Depois de começar o ano bem, as maiores siderúrgicas do mundo perderam terreno no terceiro trimestre e expressaram cautela com o resto do ano, devido a expectativas de demanda desigual, queda dos preços e alta das matérias-primas.
Algumas siderúrgicas divulgaram prejuízo ontem, enquanto o lucro de outras caiu em relação ao segundo trimestre. E quase todas esperam que os últimos três meses do ano sejam mais difíceis, devido à queda da demanda nos mercados mais importantes, como a indústria automotiva e a construção civil.
“A confiança do consumidor se deteriorou”, disse o diretor-presidente da ArcelorMittal, Laskhmi Mittal, numa entrevista ao Wall Street Journal. “Temos visto várias medidas de austeridade.”
A demanda mais fraca levou a Arcelor — maior siderúrgica do mundo em produção — e alguns concorrentes a rescindir reajustes de preços, como um meio de reter participação de mercado. Isso diminuiu a capacidade das siderúrgicas de compensar a alta dos custos da matéria-prima, como o minério de ferro e o carvão, o que corroeu os lucros. A produção menor também está prejudicando os resultados.
A Arcelor, sediada em Luxemburgo, divulgou ontem alta de 48% no lucro do terceiro trimestre, para US$ 1,35 bilhão, comparado a US$ 910 milhões um ano antes. O faturamento subiu 30%, para US$ 21,04 bilhões. Mas o lucro caiu 21% em relação ao segundo trimestre, enquanto as vendas caíram 2,8%.
Mittal disse que seus clientes em potencial no mundo todo estão consumido os estoques em vez de comprar mais aço.
A Arcelor não foi a única siderúrgica cujos resultados pioraram frente ao segundo trimestre. A U.S. Steel Corp., sediada em Pittsburgh, diminuiu o prejuízo do terceiro trimestre para US$ 51 milhões, ante US$ 303 milhões um ano antes. Mas o prejuízo mais recente foi ainda mais profundo que a perda no segundo trimestre, de US$ 25 milhões. “Nossos três segmentos venderam e produziram menos, já que a atividade na maioria de nossos mercados desacelerou”, afirmou num comunicado o diretor-presidente, John Surma.
Enquanto isso, a também americana AK Steel divulgou prejuízo de US$ 59,2 milhões, ante lucro de US$ 6,2 milhões um ano atrás. O faturamento aumentou 51%, para US$ 1,58 bilhão. A empresa, sediada em West Chester, Pensilvânia, prevê prejuízo operacional no presente trimestre, devido a vendas e preços menores, e a alta no custo da matéria-prima.
No início do mês, a sul-coreana Posco, terceira maior siderúrgica do mundo, diminuiu a previsão de lucro anual em 7%, citando a alta da matéria-prima e exportações fracas.
E a americana Nucor Corp. informou semana passada que o resto do ano será um de seus períodos mais difíceis, por causa da pouca construção residencial e comercial. “Ficou dolorosamente claro agora que a economia americana entrou num novo período de incerteza nos últimos meses”, disse Daniel DiMicco, diretor-presidente da empresa, sediada em Charlotte, Carolina do Norte.
Espera-se que a Nippon Steel Corp. divulgue hoje resultados mais fracos que no segundo trimestre e alta nos custos.
O novo cenário representa uma mudança significativa em relação ao início do ano, quando os executivos das siderúrgicas divulgavam demanda crescente, especialmente por aço automotivo, assim como declínio nos estoques dos clientes e expansão na produção de aço. A visão na época era de que as economias mundiais estavam em recuperação e os mercados de aço podiam sustentar preços maiores.
Na época, Mittal disse que a Arcelor buscaria reajuste de 10% no mercado à vista, para tentar manter os resultados estáveis repassando os custos maiores da matéria-prima. Mas a empresa recuou porque os clientes não sabem qual será a demanda no futuro, e a Arcelor não queria perder clientes para concorrentes mais baratos.
“Já afirmamos que queremos reconquistar a fatia do mercado perdida em 2009”, disse Mittal. “Nesse processo, percebemos que os preços não iam subir.”
Mittal disse que suas usinas operaram a 71% da capacidade no terceiro trimestre, ante 78% no segundo. A redução não deve gerar demissões mas está prejudicando o lucro, já que as usinas ficam mais lucrativas quando operam a uma capacidade maior.
“O sul da Europa está lento e em mau estado. A construção caiu e o desemprego está alto. Nos EUA, prevemos que a demanda vai cair entre 2% e 3%”, disse Mittal.
A U.S. Steel também afirmou que a ocupação menor das fábricas, os preços reduzidos e o volume menor de pedidos refletem “a situação econômica incerta na América do Norte e Europa”.
Apesar da piora do cenário de curto prazo, as siderúrgicas acreditam que o mercado ficará mais estável em 2011. Mittal disse não esperar que a China aumente significativamente as exportações e inunde o mercado, o que pode aumentar a volatilidade nos preços. Ele também disse esperar que o preço da matéria-prima se estabilize ano que vem.
Autor: The Wall Street Journal