Trata-se de uma iniciativa de “referência” que reúne investigadores e profissionais de todo o mundo de várias áreas do conhecimento contribuintes da engenharia biomédica. Apresenta critérios “severos” e este ano teve “uma taxa de aceitação de 11 por cento”, o que é demonstrativo “do rigor com que a organização quer ver os problemas”, assegurou ao “Ciência Hoje” Carlos Correia, coordenador da investigação.
Esta técnica de monitorização hemodinâmica (do coração e das artérias) foi desenvolvida nos últimos quatro anos no Centro de Instrumentação da UC e financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Teve a colaboração de unidades hospitalares da região, onde vão decorrer os ensaios clínicos, agendados para as próximas semanas.
A alternativa proposta por Tânia Pereira destina-se a avaliar um parâmetro do sistema cardiovascular denominado de velocidade de onda de pulso (VOP). “Os cardiologistas atribuem-lhe muita importância para o diagnóstico porque, se a velocidade for muito elevada, significa que a artéria está a endurecer”, o que revela a existência de uma potencial patologia, explicou o investigador.
Como funciona?
São utilizados sensores ópticos para iluminar, no pescoço, o sítio da artéria carótida e transmitir a informação da velocidade de propagação da onda de pulso. Segundo o catedrático de Coimbra, “em função dos sinais de luz recolhidos, pode-se obter esses dados que têm depois de ser interpretados pelos médicos”.
Para além de fazer a avaliação do parâmetro sem contacto físico, outra das vantagens desta técnica consiste no facto de obter informação local, que é mais precisa do que a regional, disponibilizada pelas técnicas clássicas. O investigador que orientou esta investigação explicou que os métodos convencionais avaliam a VOP através da média entre dois pontos distantes, o que não revela um valor exacto. Já a nova técnica possibilita “dados mais interessantes do ponto de vista local”, uma vez que avalia um local específico.
Parâmetro com novas informações
A VOP não é um parâmetro muito antigo e clássico como a pressão arterial, por exemplo. No entanto, transmite dados relevantes para a avaliação da saúde cardiovascular. Carlos Correia frisou que “não há um único parâmetro que 'diga tudo'. É preciso interpretar vários aspectos para se perceber o conjunto”. Desta forma, quando o novo método chegar ao mercado, a sua importância no diagnóstico pode equiparar-se à do estetoscópio ou do electrocardiograma.
Para isso, terão ainda de decorrer os testes de validação clínica, que, em breve, vão ser conduzidos por médicos em várias unidades de referência da região de Coimbra. “A qualidade da avaliação está assegurada”, concluiu Carlos Correia, acrescentando que o impacto social desta invenção só se vai revelar em pleno quando começar a ser aplicada pelos médicos e chegar aos pacientes. Neste sentido, destaca-se o papel da empresa ISA – Intelligent Sensing Anywhere, a parceira do projecto responsável pela passagem dos resultados desta investigação para o mercado.
Autor: Ciência Hoje – Portugal