Após o crescimento desabalado da construção civil, em 2010, estimado em 11%, o Sindicato da Construção Civil de São Paulo (Sinduscon-SP) espera que esse ritmo caia para 6%, em 2011, devido à escassez de terrenos, insuficiência de pessoal e de materiais de construção.
O setor da construção civil emprega 2,8 milhões de pessoas, das quais 300 mil neste ano, e representa cerca de 15% do PIB. O ritmo deste ano foi muito forte e dificilmente será repetido. Ao divulgar o PIB, quinta-feira, o IBGE registrou alta de 10,7% do setor nos últimos quatro trimestres. A consultoria LCA estima que a construção civil cresceu 13,9%, em 2010, projetando uma evolução de 5,8%, em 2011, e de 5,6%, em 2012.
Em gradações diversas, todos os indicadores são positivos – a Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco), por exemplo, informou que as vendas do setor cresceram 11% em 12 meses, até novembro, e 7,8% entre outubro e novembro, período forte, devido ao 13.º salário.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto, o ritmo de crescimento de 2010 persistirá nos próximos meses: a maioria das empresas do subsetor prevê um aumento das vendas, no próximo trimestre, entre 10% e 30%, e algumas, um crescimento superior a 30%.
As projeções do mercado imobiliário para 2011 baseiam-se na continuidade da oferta de crédito proveniente de depósitos de poupança, FGTS, securitização de recebíveis e fundos imobiliários. No período de janeiro a outubro, comparado a igual período de 2009, o crédito imobiliário concedido com base nos recursos das cadernetas cresceu quase 70%, financiando 406 mil unidades.
Mas, a partir do ano que vem, a construção civil será mais demandada não apenas para construir habitações, imóveis comerciais e infraestrutura, mas para dar conta das obras necessárias à realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 – estas, da ordem de R$ 40 bilhões. Serão construídos, ao mesmo tempo, 12 estádios. Além de vergalhões, madeira, cimento, concreto, argamassa, azulejos, vidros, pisos, tijolos, tintas e vernizes, entre os produtos muito procurados, prevê-se escassez de bens de capital, como guindastes, monotrilhos e estacas-hélice – empregadas em fundações. A importação de alguns desses itens será indispensável.
Chega-se, em 2010, ao fim de um ciclo de expansão que usou “mais e melhor” a estrutura física existente e a capacidade de produção, acredita o diretor de Economia do Sinduscon, Eduardo Zaidan. “Esse modelo de crescimento lastreado na estrutura atual está no limite”, afirmou, prevendo que 2011 será um divisor de águas.
Para que o setor da construção civil continue crescendo com rapidez, o Sinduscon recomenda a manutenção dos programas de habitação popular, como o Minha Casa, Minha Vida; a criação de novas fontes de financiamento de longo prazo; o aumento dos investimentos em inovação, para obter ganhos de produtividade; a redução dos custos dos terrenos; e a disposição de enfrentar o déficit de mão de obra qualificada. Mas nem todas as propostas são exequíveis.
No âmbito privado estão avançados os estudos sobre novos mecanismos de captação, como títulos bancários lastreados em patrimônio imobiliário. Já o governo terá de usar recursos orçamentários para oferecer mais habitações populares. Além disso, os esforços para reduzir o preço dos terrenos também depende dos governos, mediante a oferta de áreas pertencentes à União, Estados e municípios – às quais será preciso levar infraestrutura.
A formação de pessoal qualificado já não depende de escolas técnicas, mas das empresas – que formam operários em canteiros de obras, “com um sujeito imitando o outro” -, “um método medieval”, como diz o presidente do Sinduscon, Sérgio Watanabe.
No melhor cenário, o setor da construção deve crescer com equilíbrio, evitando o superaquecimento da demanda e a alta excessiva de preços.
Autor: O Estado de S.Paulo