Há 80 anos que a paisagem do Rio de Janeiro é pontuada pelo Cristo Redentor, inaugurado em 12 de outubro de 1931. Mas a presença imponente do Corcovado já era registrada por fotógrafos muito antes disso – como mostram imagens do acervo do Instituto Moreira Salles (IMS), cedidas a pedido da BBC Brasil para marcar a data.
A estrutura do Cristo Redentor em concreto armado é erguida no topo no Corcovado, no alto de seus 710 metros de altura, em registro aéreo feito por volta de 1931. Sobre a estrutura, a estátua receberia o revestimento que lhe dá forma, um mosaico de pedra-sabão. (Foto: Atribuída a S. H. Holland / Coleção Brascan Cem Anos no Brasil /IMS)
“Mesmo antes da invenção da fotografia, no início do século 19, o Corcovado já era um marco geográfico da cidade”, diz Sergio Burgi, coordenador da área de fotografia do IMS, lembrando de registros do morro em aquarelas e desenhos anteriores.
“Se você pensar na relação do Rio com a paisagem, com as montanhas, a mata, o mar, a relação com o Corcovado já era tão importante que leva à decisão de construir o Cristo no topo.”
Este é um dos primeiros registros do Corcovado, feito por volta de 1865. No primeiro plano se vê o casario da praia de Botafogo, antes dos sucessivos aterros que alargariam a orla. A importância do morro como marco geográfico da cidade já se via antes da fotografia, em desenhos e aquarelas feitos por artistas de expedições, diz Sergio Burgi. (Foto:Georges Leuzinger/ IMS)
A ligação com o morro se torna ainda mais forte após a decisão de erguer o monumento, concretizada depois da instalação da pedra fundamental em 1922 – ano da comemoração do centenário da Independência do Brasil.
“O projeto do Cristo vem agregar um novo simbolismo para aquele ponto de observação da cidade. Continua sendo um ponto de observação, mas agregado de significado religioso e simbólico, e com um monumento que tem um impacto enorme para quem chega lá”, diz Burgi.
“No século 19, ninguém dava as costas para a paisagem para ficar olhando para o outro lado”, brinca.
O Corcovado visto da Estrada das Paineiras, emoldurado pela vegetação da Floresta da Tijuca e com as praias oceânicas de Niterói ao fundo, em 1866. No alto do morro se vê o Chapéu do Sol, que garantia sombra aos visitantes do mirante. No primeiro plano está o próprio fotógrafo, Marc Ferrez, clicado por um assistente, ao lado de sua câmera e de seu filho (sentado na mureta de chapéu). (Foto: Marc Ferrez/ Coleção Gilberto Ferrez/ IMS)
As fotografias mais antigas do Corcovado no acervo do IMS são da década de 1860, mostrando o Corcovado ainda nu. O rápido crescimento da cidade pode ser acompanhado nas imagens, que miram a paisagem do Cristo, mas documentam as transformações urbanas ao seu redor.
Mesmo antes do Cristo, o Corcovado já atraía turistas, como estes que foram retratados pela revista Caras y Caretas em 1905. “Quando o Cristo é implantado, é num local já estabelecido do ponto de vista de sua localização”, diz Burgi. A partir do início do século 20, o local passa a receber mais visitantes. (Foto: Revista Caras y Caretas/ IMS)
O bonde da Estrada de Ferro do Corcovado faz o percurso morro acima. Segundo Sergio Burgi, a via foi inaugurada no fim do século 19, ou seja, é bastante anterior ao Cristo. A fotografia de Augusto Malta não tem data, mas é atribuída à primeira década do século 20, quando o fotógrafo foi contratado pelo prefeito Pereira Passos para documentar as profundas mudanças urbanas que imprimiu à cidade, como a abertura da atual avenida Rio Branco. (Foto: Augusto Malta/ Coleção Brascan Cem Anos no Brasil/ Acervo Instituto Moreira Salles)
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A foto de Marc Ferrez mostra a Praia de Botafogo com o Corcovado ao fundo e a nova Avenida Beira-Mar, parte do projeto urbanístico do prefeito Pereira Passos, por volta de 1903. O crescimento da cidade pode ser acompanhado ao longo do tempo fotos do Corcovado, ressalta Sergio Burgi. Sobretudo do bairro de Botafogo, “muito fotografado em registros feitos do alto do Corcovado ao longo das décadas”. (Foto: Marc Ferrez/ Coleção Gilberto Ferrez/ IMS)
Na vista mostrando o Cristo e a praia e os prédios de Botafogo, na década de 1970, já se vê a cidade mais parecida com os dias de hoje, ilustrando as transformações radicais pelas quais a cidade passou. O bairro é tomada por prédios, que, no primeiro plano à esquerda, circundam e escondem o Morro da Viúva. (Foto: Carlos Moskovics/ IMS)
Depois da construção do monumento sobre o Corcovado e da sua inauguração em 1931, a vista do Cristo passa a ser uma referência para a então capital brasileira, agregando valor simbólico àquela paisagem, aqui vista na década de 1970. Parte do fascínio vem pelo feito de erguer a estátua no alto do morro, diz Burgi. “Hoje as pessoas vêem aquilo como um grande monumento da engenharia”, afirma o coordenador de fotografia do IMS. (Foto: Carlos Moskovics/ IMS)
Hoje um dos principais cartões postais do Rio, o Cristo foi eleito uma das novas Sete Maravilhas do Mundo em 2007 e completa 80 anos consagrado na paisagem carioca. =Do alto, as desigualdades que se acentuaram no Rio ao longo do século se diluem, e a paisagem é de mar, mata e montanhas. “À distância suavizam os contrastes”, diz Sergio Burgi. (Foto: Edu Simões/ Cadernos de Literatura Brasileira/ Instituto Moreira Salles)
Autor: BBC