Considerando que ainda se verifica um alto grau de desinformação sobre as inundações que tem ocorrido na RMSP entendí oportuno apresentar a você alguns elementos básicos para facilitar a compreensão do que vem ocorrendo e da situação em que a região se encontra.
1. Pricipitações (chuvas)
O atual período chuvoso (2010/2011) assim como o do ano passado (2009/2010) apresentaram chuvas intensas normais para o período embora com maior freqüência do que o normal: assim sendo o sistema de drenagem existente deveria ter absorvido os escoamentos superficiais decorrentes sem promover inundações. Como os alagamentos aconteceram foi porque o sistema de drenagem não tem capacidade para absorver esses eventos normais.
2. O porque dessa insuficiência de capacidade
Porque o Governo do Estado em 1998, no bojo do Plano Diretor de Macrodrenagem e no limiar do início das obras da 2ª fase da Ampliação e Aprofundamento da Calha do rio Tietê, embora ciente de que as vazões previstas nesse projeto já estavam superadas em 25% decidiu manter o projeto e executar a 2ª fase da calha com as dimensões previstas, desconsiderando liminarmente outras alternativas e resolver o problema com a construção de 134 piscinões. A partir daí foram proibidas quaisquer outras intervenções no sistema que não fossem piscinões.
Passaram-se 13 anos, foram construídos apenas 44 piscinões e já existe consenso de que não existe espaço para a construção dos outros 90. A ampliação da Calha também foi construída. Hoje as vazões de suporte já estão superadas em 53% com o agravante de que após a sua inauguração em 2005 não foi praticamente desassoreada o que eleva essa defasagem para 133%. Hoje a vazão de projeto no Cebolão para T = 100 anos é de 1.750 m³/s e a capacidade da Calha assoreada é de 700 m³/s.
Ainda como conseqüência da histórica decisão de 1998 o Tamanduateí, cujo canal construído ao longo da Av. do Estado tem capacidade para 487 m³/s, deveria suportar hoje na foz do Tietê 878 m³/s. Incluindo um pouco de “humor negro” pode-se imaginar que se o Tamanduateí conseguir transportar os seus 878 m³/s o que seria da Calha do Tietê!
Para fechar esse quadro lembro que há 90 anos todos os estudos feitos destacaram a fundamental importância da preservação da parte da bacia a montante da barragem da Penha, porque se isso não acontecer as vazões da Calha do Tietê no Cebolão poderão atingir 2.400 m³/s. O que ainda estamos assistindo é que a urbanização dessa área continua a ocorrer de forma totalmente desordenada como aconteceu com o resto da região.
Face a essa situação seria de se voltar a perguntar: quais os planos e providências em curso para tentar reverter o quadro? Infelizmente está valenco ainda a decisão de 1998 que hoje prevê a construção dos restantes 90 piscinões que já se sabe não serão construídos por falta de espaço além de outros inconvenientes, ou seja:
não existem planos e providências em curso.
Em tempo: Tudo o que se pretenda fazer nesse sentido passa por intervenções de grande porte e complexidade construtiva. Não existem paliativos.
Autor: Julio Cerqueira Cesar Neto