Metrodome e o zepellin

O desabamento parcial do teto do Metrodome, em Minneapolis, pode ajudar a transformar o estádio que se orgulha de ser coberto pela maior estrutura de teflon do mundo em um elefante branco. Desde 2007 o Minnesota Vikings tenta aprovar na Câmara do estado de Minnesota a construção de um novo estádio. Na última votação, em maio, o projeto foi barrado por 10 a 9. Para o ano que vem já está prevista uma nova tentativa, com dois ingredientes adicionais. O contrato de locação do Metrodome vence ao fim da temporada 2011, e os Vikings recusam-se a renová-lo enquanto o projeto do novo estádio não caminhar. O outro é o incidente deste domingo, que não deixou nenhum ferido, mas provocou o adiamento do jogo contra o New York Giants para esta segunda-feira, em Detroit.

O Metrodome foi inaugurado em 1982 e por 26 anos abrigou os times de futebol americano profissional, futebol americano universitário e beisebol da cidade. Em 2009, os Golden Gophers trocaram o The Dome pelo TCF Bank Stadium, nova casa da Universidade de Minnesota. Neste ano, foram os Twins que inauguraram estádio, para disputar suas partidas da Major League Baseball. Sobraram os Vikings e um contrato de uso da arena draconiano, assinado em 1979, válido até 2011 e incompatível com a NFL atual.

A Metropolitan Sports Facilities Commission, consórcio que administra o The Dome, fica com 9,5% do valor de cada ingresso vendido pelo Vikings. A MSFC também detém todos os direitos de comercialização de publicidade no estádio, negociação de naming rights e administração do estacionamento fechado. De cada contrato em vigor referente ao estádio, 10% vai para os Vikings – em 2004 e 2005, isso gerou a “fortuna” de US$ 500 mil. Na mão oposta, 35% de toda a comercialização durante os jogos dos Vikings vão para a MSFC. Estudos apontam que entre 1982 e 2009, o Metrodome gerou US$ 319 milhões somente em receitas fiscais – US$ 166 milhões pagos pelos Vikings. Cenário que faz dos Vikings o terceiro time que menos fatura com estádio na NFL e obriga a franquia a recorrer rotineiramente ao caixa da Liga para fechar a conta dos seus jogos “em casa”.

Diante deste contrato, não é de se estranhar que os parlamentares de Minnesota barrem com tanto afinco as tentativas dos Vikings de terem sua casa própria. Muito menos que os torcedores do time se mobilizem para sair do Metrodome. O movimento está concentrado no site Minnesota Momentum, um dossiê eletrônico a favor do novo estádio. Nele há estudos de viabilidade econômica, cálculo de empregos que seriam gerados com a obra, projeções de faturamento e um extenso FAQ, com todas as razões para o Vikings abandonar o aluguel. 

Claro, sobra para o teto. O projeto original do novo estádio dos Vikings não prevê a existência de teto. A franquia só admite a cobertura se ela for bancada pelo poder público, uma conta de US$ 160 a US$ 200 milhões, fora o custo de manutenção. No entendimento dos Vikings, não compensa cobrir um estádio que em regra será usado somente dez vezes por ano. Com o teto, entende a equipe, ganha mais o estado de Minnesota, que poderia receber, por exemplo, um número maior de shows musicais. Por isso a esperança de conseguir um investimento estatal.

O acidente deste domingo só reforça como o teto do Metrodome – e o próprio estádio, de uma maneira geral – é obsoleto. Foi o quinto colapso da cobertura, o segundo significativo. Em 1983, também por causa de uma forte nevasca, a estrutura cedeu e precisou de quatro dias para ser inflada novamente. A manutenção do teto é complicada e cara.

Todas as portas do estádio são giratórias para impedir uma queda significativa de pressão de ar. A cada ano, é necessário US$ 1 milhão somente para inflar o teto. A partir de uma espécie de central meteorológica, a administração do estádio observa as mudanças climáticas e quando é necessária uma aplicação maior de ar quente para derreter a neve acumulada do lado de fora. Esta operação estava em andamento quando a cobertura cedeu.

Em artigo no site Fanhouse, o colunista Joe Lapointe compara as imagens do colapso no The Dome às do Hindenburg zepellin queimando em 1937. Segundo ele, da mesma forma que o episódio de sete décadas atrás deixou clara a ineficiência do transporte aéreo movido a hidrogênio, o acidente em Minneapolis mostra como coberturas infláveis são ultrapassadas. E como o Metrodome caminha para se transformar em um zepellin.

Autor: ESPN.com.br