Engrenagens são o estereótipo visual da engenharia – tanto que são frequentemente usadas em emblemas e ícones para descrever empresas e serviços do ramo. Um dos principais motivos é que suas qualidades representam o ideal desta ciência: trata-se de um mecanismo preciso, simples, resistente, relativamente barato e multifuncional. Usado desde um aparato para moer alimentos até mover grandes e complexos sistemas mecânicos, as engrenagens são essenciais em algumas partes do automóvel.
Até onde eu sei, cada engrenagem precisaria descrever um círculo perfeito para funcionar sem desencaixes ou perdas de sincronia. Mas neste vídeo do Gizmodo, veremos que eu estou completamente errado.
Impressionante, não? Clayton Boyer é um apaixonado por engrenagens, que em suas horas vagas desenvolve estes sistemas atípicos – que são usados em belíssimos relógios de parede. Assista ao vídeo abaixo, mas segure o seu queixo: suas obras parecem ter saído de um filme de Tim Burton! Contudo, ele não vende os relógios nem mesmo kits para montagem: ele vende os projetos, pois considera o prazer da construção a parte mais importante de sua paixão. Isso inclui o corte manual de cada dente das engrenagens. Trabalhoso? Quase nada…
Estas plantas são desenhadas em CAD e são impressas em escala 1:1, acompanhada de fotos detalhadas de um modelo completo, bastando que o entusiasta os reproduza em uma superfície de madeira plana e os recorte. Ele também vende sistemas de engrenagens mais simples e sem uma função específica, chamados por ele de Horologiums. É o que vocês viram no primeiro vídeo. Clique aqui para acessar o site dele. Quando falamos em engrenagens, a primeira coisa que vêm à cabeça é a caixa de marchas, e claro, aquele velho debate entre usar um sistema de dentes helicoidais ou retos. O primeiro é utilizado em todos os carros de rua, o segundo, é empregado na marcha a ré e na maioria dos carros de corrida. Bem, este é um debate polêmico e, honestamente, me falta a bagagem de engenharia para apresentar isso pra vocês de uma maneira decente. O que eu sei é que o sistema helicoidal é mais resistente, porque o tipo de engrenamento é mais eficiente: há mais dentes engatados entre as engrenagens e mais área de contato entre os dentes, distribuindo melhor o stress, a tensão entre as peças.
É aquela velha história do faquir repousando sobre uma cama de pregos: se houvesse um prego só, ele seria perfurado. Só que a fabricação do sistema helicoidal é mais caro, e um jogo de engrenagens forjadas de dentes retos é mais resistente. Como carros de corrida trabalham com dezenas de possibilidades de relação, na ponta do lápis acaba compensando. O problema é o ruído que os dentes retos fazem: é como se o carro ficasse com cinco (ou seis, ou sete, ou oito) marchas a ré, para a frente. O vídeo abaixo é um clássico da surdez automotiva: se você suportar o zunido da transmissão, verá um belíssimo show de pilotagem a bordo de um BMW 320 de competição…
Você também encontra engrenagens na caixa do diferencial (seja na coroa e pinhão, seja no sistema de bloqueio do tipo Torsen), em compressores, nas cremalheiras de sistemas de direção, e até substituindo a corrente de comando (ou a correia dentada) em alguns carros com preparação forte. No vídeo a seguir, vemos um Camaro 1983 com este sistema: quem ouve de longe, pode pensar que o zunido é de um compressor.
Aqui, vemos o sistema Gear Drive em um raríssimo V8 Ford 427 SOHC de corridas. Em um V8 normal, veríamos a corrente de comando, ou em um quatro cilindros comum, o sistema de correia dentada.
Autor: Jalopnik