Rousseau ressaltava que a função da cidade, acima de todas as outras, era fazer com que seus moradores fossem cidadãos felizes.
A proposição do filósofo divide-se em dois pontos fundamentais. Cidadania e Felicidade. A cidadania extrapola o simples residir da cidade, implica para ele no conjunto de direitos e deveres que o morador deve ter para que possa de fato ser considerado cidadão. Em especial o direito de participar nas decisões da cidade – porque para ele a cidadania é fundamentalmente um conceito político e o dever de defender a cidade.
O conceito de Felicidade que ele menciona é mais abstrato, mas é fundamentalmente uma crítica às visões meramente cosméticas do que seja gerir uma cidade, focando obras e embelezamentos, mas esquecendo aquilo que é o principal que é fazer de seus moradores bons cidadãos e pessoas felizes.
A ênfase que o filósofo coloca nesta prioridade ao aspecto humano e moral da cidade fez com que nem mesmo a Atenas Clássica, apontada como ideal de cidade e de democracia, seja poupada por ele.
Comentando a gestão do mais famoso dos políticos gregos, Péricles, Rousseau aguilhoa: “…perguntarei unicamente se os atenienses se tornaram melhores ou piores sob o seu governo; pedirei que nomeiem alguém entre os cidadãos, entre os escravos ou até entre as crianças, que graças a seus cuidados, se tenha tornado um homem de bem. Aí está, parece-me, a primeira função do magistrado e do soberano, uma vez que o meio mais rápido e certo de tornar os homens felizes não é ornamentar suas cidades nem mesmo enriquecê-las, mas sim torná-los bons.”
Esta preocupação com o aspecto visual e material da cidade sequer pode ser considerada uma “preocupação estética”, na medida em que o verdadeiro senso estético, nas palavras do urbanista italiano Roberto Guiducci:
“Se a racionalidade e a capacidade de conhecimento são inerentes tanto à arte quanto às ciências, seria muito difícil poder pensar que seja atingível um efetivo resultado estético trabalhando por fragmentos, sem bússola de referência ou, ainda pior, por objetivos supérfluos ou contraproducentes para o conjunto da sociedade”.
Hoje estamos aqui celebrando os 95 anos do Instituto de Engenharia não só pelas obras que seus dirigentes e membros construíram nesta cidade. Celebramos aqui exatamente o pleno exercício da cidadania que o IE promoveu nesta longa relação com a cidade.
Cidadania exatamente nos dois sentidos apontados por Rousseau, de um lado porque o IE está sempre contribuindo de forma muito significativa para debater as necessidades de São Paulo, sempre contribuindo com seu olhar crítico e técnico para analisar a cidade que se ia construindo, sempre buscou estimular seus integrantes a ter voz ativa nas decisões da cidade.
Ao mesmo tempo o IE tem sido uma das grandes bússolas que ajudam a refletir sobre a cidade, a construir uma visão global, não fragmentária, focando naquilo que é essencial e tendo a perfeita clareza de que este foco é o ser humano, na sua luta pelo direito inalienável a felicidade.
Acima de tudo o esforço do IE em formar aqueles que estavam sob os seus cuidados em “homens de bem” – cumprindo uma função pública que, como bem disse Rousseau, é a própria essência da verdadeira e legítima ação pública.
Assim só podemos agradecer ao IE, em nome da população que elegeu os parlamentares desta casa, por toda esta luz e beleza que o IE vem trazendo há 95 anos para São Paulo.