Há precisamente 95 anos, em 13 de outubro de 1916, um grupo de abnegados engenheiros reuniu-se e decidiu criar uma entidade de defesa e valorização da engenharia.
A profissão do engenheiro tomava corpo no Brasil.
Existia tudo por fazer:
• aperfeiçoar e adaptar os cursos de engenharia, então relativamente recentes;
• incentivar a adesão à carreira;
• formar professores;
• aumentar o número de faculdades, modalidades e alunos;
• regulamentar e fiscalizar a profissão;
• estabelecer direitos e deveres na atividade;
• reunir os profissionais com interesses afins;
• divulgar trabalhos técnicos importados e produzidos no país;
• criar normas técnicas;
• organizar formas de contratação de serviços de engenharia;
• aparelhar órgãos públicos para gerir obras e serviços de infraestrutura; dentre muitas outras demandas do século tecnológico que se iniciava, o Século XX.
O grupo fundador teve a notável percepção que faltava uma entidade centralizadora dessas demandas, onde se formulassem as respectivas soluções. Assim nasceu o nosso Instituto de Engenharia.
Fiel aos primeiros objetivos sociais, o Instituto prossegue em sua missão de engrandecer a engenharia, em benefício do desenvolvimento e da qualidade de vida da Sociedade, promovendo:
• atualização técnica e valorização da Engenharia;
• melhor desempenho e credibilidade dos profissionais;
• prestação de serviços à Sociedade;
• realização de fóruns e debates sobre problemas de interesse público;
• análise e manifestação sobre políticas, programas e ações governamentais;
• elaboração de estudos, pareceres e proposituras para o Poder Público e para a iniciativa privada;
• prestação de serviços aos associados.
Nossas ações são dirigidas à comunidade em geral, órgãos públicos, organizações não-governamentais, indústria, comércio, serviços, empresas de engenharia, engenheiros e demais profissionais especializados, institutos de pesquisas, estudantes e escolas de engenharia.
A semente foi boa e a terra, fértil.
Sempre o Instituto se manifestou nos problemas de grande repercussão e naqueles do dia-a-dia. Dificilmente qualquer assunto de engenharia não foi estudado e discutido em nossa entidade. Mas alguns feitos foram notáveis:
• O primeiro plano diretor da capital de São Paulo foi elaborado dentro do Instituto.
• O principal núcleo de alistamento na Revolução Constitucionalista de 1932 estava no IE.
• O Sindicato dos Engenheiros foi discutido e criado aqui.
• O CREA foi organizado pelo Instituto de Engenharia.
• A Escola de Engenharia Mauá, referência nacional em engenharia industrial e civil, nasceu dentro de nossa casa.
• O PROÁLCOOL foi idealizado e fomentado no IE.
• A COSIPA, que alavancou nossa indústria de base, foi concebida em nossas dependências.
• A primeira câmara brasileira especializada na mediação e arbitragem em conflitos de contratos de engenharia, foi por nós criada, a CMA-IE, que tive a honra de organizar há 14 anos e da qual fui o primeiro Diretor Geral.
• E por aí vai…
Temos 26 Divisões Técnicas, nas quais interagem engenheiros altamente especializados, promovendo cursos, seminários, debates, constituindo o núcleo de interesse da classe. Vale lembrar que a maioria das associações especializadas hoje existentes, foram germinadas dentro de nossas divisões técnicas. Mas o prestígio do Instituto de Engenharia em suas manifestações técnicas continua intocado.
Grandes patriotas passaram pela casa, muitos ocupando cargos de direção. Foram engenheiros da têmpera de Paula Souza, Ramos de Azevedo, Francisco Monlevade, Roberto Simonsen, Prudente de Moraes Neto, Plínio de Queiroz, Falcão Bauer, Lauro Rios, só para citar alguns que já nos deixaram, que presidiram este Instituto.
Por aqui estiveram mais de 30 mil engenheiros, todos associados voluntários. Passou pela casa a nata da engenharia paulista e brasileira. Se me atrevesse a citar os caros engenheiros que tanto honraram a profissão e esta instituição, levaria algumas horas declinando seus nomes.
Resta-nos, pois, homenagear a classe, através de colegas notáveis que de um modo ou de outro percorreram os caminhos da missão do Instituto de Engenharia, que há pouco citei. No Instituto de Engenharia, além da comenda do “Eminente Engenheiro do Ano” outorgada a um profissional destacado, no dia do engenheiro, comemorado em 11 de dezembro, temos uma homenagem muito especial que é o prêmio Engenheiro Antonio Francisco de Paula Souza, outorgado também a personalidades da engenharia, tidas como lídimas representantes da classe. É a homenagem aos nossos associados, que neste ano de 2011 estão representados por três profissionais da engenharia, que logo mais serão apresentados ao público.
Portanto, meu caro Presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, José Police Neto, é uma subida honra recebermos esta homenagem de V.Excia. na comemoração solene do nosso 95.º aniversário. Fica consignada nossa emocionada gratidão.
Agradecemos ainda a notável oportunidade de também solenizarmos a nossa posse no mandato 2011/2013. Fui re-eleito presidente do Instituto de Engenharia, e comigo muitos dos colegas da Diretoria Executiva, assim como metade do Conselho Deliberativo, composto por 30 membros no total. Já estamos em pleno exercício dos nossos mandatos, mediante da posse administrativa ocorrida em abril deste ano. Mas a comunicação solene e festiva, na data do aniversário o Instituto de Engenharia, nesta casa de leis, nos emociona e nos leva e renovar nossas promessas à classe. Peço ao Eng.º João Ernesto Figueiredo, Presidente do nosso Conselho Consultivo, que, ao término deste meu discurso, enuncie os nomes dos queridos colegas que dedicam gratuitamente inúmeras horas de seu tempo, dando o mais cabal exemplo de que o voluntariado faz parte da boa índole humana.
Nosso primeiro mandato, entre abril de 2009 e março de 2011, foi marcado pelo dístico “Rumo ao Centenário”. Para nós estava clara a necessidade de repensarmos a engenharia em confronto com os novos tempos da chamada globalização. Nessa ocasião, percebia-se que a crise longa e profunda que a economia brasileira sofreu desde meados da década de 1980 estava no fim. A engenharia estava novamente sendo chamada para retomar os grandes empreendimentos.
Porém, essa retomada do progresso, conquanto auspiciosa, também prenunciava muitos problemas. A crise foi perversa. De um lado, em sua maior parte, os engenheiros de então, perderam os empregos e foram obrigados a mudar de atividade. De outro lado, a procura pelas escolas de engenharia declinou sensivelmente, e nesse período, formaram-se pouquíssimos profissionais. Como atender à nova demanda que se iniciava?
Nos dias de hoje, os quadros funcionais das empresas de engenharia trabalham sobrecarregados. Alguns engenheiros estão retornando à prática da profissão. As escolas de engenharia voltaram a ser procuradas. Engenheiros estrangeiros estão buscando o novamente promissor mercado de trabalho brasileiro. Penso que o setor econômico é ágil, e tenho certeza que esse problema será superado. Mas a solução não é instantânea. Teremos cinco anos pela frente para as escolas retomarem a plena formação de novos engenheiros e outros cinco para que eles se tornem experientes. Pena que seja assim, pois é fator de inibição ao potencial de progresso que se nos apresenta nesta oportunidade.
A proximidade do centenário do Instituto de Engenharia foi emblemática para colocarmos nossos esforços a serviço dos nobilíssimos propósitos estatutários. O mundo global aí está com suas vertiginosas inovações científicas e tecnológicas. A economia não tem mais fronteiras. A sociedade empresarial suplantou o poder do estado. Vivemos um mundo totalmente novo. Como já dissemos anteriormente, em face da retomada das atividades econômicas do país, temos que fazer tudo de novo e há tudo novo por fazer.
Parece estar se repetindo a situação que nossos fundadores encontraram em 1916.
No “rumo ao centenário”, os dois anos de nosso primeiro mandato foram dedicados à busca do equacionamento da situação patrimonial do Instituto. Em 1982, o edifício do Palácio Mauá do qual o IE possuía metade, em condomínio com a CIESP, foi desapropriado pelo Governo do Estado. A proverbial morosidade das ações judiciais brasileiras nos impede até hoje de dispormos do precatório. Com tenacidade conseguimos convergir para um valor adequado da indenização, estando em vias de obter aquele título de crédito.
Outra propositura daquela campanha foi a reformulação das relações públicas do IE. Organizamos um novo site, que hoje ocupa o quinto lugar na freqüência de consultas do verbete “engenharia” no portal Google. Obtivemos uma cadeira no Colégio de Entidades do CONFEA, mediante a fundação da CONEPE, de âmbito federal. Temos liderado grandes discussões temáticas através de reuniões com entidades coirmãs, particularmente os sindicatos patronais e de profissionais. Temos buscado, com sucesso, uma boa aproximação com os governos, deles obtendo informações sobre seus planos e realizações, assim como podendo oferecer análises e opiniões. Também o IE tem abrigado discussões sobre o ensino superior de engenharia, liderando importante trabalho de revisão dos títulos de engenharia registrados no MEC, com a proposta de redução de 258 para 53 títulos. Esta aproximação com as principais escolas de engenharia de nosso estado possibilitou o acesso aos estudantes de engenharia. Cerca de 1200 sócios universitários ingressaram no IE durante nossa primeira gestão.
Agora, neste segundo mandato que nos foi confiado por 79% dos eleitores do IE, a vigorar entre abril de 2011 e março de 2013, pretendemos concluir e aprimorar as tarefas antes iniciadas, consoante o plano de nossa campanha que foi denominado “Construindo o Centenário”.
Dentro de 5 anos o Instituto de Engenharia completará 100 anos.
Com o mesmo entusiasmo e dedicação que pautaram nossa primeira gestão, poderemos completar nosso plano estratégico em busca da recuperação operacional e da preservação do prestígio que tanto nos orgulha. O plano estratégico idealizado no primeiro mandato está maduro e nos permitiu implantar uma nova estrutura organizacional da casa, mais moderna e coadunada com os tempos atuais. São dois pilares a serem erigidos.
O primeiro consistirá na construção do edifício-sede projetado, sob concurso, pelo escritório do arquiteto Rino Levi na década de 1980. O projeto executivo completo foi por nós recuperado e atualizado e o lastro do precatório da desapropriação permitira obtermos patrocínios para a sua execução. Uma vez concluída sua obra, o IE terá condições de alugar mais de 7 mil metros quadrados, gerando renda suficiente para sustentar suas operações básicas. Será uma grande vitória de todos nós, inaugurarmos essas instalações nas vésperas do nosso centenário.
O segundo pilar da reformulação de nossas atividades consistirá em três grandes programas de influência do Instituto de Engenharia.
Promoveremos a criação de um núcleo de inteligência da engenharia, destinado à retomada do “status” de setor econômico dessa atividade, em lugar da mera “commodity” a que se reduziu nos últimos 25 anos. A base de apoio desse núcleo de pensamento e doutrina será uma escola livre de gestão de negócios de engenharia, coadunada com a globalização que domina a economia mundial.
Outro programa será a consolidação de um centro de convergência do ensino de engenharia, onde as faculdades poderão discutir seus currículos em confronto com as atuais necessidades do mercado da engenharia.
E, finalmente, daremos início dia 24 de outubro próximo, muito próximo, aliás, a uma série de sete eventos espaçados de 3 a 4 meses, para discutirmos os CAMINHOS DA ENGENHARIA BRASILEIRA, visando a reconstrução da nossa infraestrutura sócio-econômica. Toda a sociedade está convidada a nos assistir. Homens de proa se pronunciarão em busca de formularmos uma proposta séria e organizada à nação.
Será importante verificar se estamos vivendo uma nova vocação como partícipes do mundo globalizado, na qualidade de apenas exportadores de alimentos e produtos primários, ou se pretenderemos recuperar e ampliar nosso parque de manufaturados. De entremeio, naquilo que também nos interessa como engenheiros, examinar as condições atuais de organizar, melhorar e implementar as atividades de prestação de serviços, tanto visando o mercado interno quanto as exportações.
Nós, engenheiros, podemos e devemos deixar de lado a postura modesta e ousar propor aos dirigentes de nosso país um verdadeiro plano de desenvolvimento econômico e social, estruturado como deve ser, e não enunciar esboços de intenções setoriais desarticuladas como vem acontecendo há mais de uma década.
Não é possível continuarmos a agir como se as intervenções necessárias fossem negócios de ocasião. Como se a solução para o problema dos transportes de longa distância fosse a implantação de um trem-bala, ligando algo a algures, talvez aqui ou acolá. Como se o bom transporte aéreo dependesse apenas de alguns novos aeroportos ou de reformas nos existentes. Como se o transporte rodoviário pudesse ser melhorado com alguns maus remendos nas estradas existentes e nada mais. Como se fosse possível incrementar as exportações apenas usando os portos de que já dispomos.
Não é possível continuarmos a acreditar que o desenvolvimento se dá sem um parque energético pujante e sobejo. Trabalhar no limite do atendimento é contratar o denominado apagão. E, não nos iludamos, a oferta de energia para quem palreia a meta de se tornar a quinta economia do mundo, tem que ser abundante, maciça e segura. Não basta, em hipótese alguma, o romantismo ambiental de resolver o problema geral com usinas eólicas ou maremotrizes. É alentador sabermos que estão em andamento os estudos e as pesquisas para a exploração do petróleo na camada pré-sal de nossa plataforma oceânica, assim como a implantação de duas grandes usinas hidroelétricas na bacia amazônica. Mas nada sabemos quanto a obras de interligação com o mercado consumidor. Acontecerá algo como a usina de biodiesel construída no Ceará, que para produzir está comprando óleo de soja comestível no cerrado do Brasil Central?
E o que dizer da infraestrutura de nossas cidades, metropolitanas, grandes, médias e pequenas? Não é exagero dizer que está em situação calamitosa. O saneamento básico, mesmo no pujante Estado de São Paulo, está muito longe de se considerar satisfatório. A mobilidade urbana nos grandes centros, diretamente afetada pela falta de drenagem pluvial nas estações chuvosas, está a exigir profundas e caríssimas intervenções, sendo necessário todo um novo planejamento urbano que induza à redução de locomoções residência-trabalho, que determine uma enérgica ampliação do transporte público coletivo, que defina novo traçado de vias públicas, ainda que a custa de desapropriações, que reveja conceitos e critérios de projetos de redes de escoamento pluvial. Os serviços públicos de saúde, segurança, ensino e lazer estão caóticos, insuficientes e ineficazes.
Tudo isso, e muito mais, é exposto ao conhecimento da população todos os dias pela mídia. Por graves que sejam, os problemas estão banalizados. Não se vêem reações por leves que sejam e não se temem convulsões como se imaginam justificáveis. Daí, cogitamos que ocorre a mãe de todos os problemas: a profunda ignorância de nosso povo, decorrente dos problemas de falta de ensino escolar adequado. É deprimente constatarmos que nosso povo, em sua grande maioria é ou analfabeto estrutural, ou analfabeto funcional, assim incapaz de compreender o que se passa à sua volta e de entender as mensagens que lhes são transmitidas. Infelizmente, também vivemos um espírito nefasto da apologia da ignorância.
O único modo de se atacar esta tragédia é a elaboração de um grande plano nacional para a recuperação do patriotismo, da intransigência com os desvios de conduta ética e legal, da decência no convívio das pessoas, da auto-estima geral, do poder de reação e da coragem, possível com a retomada da educação em todos os níveis de ensino escolar.
Embasa e faz parte integrante deste plano superior, o trabalho eficaz, a produção eficiente, o desenvolvimento econômico. É este conjunto de atitudes que a Engenharia sabe operar. É nesta seara que o Instituto de Engenharia agirá. E, com esta mensagem permeando nos nossos eventos, pretendemos romper o paradigma da desconfiança que grassou em nosso país, demonstrando que homens de bem são supinamente mais numerosos que os mal-feitores.
Autor: Aluizio de Barros Fagundes