Um mês após a tragédia que deixou 893 mortos e 408 desaparecidos na serra fluminense, especialistas em geotecnia e hidrologia afirmam que há um consenso: é preciso revisar a metodologia de classificação de áreas de risco no País. Reunidos no Clube de Engenharia, eles defenderam a criação de órgão nacional para prevenir e centralizar ações em casos de desastres naturais.
Presidente da Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), Fernando Kertzman diz que os mapas de risco “terão de ser instrumentos de planejamento muito mais abrangentes do que são hoje”. “Saí de lá (da região serrana) com conceitos completamente diferentes dos que eu tinha antes”, conta.
Segundo ele, os mapeamentos não podem levar em consideração apenas critérios geotécnicos dos morros e encostas. Dados hidrológicos são essenciais e devem ser mais precisos, assim como os meteorológicos. “Qualquer um de nós compraria um apartamento no prédio (em Nova Friburgo) onde os bombeiros que ajudavam no resgate morreram soterrados”, acrescentou Kertzman.
“Vamos ter de revisar algumas coisas depois dessa experiência”, avalia o engenheiro geotécnico Willy Lacerda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para Moacyr Duarte, também da UFRJ, é indispensável incorporar novas tecnologias, aliando sobrevoos de baixa altitude a imagens de satélite e inspeções geotécnicas.
Especialistas apontam como modelo de órgão federal a Geo-Rio, criada em 1966, após uma catástrofe: a chuva de verão que deixou 70 mortos e mais de 500 feridos. “Defendo uma entidade federal para subsidiar as prefeituras, venho batendo nessa tecla desde 2005. Os municípios não têm recursos para manter pessoal especializado”, disse Francis Bogossian, presidente do Clube de Engenharia.
Para Kertzman, o órgão reuniria especialistas “perdidos” em departamentos dos Ministérios da Integração e das Cidades, além da Defesa Civil. “É só reunir o que já existe e trabalhar o ano inteiro com previsão meteorológica, com definição de área de risco, com remoção de pessoas que vivem nesses locais e com política de prevenção, não só de emergência”, disse o presidente da ABGE. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Autor: O Estado de S. Paulo