Na sessão de abertura do evento Brazil Automation ISA 2010 – Congresso e Feira, que acontece até quinta-feira , no Expo Center Norte, em São Paulo, o principal painel teve por tema “Desafios na formação de profissionais de Engenharia no Brasil”. Dr. Mario Sergio Salerno, prof. titular da Escola Politécnica de São Paulo, Doutor em Engenharia de Produção pela POLI e Coordenador do LGI, Laboratório de Gestão da Inovação da POLI – USP, principal palestrante, citou alguns números do último censo escolar completo, datado de 2008. “Constata-se que há uma evasão enorme no ensino de engenharia no Brasil. Foram cerca de 460 mil matrículas no início do ano , contra apenas 48 mil novos formandos a ingressarem no mercado de trabalho no fim de 2008. E mais, dentre todos os formandos em nível superior, apenas 5% são engenheiros”, diz Salerno.
Comparativamente a outros países, a posição do Brasil não é confortável. Na Espanha, 14% dos formandos são engenheiros, em Portugal 20%, na China e Coréia de 25 a 30%. Já a relação entre número de engenheiros formandos por número de habitantes, no Brasil, é de 2 por 10 mil. Nos EUA, é de 4,6 , na Espanha de 6,5, na China 13,4 e Coréia 16,4.
O presidente da ISA Distrito 4, José Otávio Mattiazzo, também presente ao painel, destacou dados recentes da CNI – Confederação Nacional da Indústria, relativos ao tema . ” Estes dados indicam que o Brasil forma apenas metade dos engenheiros que o país necessita, anualmente. Além disso, ainda temos de nos defrontar com a disparidade entre a formação destes profissionais e as necessidades da indústria”, reforça Mattiazzo. Segundo ainda dados da CNI, o déficit de engenheiros em 2010, no país, é da ordem de 150 mil.
Nelson Ninin, presidente da ISA – International Society of Automation, principal organização mundial do setor de automação que reúne cerca de 30 mil membros em mais de 50 países, e primeiro brasileiro a presidir a oraganização, destacou que “este déficit não é um problema só do Brasil, mas do mundo todo. E que a qualificação profissional é um dos temas centrais da ISA. “O Brasil dá mostras reais de que já saiu da crise O mundo todo nos olha com especial atenção. O tamanho do evento é uma demostração do bom momento em que vivemos. São 13 mil m2 de área, 120 empresas participantes e um público estimado em 14 mil pessoas”.
Para Salerno, uma questão preocupante é que 62% dos engenheiros saem de faculdades privadas. E como o curso de engenharia é um curso caro, que envolve a necessidade de uma boa estrutura, laboratórios, investimentos, as faculdades públicas normalmente estão mais aptas a manter estes cursos. “Por outro lado, o MEC está absolutamente ciente da carência de profissionais de engenharia. Neste sentido, está havendo uma expansão significativa da universidade pública e uma parte importante é dedicada às ciências exatas”, diz o pesquisador.
Na formação de doutores no Brasil, a área de engenharia responde por 11% do total de 11 mil doutores, também dados do censo de 2008. “A produção científica brasileira tem evoluído de forma expressiva, porém nas cinco áreas de maior produção, não aparece a engenharia”, ressalta Salerno.
Para Marcus Coester, VP de Membros e Imagem da ISA, a crise na área de engenharia é comum a outros países. ” Nos EUA, há também este problema. Por vocação, as pessoas se dirigem a outras áreas. Já na China, a situação é inversa. São formados mais de 400 mil engenheiros por ano. Mais do que todo o ocidente.”
Salerno concluiu a sua apresentação do painel de abertura do evento ponderando que, apesar do Brasil formar poucos engenheiros percentualmente em relação à sua população, comparativamente a outros países, mesmo assim este número não é pequeno por que a população do país é grande. ” E mesmo com a carência que o mercado tem destes profissionais, os salários não estão aumentando. Este é um dos fatores que afasta os alunos. Além do curso ser difícil, ter grande carga horária”, diz
Para o pesquisador, os principais desafios na formação de profissionais de engenharia no Brasil passam pela necessidade de se pensar uma nova didática para esta geração plugada. A utilização de educação à distância, mídia móvel. E uma maior integração com a sociedade. “A integração com as empresas também é muito difícil. Na POLI, por exemplo, na área de estágios planejados, há uma única empresa integrada”.
“Diria que o problema a curto prazo não é exatamente de quantidade, mas de qualidade. As empresas pagam mal o engenheiro iniciante e este por sua vez está mais propenso a formar a sua própria empresa”.
Além do tema da formação de mão-de-obra de profissionais de engenharia, o ISA também apresentou o seu programa de Certificação de Profissionais de Automação- CAP, através do eng. Ian Verhapen, da ISA Canadá, que tem por finalidade qualificar os profissionais da área garantindo que os mesmos estejam capacitados quanto às necessidades e exigências tecnológicas da nova realidade global.
Sobre a ISA
A ISA Distrito 4 – www.isadistrito4.org.br – é coligada à “ISA – International Society of Automation”, principal organização mundial do setor de Automação Industrial, que reúne cerca de 30 mil membros em mais de 50 países. É o terceiro maior Distrito dentre os 14 que constituem a sociedade e suas atividades abrangem os países da América do Sul e Trinidad . O principal objetivo da ISA é desenvolver e estimular iniciativas relacionadas à Automação, Sistemas e Instrumentação, além de maximizar o valor dos profissionais da área, contribuindo para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de suas carreirras. A ISA oferece como principais serviços o Treinamento, a Capacitação Técnica e a Certificação dos Profissionais do segmento de Automação Industrial. Suas Normas, Padrões, Livros, Artigos e Recomendações são reconhecidos mundialmente e adotados pelas principais entidades normalizadoras e indústrias.