Pronta, Nova Marginal fica sem verde, tecnologia e acessibilidade prometidos

Antes e depois. Trecho perto da Ponte do Piqueri sem grande parte do verde previsto no croqui. Fotos: Epitácio Pessoa/AE e Reprodução

SÃO PAULO – Após quase dois anos de obras, o complexo da Nova Marginal do Tietê foi concluído nesta quarta-feira, 27, com a inauguração da Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia, mas a obra entregue não tem a tecnologia prometida. Também não respeita todas as exigências ambientais previstas, como deixar a via mais verde ou melhorar a vida de quem anda ali a pé ou de bicicleta. Mesmo assim, custou 75% a mais do que a estimativa inicial. Hoje, o investimento na Nova Marginal chega a R$ 1,75 bilhão. E esse valor ainda pode aumentar.
O projeto foi lançado em junho de 2009 pelo então governador José Serra (PSDB). Previa a entrega das pistas em março de 2010 (o que ocorreu) e a inauguração de cinco novas pontes e viadutos até outubro – ou seja, houve um atraso de 10 meses.

Outras promessas ficaram no papel. Uma delas era transformar a Marginal do Tietê em uma via altamente tecnológica, com a criação de “sistema inteligente” de controle de tráfego. Seria possível restringir a entrada em 16 pontos em caso de congestionamento ou enchente. Um edital chegou a ser lançado para a contratação do serviço de câmeras, radares e painéis, mas o projeto de R$ 100 milhões está parado desde o fim do ano passado.

“O monitoramento está sendo discutido com o Município e ainda não há decisão de quem fará o aporte de recursos. Logo se defina, será realizado”, disse Laurence Casagrande Lourenço, presidente da Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), empresa responsável pela obra.

O projeto também desrespeita exigências feitas pelo Município para a obtenção da licença de instalação, como a criação de barreiras acústicas para aliviar o ruído perto de escolas, hospitais e residências. “Não dá nem para conversar. Antes, tinha um recuo e os ônibus passavam a três pistas daqui. Agora, andam quase em cima da gente”, disse a secretária Paula Marques, que trabalha em uma escola de alunos especiais perto da Ponte Jânio Quadros, na Vila Maria. A grade do parquinho da Emei Prof. Pedro Álvares Cabral de Moraes, na Vila Guilherme, fica a menos de 2 metros da pista. “Além do barulho, o medo é um carro parar aqui em um acidente”, diz uma professora.

A Dersa afirma ter feito medições de ruído na via para decidir que não havia necessidade das barreiras – o tráfego aumentou em 30 mil veículos por dia, de acordo com medição de 2010. A Secretaria do Verde e Meio Ambiente (responsável pela emissão da Licença de Operação, ainda não cedida) afirma que está analisando os relatórios. Também não saíram do papel ações para melhorar o acesso de pedestres e ciclistas.

Autor: O Estado de S.Paulo