San Francisco Chronicle a chamou de Harpa de Ferro de 35 Milhões de Dólares, no dia de sua abertura. Antes da construção, a travessia só era possível com barcos e Ferrys. Era um interesse econômico forte para a região, pois custava um dólar por veículo a demorava 20 minutos para se passar do Hyde Street Pier em São Francisco para Sausalito, em Marin County. Mas a ponte estava vindo, apesar dos engenheiros inicialmente garantirem que era impossível se construir uma sobre um vão de mais de dois quilômetros, por causa das marés e correntezas, profundidade de 150 metros e fortes ventos. Até a neblina era considerada problema.
A neblina que costuma encobrir a ponte, os telefones de emergência para potenciais suicídas e a vista da Baker Beach da ponte. (Fotos: Getty Images)
Um pequeno engenheiro…
Os primeiros projetos batiam em 100 milhões de dólares para a construção – impraticáveis. Até que o engenheiro e poeta Joseph Strauss respondeu a um apelo de São Francisco por um projeto mais viável. Ele havia feito um projeto para sua tese de graduação de uma ponte de 89 quilômetros sobre o Estreito de Bering. Nunca havia construído nada de grande porte, somente algumas pontes levadiças e em terra, em sua maior parte. Seu projeto inicial foi modificado e ele aceitou que experts palpitassem no desenho – ficou quase uma década nisso, esperando as autoridades terminarem uma briga com todo mundo, até o Departamento de Guerra dos Estados Unidos, que temia que a ponte impedisse o tráfego de navios e até gerasse motivos para sabotagem.
O engenheiro obscuro
O designer principal (Strauss tinha pouco conhecimento de pontes suspensas) foi o mesmo que fez a Manhattan Bridge em Nova York, Leon Moisseiff. Irving Morrow cuidou do formato das torres da ponte e elementos Art Deco, como luzes de rua, passagem de pedestres. A famosa cor laranja-avermelhada (ou Laranja Internacional) foi uma insistência de moradores e foi aceita. Um dos projetistas foi deixado na obscuridade por muitos anos: Charles Alton Ellis. Ele foi o responsável pela maior parte dos cálculos que determinaram o formato da ponte e segurança – Strauss o demitiu e abafou sua importância no projeto, que só foi admitida pela Golden Gate Bridge District aos 70 anos da ponte, em um relatório. Ellis ganhou a maior parte do crédito pelo formato da ponte.
Mortes e suicídios
A construção começou em 5 de janeiro de 1933 e terminou em abril de 1937 – mas 11 pessoas perderam a vida durante esse processo. A ponte é um dos locais de maior suicídio do mundo, chegando a 1.200 casos até 2005 e um caso a cada duas semanas (São Francisco evita divulgar esses números, para não estimular mais saltos). Geralmente a morte é causada pelo impacto com a água, mas os poucos que sobrevivem morrem por afogamento ou hiportermina por causa da gélida água. Já levantaram a hipótese de colocar redes embaixo da ponte e outras possibilidades, mas São Francisco não aprovou nenhuma delas – algumas por motivos de segurança da ponte e outras por motivos estéticos. No trajeto para pedestres existem telefones sinalizando “linha para aconselhamento”, caso alguém mude de ideia. Um documentário sobre o assunto foi feito: The Bridge, de 2006, que filmou 23 pulos. “A Golden Gate é um hoje um testamento de inovação e imaginação, uma ponte construída por pessoas durante a Grande Depressão”, disse Janet Reilly, presidente do comitê do distrito da Golden Gate
Autor: GQ Brasil