Um grupo de notáveis, reunidos desde o início do ano na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC), propôs à pasta um plano de intervenção nos cursos de engenharia do País. Alvo de críticas severas da indústria, os cursos são considerados inadequados para as necessidades da sociedade do século 21. E pouco atraentes para os estudantes, o que agrava a já crônica falta de engenheiros no País.
A proposta, ainda preliminar, implica em um investimento de R$ 300 milhões aplicado ao longo de cinco anos e que deverá sair do orçamento da União.
Segundo o diretor de Educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Luiz Edmundo Rosa, os cursos de engenharia não formam profissionais com capacidade para atender as demandas modernas. “Dão um peso muito grande para as disciplinas básicas. Esse quadro, aliado ao despreparo dos alunos nas disciplinas de matemática, física, química e ciências, cria uma grande barreira.”
Segundo Rosa, 70% dos vestibulandos escolhem carreiras da área de ciências humanas, notadamente direito e administração.”As carreiras técnicas,de engenharia e química principalmente, foram sistematicamente desvalorizadas nos últimos anos, em favor da área de finanças, devido ao modelo econômico adotado no País, que não dava prioridade a investimentos em infraestrutura”, afirma.
O objetivo principal do Plano Nacional Pró-Engenharia, proposto por esse grupo de trabalho da Capes para ter resultados no curto prazo, é reduzir a elevada evasão registrada nos cursos da área – 60% em média, considerando instituições públicas e privadas, segundo o professor Sandoval Carneiro Júnior, coordenador do grupo. “Em algumas universidades privadas, chega a 80%”, acrescenta Rosa.
Segundo Carneiro, as cerca de 500 faculdades de engenharia que estão em funcionamento no Brasil ofereceram, em 2007, 198 mil vagas, disputadas por 450 mil estudantes. “Mas apenas 115 mil foram preenchidas”, ressalta. Caso essa turma repita o roteiro das antecedentes, apenas 32 mil irão se formar.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a demanda anual por engenheiros é superior a 60 mil profissionais. Considerando o cenário atual, sem contar as demandas do pré-sal, Olimpíadas e Copa do Mundo, até 2012 o déficit chega a 150 mil engenheiros.
Bolsas de estudo
Entre as medidas propostas está o financiamento não reembolsável pelo MEC nas Instituições de Ensino Superior(IES) em cursos de graduação de bom nível de engenharia. Serão distribuídas bolsas de estudos e também haverá negociação da participação do setor empresarial, por meio de parcerias público-privadas (PPPs).
Para ter acesso aos recursos, a escola deve ter obtido conceito igual ou superior a quatro no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes(Enade) e ter 50% do seu quadro de professores em regime de tempo integral com título de mestre ou doutor. Os alunos beneficiados devem ter renda familiar inferior a dez salários mínimos.
Esse investimento nas boas escolas se explica pela excelência dos cursos. Segundo Marcos Formiga, um dos notáveis que integram o grupo de trabalho da Capes e coordenador do grupo gestor do INova Engenharia, um programa mantido pela indústria para fomentar a inovação tecnológica, elas somam 10% dos cursos em funcionamento.
“Os alunos destes cursos são empregados pela indústria antes mesmo de se formarem. O problema são os outros 90%”, diz.
O plano prevê um sistema de monitoramento das IES que receberem apoio. O acompanhamento seria por meio de uma comissão tripartite, com representantes da escola, indústria e governo, avaliações bianuais, por meio do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), e acompanhamento contínuo, pelas IES, dos seus egressos (o que fazem, onde atuam, atribuições, rendimentos).
Autor: O Estado de S. Paulo