Pesquisadores da UFSCar substituem areia por cinza de cana-de-açúcar na produção de concreto

Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) conseguiu achar uma utilidade para as cinzas resultantes da queima do bagaço de cana: a produção de concreto, em substituição à areia. A produção consiste primeiramente em um processo de peneiramento, para retirar pedaços de bagaço de cana que não foram queimados, e depois em um processo de moagem, para o acerto granulométrico, de forma que os grãos da cinza fiquem com tamanho semelhante aos de areia. A primeira fase é dispensável quando a usina produtora de etanol utiliza fornos mais novos, que conseguem queimar o bagaço por completo.

Segundo Almir Sales, coordenador da pesquisa da UFSCar, numa mistura com uma substituição de areia por cinza de 30% a 50%, o concreto ganha até 17% mais resistência. Com isso, a quantidade de cimento presente no concreto poderia diminuir, mantendo a mesma resistência.

Essa substituição é possível devido às características granulométricas da cinza, que são semelhantes à da areia natural, com uma porção cristalina e alto teor de sílica. Com uma possível troca de materiais, a retirada de areia dos leitos dos rios, que vem sendo dificultada por questões ambientais, poderia diminuir significativamente. Algumas licenças para extração já estão sendo cassadas, o que diminui a oferta do agregado no mercado, elevando seu preço. “A vantagem se deve às propriedades de compactação e empacotamento dos grãos de cinzas que, por serem mais uniformes, têm preenchimento melhor do que os de areia natural”, afirma Sales.

Os pesquisadores estão na etapa de testar a durabilidade do concreto, que deve ser parecida com a do concreto normal. Esta etapa está sendo feita em uma câmara que acelera o intemperismo por 12 meses. “Os resultados preliminares são animadores”, garante Sales. Logo após, será feita uma avaliação sobre os impactos sobre o meio ambiente. O pesquisador estima que o estudo esteja finalizado até maio de 2011.

O objetivo da equipe é introduzir a inovação no mercado da construção civil por meio das prefeituras. A ideia é estimular primeiramente o uso do concreto de cinzas na infraestrutura urbana, na construção de sarjetas, meio-fios e bocas de lobo, por exemplo, para depois conseguir investimentos de empresas privadas.

Sales estima que, se o concreto realmente for ao mercado, deverá ser 10% a 12% mais barato, devido ao baixo custo da cinza da cana-de-açúcar e à diminuição do volume de cimento no concreto.

O grupo vem tentando, há 10 anos, substituir os agregados do concreto. Em um primeiro projeto, Sales descobriu um composto que pode substituir a pedra britada no concreto. Trata-se de um agregado artificial feito com serragem de madeira e lodo de estações de tratamento de água. A substituição da pedra por esse composto deixou o concreto 30% mais leve e com condutividade térmica mais baixa. 

Equipe de pesquisadores:
Almir Sales – Professor do Departamento de Engenharia Civil da UFSCar – pesquisador CNPq
Sofia de Araújo Lima – Doutoranda bolsista FAPESP
Fernando do Couto Rosa Almeida – Iniciação Científica bolsista FAPESP Juliana Petermann Moretti – Iniciação Científica bolsista FAPESP
Tiago José dos Santos – Iniciação Científica bolsista CNPq/PIBITI
Sérgio Gustavo Ferreira Cordeiro – Iniciação Científica bolsista CNPq/PIBIC
Bruno Souza Cerralio – Iniciação Científica bolsista CNPq/PIBITI
Murilo Giatti Furquim Pereira – Iniciação Científica bolsista CNPq

Autor: PiniWeb