Obras de engenharia podem ser a solução para os deslizamentos de encostas no estado do Rio de Janeiro, mas exigem recursos elevados de que o governo não dispõe. A avaliação é do pesquisador da Área de Recuperação de Áreas Degradadas e Proteção de Encostas da Embrapa Solos, Silvio Tavares.
Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que o Brasil, como um país tropical, tem 39 classes de solo e que o estado do Rio tem quase todas essas classes. Para Tavares, nos municípios da região serrana fluminense, devastados pelas chuvas deste verão, uma conjugação de fatores facilitou a ocorrência dos deslizamentos de terra que já causaram a morte de cerca de 800 pessoas. “É muito mais pelo solo conjugado com a posição na paisagem. É uma conjugação de fatores geomorfológicos”, explicou.
Como a Serra do Mar atravessa quase todo o estado, o pesquisador afirmou que não é preciso que haja a intervenção humana para que ocorram desmoronamentos de terra, como os registrados na madrugada do dia 12 que atingiram, de forma especial, as cidades de Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis.
“A intervenção humana vai aumentar os eventos que ocorreram. É um fator natural. E a Serra do Mar é toda, naturalmente, propícia a isso. As vertentes são muito íngremes e muito longas. E esse é um processo natural de formação do solo nas baixadas. Então, não precisa nem ocupação humana para acontecer isso”.
Ele esclareceu que, geotecnicamente, a presença do homem amplia a probabilidade de desmoronamento, reduzindo o fator de segurança com as construções. “Mas o solo, dependendo da posição da paisagem, vai cair naturalmente”, devido à erosão.
Para impedir que os deslizamentos ocorram, Silvio Tavares destacou que deve ser feito estudo que estabeleça um fator de segurança humana e patrimonial e que não haja ocupação. Acrescentou que a tragédia da região serrana fluminense não tem nada a ver com mudanças climáticas. “Tudo isso é uma balela. Você tem picos. Não existe uma modelagem perfeita para ser anticlimática”.
Nos rios, por exemplo, ele afirmou que deve ser definido um fator de segurança de 20% ou 30% a mais, após os trechos de cheias, para se pensar em realizar construções. O mesmo ocorre em relação às encostas. “O que o homem faz é diminuir o fator de segurança e aumentar o risco de desmoronamento”. Para Tavares, a solução seria não ocupar.
O pesquisador disse ainda que nos municípios serranos nenhum governo poderá resolver o problema porque a população já está instalada. “Ou seja, vai ser morte anunciada ano após ano. O que se vai fazer são obras de contenção em áreas mais críticas, que não garantem nada. Cabe ao homem decidir se quer morar sob risco ou não”.
Silvio Tavares acredita que a solução seria fazer um mapeamento das áreas de risco e estabelecer níveis. “Dentro dos níveis de risco 4 e 5, ninguém poderia ocupar”. Nos locais situados embaixo, onde fica muito caro remover a população, seriam feitas obras pesadas de engenharia, que minimizariam os problemas. “Infelizmente, a geografia do Rio é desfavorável à ocupação humana. A solução é: a engenharia resolve 90% dos problemas, mas com muito dinheiro”.
O pesquisador assegurou que o custo é muito caro e que o governo não tem recursos para obras de grande envergadura como as realizadas em Dubai, nos Emirados Árabes, por exemplo, que transformaram o deserto em cidades com toda a infraestrutura.
Autor: Agência Brasil