Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP demonstra a viabilidade de tratar o lixiviado, líquido produzido em aterros sanitários, em estações de tratamento de esgotos. O estudo da engenheira Miriam Moreira Bocchiglieri aponta que o tratamento conjunto pode trazer vantagens ambientais, desde que planejado e executado adequadamente, respeitando a capacidade das estações.
O trabalho procurou analisar experiências de tratamento do lixiviado de aterros sanitários (mais conhecido como chorume), em conjunto com o esgoto, em estações do sistema público no Estado de São Paulo. “O tratamento pode ser feito no próprio aterro de maneira integral ou parcial, ou em conjunto com os esgotos sanitários”, relata a pesquisadora. “Em muitos casos, entretanto, ele não é tratado, sendo usual a prática de recirculação do lixiviado pelas células do aterro”.
O estudo foi desenvolvido na Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) de Barueri, de grande porte. Também foram analisadas estações menores, em São Sebastião (ETE Boiçucanga), no litoral, e nos municípios de Tupã e Fernandópolis, no interior de São Paulo.
A estação de Barueri emprega o processo de tratamento por lodos ativados convencional. “A vazão elevada confere flexibilidade ao sistema pela diluição dos lixiviados com os esgotos sanitários”. Em Boiçucanga é usado o método de lodos ativados por batelada. A estação de Tupã emprega o sistema de lagoa aerada, enquanto Fernandópolis utiliza um processo natural, o chamado sistema australiano, composto por lagoa anaeróbia seguida de facultativa.
Capacidade
Todas as estações estudadas podem receber o lixiviado, mas é necessário estabelecer limites de recebimento. “Para dimensionar o potencial de recebimento, deve-se verificar a capacidade de suporte das estações, na fase líquida e na fase sólida, considerando a proteção aos sistemas biológicos de tratamento(aeróbios e anaeróbios) e o atendimento à legislação quanto ao efluente e lodo gerados nas estações”, observa Miriam.
Segundo a pesquisadora, dentro da tendência mundial de se tratar fontes de poluição “da porta para dentro”, o ideal seria tratar o lixiviado no próprio aterro. “Porém, em função das características específicas dos lixiviados, como a elevada carga orgânica, a flutuação de vazão em decorrência das chuvas, o tratamento “isolado” pode se tornar complexo e caro”, aponta a engenheira.
O tratamento conjunto, sob condições específicas, pode se configurar numa alternativa sanitária e ambientalmente segura, se os sistemas forem bem projetados, bem concebidos e bem operados, mediante critérios já conhecidos e consagrados tecnicamente. “Essa integração pode representar avanços importantes nas questões de desenvolvimento urbano e qualidade ambiental”, diz Miriam. ”Para sua viabilização é preciso haver o envolvimento das esferas competentes, nas quais têm início os processos de planejamento das cidades”.
O estudo recomenda que os municípios, ao implantarem aterros sanitários e estações de tratamento de esgotos, analisem a possibilidade de operação conjunta. A pesquisa de Miriam é descrita em tese de doutorado apresentada na FSP em maio deste ano. O trabalho teve a orientação do professor Wanderley da Silva Paganini.
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Autor: Agência USP