Um novo estudo feito por uma equipe internacional de cientistas pode ajudar a recuperar a imagem que tem sido atribuída nos últimos anos aos reservatórios das usinas hidrelétricas.
As suspeitas começaram a ser levantadas há cerca de 10 anos, quando medições feitas em uma hidrelétrica brasileira indicaram que as emissões de CO2 e metano – chamados pelos cientistas de “gases do clima” – dos organismos em decomposição no fundo dos reservatórios poderiam ser responsáveis por até um quarto de todas as emissões de origem humana no planeta.
Agora, demonstrando o risco de se basear em estudos individuais, os cientistas descobriram que os organismos na água e no chão do reservatório capturam mais CO2 da atmosfera do que o próprio reservatório libera na forma de gases de efeito estufa, já convertidos em equivalentes de CO2.
Conclusões errôneas
Os dados do Brasil foram publicados pela respeitada Comissão Mundial de Barragens. O relatório concluiu que os reservatórios das hidrelétricas de todo o mundo seriam responsáveis por entre 1 e 28 por cento das emissões dos gases climáticos do planeta.
O novo estudo foi feito por pesquisadores do instituto europeu SINTEF, com base em dados coletados no Laos em represas com 10 e com 30 anos de idade.
“Nossos resultados no Laos indicam que o número real é muito mais próximo de 1 do que de 28 por cento. As medições no Brasil não levaram em conta a absorção de CO2 pelo ecossistema do reservatório. Entretanto, os resultados atraíram muita atenção e foram usados para tirar conclusões errôneas em nível global,” afirma Atle Harby, cientista sênior do programa de Pesquisas Energéticas do SINTEF.
O ecossistema decide
Os gases climáticos liberados por um reservatório de hidrelétrica se originam do carbono proveniente da decomposição de organismos e matérias orgânicas anteriores à inundação e daqueles trazidos pelos rios ou por fontes humanas.
No entanto, ao mesmo tempo, as algas, o fitoplâncton, o zooplâncton e os peixes que vivem no reservatório passam a absorver CO2 da atmosfera.
“Os níveis de emissões são maiores no início [da vida da represa], mas declinam quando os organismos enterrados estão totalmente decompostos. Nós investigamos também um reservatório de dez anos de idade, no Laos, onde havia um equilíbrio entre a absorção de gás e a liberação,” diz Harby.
Ele explica que a vitalidade do ecossistema do reservatório e o volume de sedimentos não consolidados que enterram os organismos mortos determinam se o equilíbrio dos gases climáticos ficará positivo ou negativo ao longo da vida útil de cada reservatório.
“As rochas, o solo e a qualidade da água no reservatório de 30 anos de idade se combinaram para promover uma produção orgânica muito prolífica, a grande responsável pela absorção elevada de CO2 da atmosfera,” disse Harby.
Autor: Inovação Tecnológica