A pista de testes nas alturas da Fiat

A fábrica da Fiat em Lingotto foi inaugurada em 1923. Diferente de qualquer fábrica atual de automóveis, ela possuía uma linha de montagem ascendente, além de uma pista de testes no teto. Vamos dar uma olhada melhor?

Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Fiat retornou à fabricação de automóveis, detendo 80% do mercado interno. Fora uma breve revolta comunista entre os funcionários no ano de 1921, as coisas iam bem e a empresa estava pronta para crescer. A fábrica que você vê aqui, em Lingotto na cidade de Turim, é o resultado deste crescimento. 

A construção da fábrica de Lingotto começou ainda durante a Primeira Guerra, no ano de 1916. Sete anos depois, em 1923, Lingotto estava completa e pronta para funcionar. Era a maior fábrica de automóveis na Europa e a segunda maior do mundo. Na época de sua inauguração, logo se tornou um símbolo da indústria italiana. Apenas o gigantesco complexo da Ford no rio Rouge tinha um tamanho comparável.

Projetado pelo engenheiro Giacomo Mattè-Trucco, a fábrica de Lingotto foi um dos primeiros prédios de seu tamanho construído com concreto reforçado. O edifício de cinco andares tinha uma pista de testes simples em seu teto com duas curvas inclinadas e que ocupava um espaço de 494 por 85 metros. As curvas da pista foram construídas com uma complexa série de estruturas de concreto, uma técnica que não havia sido utilizada anteriormente, muito menos em uma pista a seis andares de altura.

A pista no topo da fábrica não foi algo acrescentado por acaso ou por mera curiosidade, mas se tratava de uma parte integral no processo de fabricação. A fábrica de Lingotto tinha uma linha de produção em espiral. Cada Fiat montado subia aos poucos pelos andares. Cada andar foi projetado para se especializar em uma parte da montagem. O que começava no andar inferior como um punhado de materiais e peças se tornava um automóvel ao chegar ao topo do prédio.

Quando um Fiat terminava seu percurso pelos 1.500.000 m² de Lingotto, saia do prédio pelo teto. Cada Fiat percorria então a pista para garantir que o pessoal nos pisos inferiores fez seu trabalho. Assim que aprovado, o carro descia para o térreo por uma das duas rampas espirais que saem da pista.

A pista de testes se tornou tão famosa quanto a fábrica abaixo dela. Era certamente única em seu tipo e francamente, quem mais pode se gabar de ter uma pista de testes em seu teto? Lingotto apareceu rapidamente no filme Um Golpe à Italiana (The Italian Job). Durante a famosa cena de fuga, os Minis vermelho, branco e azul ficam lado a lado em uma das curvas, com o policial em sua cola. Nas milhares de vezes que assisti a cena nunca imaginei que a pista realmente estivesse no teto de alguma coisa.

Se você tem um Fiat importado produzido entre 1923 e a década de 1970 – caso deste Seicento – é provável que seus primeiros quilômetros foram percorridos na pista de Lingotto. A fábrica foi responsável por boa parte da produção da Fiat desde sua inauguração até a década de 1970, quando suas linhas de montagem já estavam defasadas em relação às novas técnicas de fabricação. A fábrica fechou oficialmente em 1982, quando um Lancia Delta deixou a linha de produção.

O que geralmente se imagina depois do fechamento de uma fábrica são fotos mostrando sua decadência. 28 anos após seu fechamento, você até pode imaginar que o prédio foi abandonado. Mas esta é uma das poucas exceções. Alguns anos após o fechamento da fábrica, o prédio foi reprojetado como um gigantesco espaço público. Seus andares são ocupados agora por um shopping Center, um teatro, um centro de convenções e um hotel. 

Até mesmo a pista no teto permanece intacta, e é utilizada principalmente como local para reunião de empresas, clubes de automóveis, além de atração turística. Ainda que seja triste saber que os dias de testes no teto já passaram (até mesmo track days não são mais permitidos), é bom saber que tanto a pista quanto o prédio de Lingotto são aproveitados e bem cuidados, da maneira como merece uma estrutura tão importante e incrível.

Autor: Jalopnik